Origem: Livro: A EPÍSTOLA DE PAULO AOS ROMANOS

Libertação da Pena de Pecados – Cap. 3:21-5:11

Paulo começa esta subdivisão da epístola com: “Mas agora…”. Esta é uma expressão fundamental que indica que ele está agora se voltando para algo em contraste com o que vinha falando. Ele vinha nos dando as más notícias sobre a raça humana; agora ele vai apresentar as boas notícias que Deus tem para o homem caído. Portanto, a revelação das bênçãos do evangelho começa aqui no capítulo 3:21. Deste versículo até o capítulo 5:11, Paulo explica como Deus em justiça pode salvar os pecadores que creem em Seu Filho, por meio de Sua obra de justificação e reconciliação.

A JUSTIÇA DE DEUS – Capítulo 3:21-31 

Capítulo 3:21 – Ele diz: “Mas agora se manifestou sem [separada da] a Lei a justiça de Deus”. Nesta declaração, Paulo nos leva à cruz de Cristo. A justiça de Deus foi ali “manifestada” em sua perfeição para todos verem. (No grego, esta frase está em um tempo verbal que indica que a manifestação da justiça de Deus é algo que ocorreu e agora permanece como um testemunho para todos contemplarem). A manifestação da justiça de Deus não é algo que Ele faz nas pessoas para fazê-las entender e crer no evangelho. (Essa é uma obra diferente de Deus produzida pelo poder vivificador do Espírito, que os que ensinam sobe a Bíblia chamam de “iluminação”.) Em vez disso, a manifestação da justiça de Deus aponta para algo que Deus fez na cruz e o tornou conhecido por meio do evangelho para todos entenderem e crerem. Se as pessoas olhassem para a cruz de Cristo com o entendimento que a fé dá, elas veriam a justiça de Deus manifestada em sua perfeição.

Como mencionado em nossos comentários no capítulo 1:17, “a justiça de Deus” tem a ver com a maneira pela qual Deus é capaz de salvar os pecadores sem comprometer o que Ele é em Si mesmo como um Deus santo e justo. O fato de que Paulo diz que essa justiça é “de Deus” mostra que Deus é a fonte dela. Ele criou o plano de salvação para o homem.

A necessidade da justiça de Deus é grande. O pecado do homem criou um dilema. Sendo que Deus é um Deus de amor, Sua própria natureza requer a bênção do homem, porque Ele ama todos os homens. Mas, sendo um Deus santo, Sua natureza santa justamente exige que o homem seja punido por seus pecados (Sl 89:14; Hb 2:2). Se Deus agisse de acordo com o Seu coração de amor e trouxesse homens para a bênção sem julgar seus pecados, seria à custa de Sua santidade, e assim Ele deixaria de ser justo. Ele não pode fazer isso e ainda ser justo. Por outro lado, se Deus agisse apenas de acordo com Sua natureza santa e julgasse homens de acordo com as reivindicações da justiça divina, todos os homens seriam com justiça enviados para o inferno – mas o amor de Deus nunca seria conhecido. Como então Deus pode salvar os homens e ao mesmo tempo permanecer justo? É aqui que o evangelho surge tão ternamente. Declara a justiça de Deus e anuncia as boas-novas de que Ele encontrou uma maneira de satisfazer Suas santas reivindicações contra o pecado e, ao mesmo tempo, alcançar em amor para salvar os pecadores que creem.

Tudo isso é por causa do que Ele fez na cruz de Cristo; foi lá que Deus assumiu toda a questão do pecado e a resolveu para a Sua própria glória e para a bênção do homem. Ele enviou Seu Filho para ser o Emissário do pecado, e em Sua morte sacrificial, Deus julgou o pecado de acordo com as exigências de Sua santidade. Na cruz, o Senhor Jesus tomou o lugar do crente diante de Deus e carregou o juízo dos pecados em Seu “corpo sobre o madeiro” (1 Pe 2:24). Sua obra “consumada” na cruz (Jo 19:30) rendeu uma satisfação completa às reivindicações da justiça divina e pagou o preço pelos pecados do crente, e também por toda a contaminação do pecado na criação (Hb 2:9 – “para que provasse a morte por todas as coisas” – JND). Mais do que isso, na cruz, o amor de Deus foi exibido da melhor forma, pois Ele deu Seu Filho unigênito como Emissário do pecado. Com a questão do pecado totalmente resolvida, Deus veio aos homens com as boas-novas de que Ele pode – em uma base justa – redimir, perdoar, justificar e reconciliar o pecador que crê. Assim, o evangelho apresenta Deus como sendo “Justo e Justificador daquele que tem fé em Jesus” (cap. 3:26). Nada funcionará melhor para a paz do crente do que aprender que Deus o salvou e que Ele fez isso com justiça.

É interessante notar que, ao apresentar o evangelho nesta passagem em Romanos, Paulo não começa com o amor de Deus, mas sim com a justiça de Deus. Isto é porque as reivindicações de Deus contra o pecado devem ser satisfeitas primeiro, antes que o amor de Deus possa ser proclamado ao homem.

A perfeita justiça de Deus
É testemunhada no sangue do Salvador;
É na cruz de Cristo que encontramos
Sua justiça, contudo graça maravilhosa.

Deus não poderia deixar passar o pecador,
Seu pecado exige que morra;
Mas na cruz de Cristo vemos
Como Deus pode salvar, ainda que seja justo.

O pecado pousa na cabeça de Jesus
É no Seu sangue que a dívida do pecado é paga;
Justiça severa não pode exigir mais,
E a misericórdia pode entregar sua provisão.

Hinário The Little. Flock. nº 67 Ap.

Paulo também diz que a justiça de Deus é “separada da Lei”. A Lei mosaica, como sabemos, é um sistema baseado em obras que recompensa o homem por fazer o que é certo (Lc 10:28) e condena o homem por fazer o que é errado (Tg 2:10). Ao declarar que a justiça de Deus é “sem” Lei, Paulo estava indicando que essa bênção que Deus tem para o homem lhe é assegurada em um princípio completamente diferente daquele que dependia do seu comportamento. A justiça de Deus, portanto, não é o que o homem pode fazer para se salvar; é sobre o que Deus já fez. Assim, a justiça de Deus não é Deus exigindo algo do homem (como a Lei faz), nem é o homem agindo por Deus (como as religiões feitas pelo homem tentam fazer), mas sim, é Deus agindo para o homem em amor e graça para salvar os pecadores, mas, ao mesmo tempo, não comprometendo o que Ele é como um Deus santo e justo.

Paulo também acrescenta: “tendo o testemunho da Lei e dos profetas”. Isso significa que a justiça de Deus em prover salvação para os homens foi predita em tipos e sombras da Lei, e também foi anunciada pelos profetas de Israel (ver capítulo 1:2). Existem várias referências a essas coisas no Velho Testamento. Por exemplo, no Dia da Expiação (Levítico 16), o sumo sacerdote colocava sangue de uma vítima “sobre o propiciatório”, apontando em tipo para a obra de Cristo satisfazendo as reivindicações de Deus contra o pecado. Ele também colocava um pouco do mesmo sangue no chão “diante do propiciatório”, apontando também em tipo para a obra de Cristo assegurando a base da redenção na qual o crente repousa. Outro exemplo é encontrado no Salmo 85:10. Ele diz: “A misericórdia e a verdade se encontraram: a justiça e a paz se beijaram”. Esta é uma referência à obra consumada de Cristo, atendendo às santas reivindicações de Deus contra o pecado e abrindo caminho para que Deus alcance em amor aos pecadores.

A Justiça de DeusNãoé Algo Transmitido, Derramado, Transferido ou Comunicado aos Crentes 

Algumas traduções modernas afirmam: “uma justiça que provém de Deus” (Rm 1:17, 3:21, 10:3 – NVI) ou “a justiça que procede de Deus” (Fp 3:9 – NVI), mas estas não são as melhores traduções. Em primeiro lugar, “uma justiça” induz ao erro. Isso soa como se Deus tivesse muitas diferentes justiças à mão e simplesmente escolheu uma para o crente. Sobre esse erro, J. N. Darby observou: “Uma justiça de Deus, já notei, é como se houvesse várias… ora isso muda todo o sentido da passagem” (Collected Writings, vol. 33, pág. 86).

Em segundo lugar, traduzir como “que provém de Deus” ou “que procede de Deus” transmite o pensamento de que a justiça de Deus é algo que é transmitido ao crente ou colocado sobre ele. Isto, no entanto, não é verdade, porque se Deus deu a Sua justiça para nós, que é o que essa frase sugere, então Ele não a teria mais! Em relação a essa ideia equivocada, W. Scott disse: “Deus não pode conceder aquilo que é essencial para Si mesmo” (Unscriptural Phraseology, pág. 10). Ele também disse: “Não é a colocação de uma quantidade de justiça em um homem” (Doctrinal Summaries, pág. 15). Sobre isso, J. N. Darby comentou: “Um homem sendo justo é sua posição aos olhos de Deus, não uma quantidade de justiça transferida para ele” (Collected Writings, vol. 23, pág. 254). F. B. Hole disse: “Não devemos ler essas palavras [‘justiça de Deus’] com uma ideia comercial em nossas mentes, como se elas significassem que nós viemos a Deus trazendo um tanto de fé pela qual recebemos em troca um tanto de justiça, assim como um lojista do outro lado do balcão troca bens por dinheiro” (Outlines of Truth, pág. 5). Deus deu a justiça (Rm 5:17) no sentido de tê-la assegurado para a humanidade em Cristo ressuscitado e glorificado. Assim, Cristo nos foi feito justiça (1 Co 1:30), e Ele é a nossa justiça (2 Co 5.21; compare Jeremias 23:6, 33:16).

A Justiça de Cristo – Uma Expressão Não Bíblica 

“A justiça de Cristo” é outro termo que é frequentemente usado por Cristãos, mas essa expressão não é encontrada nas Escrituras. Muitos o usam em referência à perfeita vida de obediência de Cristo, e imaginam que isso foi imputado à conta do crente como justiça. Certamente é verdade que a vida de Cristo na Terra foi perfeita – Ele era santo e justo em todos os Seus pensamentos, palavras e ações – mas Sua vida perfeita não foi vigária (substitutiva). As escrituras não ensinam que os méritos da vida perfeita de Cristo são imputados ao crente como justiça. É o que Cristo realizou em Sua morte – não em Sua vida – que tornou possível a Deus salvar as pessoas que creem. É isso que anunciamos no evangelho. Se a vida justa de Cristo pudesse ser imputada ao crente como justiça, e o crente pudesse assim ser salvo e abençoado por Sua vida, por que Deus quereria Cristo passando pela agonia da cruz com todo os sofrimentos dela?

Fé em Jesus Cristo 

Cap. 3:22-23 – Paulo passa a falar sobre os meios pelos quais chegamos ao bem do que a justiça de Deus assegurou. É “pela fé em Jesus Cristo” (Tradução W. Kelly). Simplificando, o que a justiça de Deus assegurou ao homem (isto é, a salvação de nossas almas) é apropriada por uma pessoa que tem fé no Senhor Jesus Cristo. Este é o meio simples pelo qual as pessoas são salvas. Paulo insistiu nisso por todo lugar onde passou pregando o evangelho. Para serem salvos, os homens precisam “da conversão a Deus, e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20:21, 16:31).

O desejo de Deus para todos os homens é que eles se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (1 Tm 2:4). Portanto, o que foi assegurado na cruz pela justiça de Deus é “para todos e sobre todos os que creem”. (A maioria das traduções modernas omitem a frase “e sobre todos”, mas o Sr. Kelly explicou detalhadamente que a frase deveria estar no texto, como a KJV e a Tradução J. N. Darby indicam. (Veja Bible Treasure, vol. 6, págs. 376, vol. 13, pág. 350, vol. 16, 277-278, vol. N3, págs. 264-265, vol. N6, pág. 264, Notes on the Epistle to the Romans, pág. 43-44.) Essa boa notícia é “para todos” porque todos os homens precisam da salvação de Deus, mas é apenas “sobre todos” os que creem.

Nenhuma Diferença 

Paulo acrescenta: “Porque não há diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão [estão aquém – KJV]da glória de Deus”. Quando se trata da necessidade universal do homem, “não há diferença” – todos os homens precisam ser salvos. As pessoas se opõem a esta afirmação porque veem uma diferença objetiva entre os homens, no que diz respeito aos erros que cometeram; alguns claramente viveram mais pecaminosamente do que outros. Aqueles que pecaram menos não gostam de ser classificados com aqueles que pecaram mais, porque sentem que são melhores. Eles dirão: “Eu não sou tão mau quanto aquele assassino, etc.”. No entanto, não é isso o que Paulo está ensinando aqui. Ele admite plenamente que há uma diferença entre os pecadores e estabeleceu esse fato nos capítulos 1:18-3:20. O “não há diferença” de que Paulo está falando neste versículo é em relação aos homens que estão aquém da glória de Deus e dos padrões de santidade de Deus. Sem exceção, todos estão aquém. “Não há diferença”todos estão perdidos e todos estão se dirigindo para a eternidade no inferno, onde pagarão a pena pelos pecados que cometeram – se não aceitarem a Cristo como seu Salvador.

O Sr. Albert Hayhoe costumava ilustrar isso nos pedindo para imaginarmos uma competição de natação ocorrendo no lado oeste da ilha de Vancouver. Do outro lado do Oceano Pacífico estava o objetivo – o Japão. Na beira da água ouvimos homens conversando. Um homem diz: “Eu posso nadar 20 quilômetros!” Outro homem diz: “Eu posso nadar 10 quilômetros!” Um terceiro homem diz: “Eu posso nadar um quilômetro”. Um quarto diz que ele não pode nadar nada. Se todos eles pulassem na água e rumassem ao Japão, “não haveria diferença” entre os competidores, todos fracassariam e ficariam aquém do destino. Da mesma forma, mesmo que alguns homens sejam piores pecadores que outros, não há diferença entre eles, pois todos ficaram aquém da glória de Deus.

Justificado e Redimido em Cristo Jesus 

Cap. 3:24 – Visto que o grande desejo de Deus é que os homens sejam salvos do juízo de seus pecados (1 Tm 2:4), Paulo continua falando da grande libertação que Deus concede àqueles que creem no Senhor Jesus Cristo. Ele diz que eles são “justificados gratuitamente pela Sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”. Esta declaração envolve a nova posição e condição do crente; somos justificados e redimidos em Cristo Jesus.

Justificação 

“Justificado” significa que o crente foi inocentado de toda acusação de pecado que havia contra ele ao ser levado a uma nova posição diante de Deus, pela qual não é mais visto por Deus como um pecador. É um ato de Deus pelo qual um pecador ímpio é considerado justo na mente de Deus. Assim, a posição legal da pessoa no céu é alterada, e ele é “feito” justo diante de Deus (cap. 5:19).

Duas Partes para Justificação 

Existem duas partes para a justificação: um lado negativo e um lado positivo.

  • O lado negativo tem a ver com ser absolvido “de tudo” – ou seja, das acusações de pecado contra nós (At 13:39).
  • O lado positivo tem a ver com o crente estando em uma posição inteiramente nova diante de Deus em Cristo, onde nenhuma outra acusação pode ser trazida contra ele (Gl 2:17 – “justificados em Cristo”). H. E. Hayhoe observou: “A justificação no Cristianismo sempre leva o crente a uma nova posição diante de Deus. O crente é justificado como estando ‘em Cristo’ diante de Deus” (Present Truth for Christians, pág. 22). O crente não apenas está em uma nova posição diante de Deus, ele está lá com uma vida inteiramente nova e está em uma condição inteiramente nova que é sem pecado. Isso é chamado de “justificação de vida” (Rm 5:18).

Justificar os pecadores é algo que somente Deus pode fazer. A Lei pode justificar os justos (1 Rs 8:32), mas como não há nenhum justo, a Lei nunca justificou ninguém. Mas o evangelho declara que Deus, em perfeita justiça, pode justificar os ímpios que creem em Jesus (cap. 4:5).

Alguns dirão que justificado significa “como se eu nunca tivesse pecado”. Mas esta definição está longe da verdade da justificação. Colocar os homens em uma posição onde eles nunca pecaram seria colocá-los de volta no terreno da inocência, igual àquela em que Adão estava no Jardim do Éden. Adão caiu naquele terreno, e nós poderíamos também cair, se fôssemos colocados lá! A justificação nos coloca em um lugar muito mais alto do que o da inocência. Por isso estamos em uma nova posição diante de Deus “em Cristo” (Gl 2:17) com uma vida inteiramente nova que é sem pecado, nem pode pecar. Não podemos cair deste lugar!

Oito Expressões Que Denotam os Diferentes Aspectos de Justificação 

  1. Justificado pela graça – a fonte (Rm 3:24).
  2. Justificado pela – os meios de apropriação (Rm 3:28).
  3. Justificado pelo sangue – o preço (Rm 5:9).
  4. Justificação da vida – uma nova condição (Rm 5:18).
  5. Justificado do pecado – uma exoneração do velho senhor (Rm 6:7).
  6. Justificado por Deus – Aquele que faz o acerto de contas (Rm 8:33).
  7. Justificado em Cristo – a nova posição de aceitação (Gl 2:17).
  8. Justificado pelas obras – a evidência manifestada na vida do crente sendo considerado justo diante de Deus (Tg 2:21, 24).

Redenção 

Paulo disse que somos justificados “pela redenção que há em Cristo Jesus” (v. 24). Assim, o crente também é redimido. Redenção significa ser “comprado e libertado”. O crente é libertado do pecado, do juízo, do cativeiro de Satanás e do mundo. O propósito da redenção é libertar o crente para que ele possa fazer a vontade de Deus – na adoração e no serviço. Isto é ilustrado nas Escrituras nas palavras do Senhor a Faraó por meio de Moisés: “Deixa ir o Meu povo, para que Me sirva” (Êx 8:1). Como regra geral, a redenção é sempre “de” ou “para fora de” alguma coisa adversa que manteve as pessoas em cativeiro, porque a ênfase na redenção está em ser “libertado” (Êx 15:13; Sl 25:22, 49:15, 130:8; Jr 15:21; Mq 4:10; Rm 8:23; Gl 3:13; Tt 2:14). (Na KJV, Apocalipse 5:9 diz: “Nos redimiu para Deus, mas redimido não é a palavra certa lá, deve ser traduzido, “Nos compraste para Deus).

Quatro Aspectos da Redenção 

A Bíblia fala de redenção em relação aos Cristãos em pelo menos quatro maneiras diferentes. Elas são:

  • A redenção de nossas almas. Isso ocorre quando recebemos Cristo como nosso Salvador (Rm 3:24; Ef 1:7; Cl 1:14; Tt 2:13-14; Hb 9:12; 1 Pe 1:18).
  • A redenção do nosso tempo. Isso deve continuar durante toda a nossa vida como uma questão de exercício Cristão (Ef 5:15-16; Cl 4:5).
  • A redenção de nossos corpos. Isso ocorrerá no Arrebatamento quando seremos glorificados (Rm 8:23; Ef 4:30; 1 Co 15:51-57).
  • A redenção da nossa herança. Isto ocorrerá no Aparecimento de Cristo por meio dos Seus juízos sendo derramados na Terra (Ef 1:14).

“Em Cristo Jesus” 

Finalmente, a justificação e a redenção do crente são ditas como “em Cristo Jesus”(v. 24). Como mencionado na introdução (cap. 1:1-17), quando Paulo usa o termo “Cristo Jesus” – o título do Senhor (Cristo) antes de Seu nome de humanidade (Jesus) – ele se refere a Ele como ressuscitado, elevado e sentado à direita de Deus como um Homem glorificado. Por isso, essas grandes bênçãos anunciadas no evangelho são asseguradas para nós no “Homem Cristo Jesus”(JND) à direita de Deus (1 Tm 2:5). De fato, todas as nossas distintas bênçãos Cristãs são ditas “em Cristo”. Observe as citações das Escrituras na Tradução de J. N. Darby na seguinte lista de bênçãos.

  • Redenção em Cristo Jesus (Rm 3:24).
  • Perdão dos pecados em Cristo – uma consciência purificada (Rm 4:7; Ef 4:32; Hb 9:14).
  • Justificação em Cristo Jesus (Rm 4:25-5:1; Gl 2:16-17).
  • O dom do Espírito em Cristo – ungido, selado e dado o penhor do Espírito (Rm 5:5; 2 Co 1:21-22; Ef 1:13).
  • Reconciliação em Cristo Jesus – “aproximados” (Rm 5:10 – ARA; Ef 2:13; Cl 1:21).
  • Santificação em Cristo Jesus (Rm 6:19; 1 Co 1:2).
  • Vida Eterna em Cristo Jesus (Rm 6:23; 2 Tm 1:1).
  • Libertação (salvação) em Cristo Jesus (Rm 8:1-2).
  • Filiação em Cristo Jesus (Rm 8:14-15; Gl 3:26, 4:5-7).
  • Herdeiro da herança em Cristo (Rm 8:17; Ef 1:10-11; Gl 3:29).
  • Membros da nova raça da criação em Cristo Jesus (Rm 8:29; Gl 6:15; 2 Co 5:17).
  • Membros do “um corpo” em Cristo (Rm 12:5; 1 Co 12:12-13).

A posição do crente sendo “em Cristo” não é considerada até a próxima seção da epístola (cap. 6:11, 8:1), embora seja introduzida aqui no capítulo 3:24.

Paulo acrescenta que essas coisas são dadas ao crente “gratuitamente pela Sua graça” (v. 24). A graça é o favor imerecido de Deus. Portanto, não há nada que o crente tenha de fazer para receber essas bênçãos. Elas são um dom gratuito de Deus e são nossas no momento em que cremos no evangelho e recebemos o Senhor Jesus Cristo como nosso Salvador.

A Justiça de Deus em Conexão com Pecados Cometidos Antes e Depois da Cruz 

Cap. 3:25-26 – Alguns se perguntaram como os pecados dos crentes que viveram muito antes do tempo de Cristo poderiam ter sido tratados pela Sua morte na cruz, uma vez que eles já tinham saído da cena? E também, como Cristo poderia levar os pecados dos crentes que ainda não eram nascidos? Seus pecados não tinham sequer sido cometidos quando Cristo morreu! Antecipando essas questões, Paulo prossegue nos próximos versículos para explicar como a obra de Cristo na cruz cuidou dos pecados dos crentes de uma vez por todas, independentemente de quando eles viveram. Por meio de dois atributos de Deus – Sua paciência e Sua presciência (caps. 3:25, 8:29) – Deus tem sido capaz de tratar com justiça os pecados dos crentes que viveram antes e depois da cruz, por meio do que Cristo realizou na Cruz.

Paulo diz: “Ao Qual Deus propôs para propiciação pela fé no Seu sangue, para demonstrar a Sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da Sua justiça neste tempo presente, para que Ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus”. Como observado pelo sublinhado, duas vezes nesta passagem Paulo diz: “Para demonstração da Sua justiça”. Uma vez em conexão com os crentes que viveram antes da morte de Cristo, e outra vez em conexão com os crentes que viveram depois da morte Cristo.

  • Para demonstrar a Sua justiça pela remissão dos pecados dantes [da cruz] cometidos” (v. 25).
  • Para demonstração da Sua justiça neste tempo presente que é depois da cruz (v. 26).

Propiciação 

Em ambos os casos, a justiça de Deus foi demonstrada no único ato de Cristo de “propiciação”. Propiciação (Rm 3:25; Hb 2:17; 1 Jo 2:2; 4:10) refere-se à parte da obra de Cristo na cruz, que satisfez plenamente as reivindicações da justiça divina com respeito ao pecado. É a parte de Deus na obra de Cristo e, por meio dela, a natureza santa de Deus exigiu o que lhe era devido em relação aos nossos pecados e a toda a propagação do pecado na criação em geral. A obra consumada de Cristo inclui Seus sofrimentos expiatórios, Sua morte e Seu sangue derramado. Essas três coisas são distinguidas nas Escrituras, mas nunca inteiramente separadas umas das outras. Assim, elas devem sempre ser vistas como uma só obra. estudantes da Bíblia caíram em erro ao separar essas coisas umas das outras.

J. N. Darby afirma em sua nota de rodapé no versículo 25 que a palavra traduzida como “propiciação” na KJV também poderia ser traduzida como “propiciatório”. O argumento de Paulo aqui é que Deus estabeleceu Cristo como o propiciatório no testemunho do evangelho. Podemos nos perguntar o que isso significa, mas é bem simples. O propiciatório no sistema de sacrifício do Velho Testamento era o lugar onde Deus Se encontrava com Seu povo com base no sangue de uma vítima – um sacrifício (Êx 25:22 – “ali te encontrarei” (JND); Lv 16:14). Isso ilustra (em tipo) o que anunciamos no testemunho do evangelho. Cristo estabelecido como o “propiciatório” no evangelho é o anúncio de que Deus é agora capaz Se encontrar como pecador e abençoá-lo pelos méritos do sacrifício de Cristo. Este é o grande resultado da propiciação ter sido feita. Cristo não poderia ser estabelecido como tal até que Sua obra na cruz fosse consumada. Mas agora, uma vez que Deus triunfou no que Cristo realizou, Cristo (com Sua obra consumada) é o divino lugar de reunião para que todos no mundo venham e sejam salvos. Alguns pregadores dizem: “Deus encontrará o pecador na cruz”. Mais precisamente, Ele encontra o pecador (que tem fé) em Cristo no alto como o Propiciatório. Cristo não está na cruz hoje; portanto, o pecador que deseja ser salvo não vem a um Salvador que está morrendo numa cruz, mas a um Salvador ressuscitado no alto em glória. Ele está lá hoje como um Objeto de testemunho para que todos possam crer. De acordo com isso, os apóstolos pregaram a Cristo como Salvador ressurreto em todo o livro de Atos (At 4:10-12, 5:29-32, 10:38-43, 13:22-39, 16:31).

Paulo acrescenta: “pela fé no Seu sangue”. O sangue de Cristo é o símbolo da obra consumada de Cristo (Jo 19:30, 34). Ter fé em Seu sangue, portanto, significa que temos fé no que Ele realizou em Sua morte sacrificial. O pecador que vem a Cristo para a salvação deve crer que o que Cristo realizou em Sua morte foi pessoalmente para ele.

Paciência 

Cristo levando os pecados dos crentes que viveram em tempos antes da cruz só poderia ser possível por meio da “paciência de Deus”. A paciência tem a ver com Deus conhecer e registrar os pecados, mas não exigir um pagamento por eles imediatamente após serem cometidos. Por meio de Sua paciência, Deus reteve ou suspendeu o julgamento dos pecados daqueles que creram antes de Cristo vir para pagar o preço por eles. (Essas pessoas não tiveram conhecimento sobre como, quando ou onde o Salvador viria para pagar o preço de seus pecados, o que foi trazido à luz pelo evangelho.) Esse “passar por sobre os pecados”(JND) não poderia continuar indefinidamente; esses pecados tinham de ser tratados com justiça em algum momento – e foi isso que aconteceu na cruz. Se Deus nunca tratasse com eles, Ele provaria ser injusto, pois todo pecado e desobediência deve receber sua “justa retribuição” (Hb 2:2). Por isso, Sua paciência estava em exercício em conexão com os pecados de todos os que tiveram fé antes da morte de Cristo. Quando eles morreram, foram para o céu sob uma base de crédito, por assim dizer. O juízo de seus pecados seria armazenado por Deus até que Cristo viesse como o Emissário do pecado, e então o juízo seria derramado sobre Ele. A fé daqueles que viveram antes da época de Cristo seria contada como justiça, como foi testemunhado no caso de Abraão no capítulo 4. Quando Abraão morreu foi para o céu (Lc 16:23), apesar de Cristo, na verdade, ainda não ter pago pelos pecados dele. Assim, por meio da paciência divina, houve o “passar por sobre os pecados” por aproximadamente 4.000 anos da história do homem, até a cruz, quando foram tratados com justiça e tirados para sempre.

Há um tipo disso no Velho Testamento. Em Josué 3:14-17, os filhos de Israel atravessaram o rio Jordão e entraram na terra de Canaã. No momento em que os pés dos sacerdotes que levavam “a arca de Deus” (um tipo de Cristo) pisaram na borda do rio, um milagre ocorreu. As águas do Jordão (que falam do juízo que foi derramado sobre Cristo na cruz) que vinham rio acima, “levantaram-se num montão” e foram detidas por todo o seu curso de volta até à “cidade de Adão” (ARF) – que ficava situada no rio cerca de 30 quilômetros ao norte. Isso tipifica a eficácia da obra de Cristo no Calvário, sendo capaz de cuidar dos pecados de todos que tiveram fé por todo o curso de volta até Adão, o primeiro pecador.

A “paciência de Deus” também é ilustrada em tipo no Dia da Expiação (Lv 16). A cada ano, o sangue da vítima era colocado no propiciatório, e Deus exercitava Sua paciência em relação aos pecados de Israel por mais um ano. Na epístola aos Hebreus, Paulo explica que já que o processo tinha de ser repetido ano a ano (Hb 9:7), mostrava que aqueles pecados ainda estavam em recordação diante de Deus, e que os sacrifícios no Dia da Expiação não tinham tirado esses pecados. Eles foram cobertos (o significado de expiação na língua hebraica) por mais um ano por aqueles sacrifícios, mas eles não tinham sido tirados. Em Hebreus 10, Paulo prossegue explicando que quando Cristo veio Sua única oferta pelos pecados foi suficiente para “tirar” os pecados dos crentes, de uma vez por todas (Hb 10:1-17; 1 Jo 3:5).

O capítulo 3:25 da versão King James é um pouco enganoso. Diz: “pecados que são do passado”. Isso levou alguns a pensarem que Paulo estava se referindo aos pecados que os Cristãos cometeram em suas vidas antes de se converterem. Mas, como mostramos, não é disso que Paulo estava falando. A nota de rodapé da Tradução de J. N. Darby declara: “Deus passou por sobre os pecados, e não os trouxe a julgamento, dos crentes do Velho Testamento”. Assim, foram os pecados das pessoas que viviam no “passado” [dantes] – isto é, nos tempos do Velho Testamento.

Além disso, a versão King James diz: “a remissão dos pecados”, mas esta frase deveria ser traduzida como “o passar por sobre os pecados”. Remissão de pecados é o perdão dos pecados, e é frequentemente traduzida como tal (Lc 24:47; At 5:31, 13:38, 26:18; Ef 1:7). Conforme anunciado no evangelho, envolve a alma sabendo em sua consciência que seus pecados são eternamente perdoados, e tem a ver com o crente tendo uma consciência purificada (Hb 9:14, 10:1-17). Este aspecto eterno do perdão dos pecados, que os Cristãos têm, é algo que os santos do Velho Testamento não tinham. Seus pecados foram tratados na cruz, e os santos estão no céu agora, mas não tinham o conhecimento consciente disso em suas vidas. Não há precisão, portanto, em traduzir-se a passagem como “a remissão de pecados”. Os crentes do Velho Testamento só conheciam o perdão governamental de Deus, que tem a ver com Deus perdoar (e não punir) uma pessoa pelos seus erros enquanto vive na Terra, porque a pessoa está arrependida (Lv 4; Sl 32, etc.). O perdão oferecido pelo Senhor em Seu ministério terreno nos quatro evangelhos também foi governamental (Lc 5:20, 7:47-48, etc.). O aspecto eterno do perdão foi anunciado pela primeira vez após a redenção ser consumada, quando Cristo ressuscitou dentre os mortos (Lc 24:47; At 2:38, etc.).

Presciência 

O outro grande atributo de Deus que mencionamos é “presciência”. Presciência é a capacidade de Deus de saber tudo antes que aconteça (At 2:23; Rm 8:29; 1 Pe 1:2). Visto que Deus sabe quantos pecados cada crente cometerá em sua vida – mesmo antes de a pessoa nascer – Ele poderia colocar o justo juízo desses pecados sobre Senhor Jesus Cristo na cruz antes que eles realmente acontecessem. Assim, Cristo também levou o juízo dos pecados de todos os que creriam durante este “tempo presente” – isto é, o Dia da Graça (v. 26).

Por isso, na cruz, Cristo fez propiciação, e um pagamento integral foi feito pelos pecados de todos os crentes de todos os tempos. Deus tomou os pecados de todos os que têm fé – desde o início dos tempos até o fim dos tempos – e os colocou sobre Cristo, o Emissário do pecado, e Ele suportou o justo juízo por eles.

Todos os teus pecados foram colocados sobre Ele,
Jesus os suportou no madeiro;
Deus, que os conhecia, os colocou sobre Ele,
E, crendo, tu és livre.

Hinário The Little Flock nº 35

Há uma diferença entre aqueles que viveram antes da cruz e aqueles que viveram depois dela. As pessoas do tempo do Velho Testamento que tinham fé não são ditas como tendo crido “em Jesus”, como é o caso daqueles neste tempo presente (v. 26). Isto porque os crentes do Velho Testamento não conheciam o evangelho que conta a história de Deus enviando Seu Filho, etc. Eles não podiam crer no Senhor Jesus Cristo porque eles não tinham ouvido falar d’Ele, mas foram abençoados por Deus no princípio de fé e estão a salvo no céu agora como amigos do Noivo (Jo 3:29).

V. 26 – Visto que a expiação já foi feita, podemos “declarar” (KJV) por meio do evangelho “Sua justiça (de Deus). Isso é algo que não poderia ser feito até “este tempo”. J. N. Darby disse: “A justiça nunca foi revelada sob a Lei – Deus suportou as coisas, mas não houve declaração de justiça. Agora é para ‘declarar a Sua justiça’. A justiça foi revelada quando a expiação foi feita” (Collected Writings, vol. 27, pág. 385). Nós agora podemos ir ao pecador com as boas-novas de que Deus é “justo e Justificador daquele que tem fé em Jesus”. Ele é “justo” pelo que julgou o pecado na obra consumada de Cristo na cruz, e Ele é “o Justificador” daqueles que creem.

O Princípio de Fé 

Cap. 3:27-31 – Nos versículos finais do capítulo 3, Paulo explica a parte da fé na justificação do crente. Ele já mencionou “a justiça de Deus pela fé” (v. 22) e “a fé no Seu sangue” (v. 25), e deixou claro que as bênçãos do evangelho só são apropriadas “segundo o princípio de fé” (JND – cap. 1:17, 3:30, 4:16, 5:1). Assim, o evangelho é tão simples que tudo o que uma pessoa precisa fazer é crer no Senhor Jesus Cristo e será salvo e justificado (At 13:38-39, 16:31).

Contudo, mesmo neste caso, não devemos pensar que nossa fé nos fez merecer nossa justificação. Paulo deixa claro nestes versículos que é por fé, assim a jactância (vanglória) é “excluída”. Nossa fé não é um trabalho meritório. De fato, em Efésios 2:8, ele afirma que a fé “não vem de vós; é dom de Deus”. Já que vem tudo de Deus, Ele deve receber todo o crédito. Se a fé fosse uma coisa meritória, então uma pessoa teria algo para se “gloriar”. Ele poderia dizer: “Outros não tiveram fé para crer, mas eu tive, e Deus me salvou por causa da minha fé!” Isso seria atribuir a nós mesmos algum crédito por nossa salvação.

Nem devemos pensar que chorando, confessando nossos pecados, arrependendo, orações sinceras, etc., nos fará merecedores da salvação. Essas coisas podem acompanhar a conversão de uma pessoa para Cristo, mas a salvação não é obtida por elas. Sejamos claros: “fé” não é o assunto do evangelho. O assunto do evangelho é Cristo e Sua obra consumada. Assim, Paulo mostra que a justificação do crente não tem nada a ver com “obras”. Toda vanglória por parte do homem, portanto, é completamente excluída. As obras exaltam o homem, mas a fé exalta a Deus.

Nos versículos 29-30, Paulo mostra que a justificação não é apenas para os judeus (“a circuncisão”), mas para todos os que creem no evangelho – incluindo os gentios (“a incircuncisão”). Isso mostra que Deus não é parcial quando se trata de oferecer salvação aos homens e salva pessoas de todas as três esferas da raça humana.

V. 31 – Para que os judeus não pensassem que Paulo estava ignorando ou menosprezando a Lei, ele diz: “Anulamos, pois, a Lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a Lei” (v. 31). O evangelho não põe de lado os santos padrões da Lei; a Lei enfatiza o fato de que os homens ficaram aquém dela. Deste modo, a Lei complementa o evangelho ao provar que os homens pecaram e estão destituídos da glória de Deus. Por isso, o evangelho sustenta as santas exigências da Lei. Isso mostra que os homens são pecadores e, portanto, precisam de salvação.

A JUSTIÇA DE FÉ – Capítulo 4 

No capítulo 4, Paulo amplia a conexão da fé com a justificação. Ao fazê-lo, introduz uma nova frase – “a justiça de fé” (JND – v. 11, 13). Isso é diferente da “justiça de Deus”, que ele usou várias vezes no capítulo 3.

  • A “justiça de Deus” tem a ver com Deus agindo para bênção do homem, de acordo com a Sua santidade e amor, assegurando bênçãos para os homens. Isso aconteceu na cruz, de uma vez por todas.
  • A “justiça de fé” tem a ver com Deus considerando como homens justos os que têm fé no que a justiça de Deus assegurou. Isto é algo que está acontecendo hoje em dia, quando as pessoas vêm a Cristo e são salvas. (De fato, Deus tem considerado homens justos desde o princípio dos tempos – onde e quando os homens tiveram fé, como Abraão, por exemplo).

A Justiça de Fé – Não Por Obras 

Cap. 4:1-8 – O objeto imediato de Paulo no capítulo 4 é mostrar que o evangelho – que promete bênçãos sobre o princípio de fé “sem obras”– está em plena concordância com as Escrituras do Velho Testamento. Por isso, “a justiça de fé” não é algo novo. De fato, sempre foi o princípio sobre o qual Deus abençoou o homem. Paulo sabia que precisava estabelecer este ponto rapidamente ao desdobrar a verdade do evangelho, de modo a não perder a atenção dos judeus que naturalmente viam o evangelho como algo que minava a Lei e o que tinham no judaísmo.

Para ilustrar o fato de que “a justiça de fé” não é algo novo, Paulo seleciona dois santos conhecidos do Velho Testamento (Abraão e Davi) e examina como eles foram abençoados. Essas não eram pessoas sem importância na organização judaica; Abraão é o maior patriarca da nação e Davi é o maior rei da nação. Nesses versículos, Paulo mostra que ambos foram considerados justos por crerem na Palavra de Deus, aparte das obras.

Notemos que no capítulo 3, Paulo enfatizou a “fé em Jesus Cristo” (v. 22) e “fé no Seu sangue” (v. 25) – isto é, a Pessoa e obra de Cristo. Mas agora no capítulo 4, Paulo enfatiza a fé em Deus que “dos mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor” (vs. 24-25). Neste capítulo, o foco está em crer em Deus, aceitando-O por meio de Sua palavra (vs. 3, 5, 17, 24). Isso é necessário para a certeza do crente.

Abraão e Davi também ilustram (em tipo) os dois lados da justificação.

  • “Abraão” ilustra o lado positivo da justificação – ele obteve uma posição justa diante de Deus (vs. 1-5).
  • “Davi” ilustra o lado negativo da justificação – ele foi inocentado de toda acusação de pecado contra ele (vs. 6-8).

Abraão 

Vs. 1-3 – Paulo começa com Abraão como prova de que uma pessoa pode ser abençoada por Deus por fé sem trabalhar para isso. Ele diz que se Abraão tivesse sido considerado justo pelo princípio de “obras”, então haveria algo em sua bênção do qual ele poderia ter algum crédito nisso, e assim poderia se “gloriar” nela. Abraão foi considerado justo por fé ou por obras? Paulo apela às Escrituras para responder e pergunta: “Pois, que diz a Escritura?” Ao fazer isso, tirou o assunto da esfera da opinião humana e colocou-o diretamente no que Deus diz sobre isso em Sua Palavra. Paulo nos leva a Gênesis 15 e mostra que Deus deu a Abraão a promessa de Sua “palavra” (vs. 4-5) e Abraão “creu” (v. 5a), e sua fé “lhe é imputada como justiça” (v. 5b). Isso resolve a questão; Abraão não fez obras de qualquer tipo, mas foi imputado como justo simplesmente por crer na Palavra de Deus. Note que não diz que Abraão cria em Deus, o que significaria que ele acreditava na existência de Deus. Ele fez isso, é claro, mas diz que “creu Abraão a Deus” (AIBB). Isso se refere a Abraão crer no que Deus lhe havia dito – ele cria na Palavra de Deus. Foi importante para Paulo estabelecer este ponto, porque ao final do capítulo, ele vai mostrar que a segurança e a paz do crente são baseadas no crer na Palavra de Deus concernente à obra consumada de Cristo na cruz.

Vs. 4-5 – Paulo prossegue explicando que quando a bênção é pela graça (o favor imerecido de Deus), então as obras são imediatamente excluídas da cena. Ele diz: “Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida”(AIBB). Isto é, se o homem pudesse ganhar justificação pelas obras, então Deus seria colocado em dívida para com o homem e teria obrigação de pagar ao trabalhador bem-sucedido as bênçãos da salvação! No entanto, isso seria o oposto da graça. Paulo insiste que as bênçãos do evangelho são “ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio – AIBB. Independentemente de quão boas são as intenções de uma pessoa, obras como: votos de confirmação, batismo, associação de membros e participação na igreja, tentar guardar os dez mandamentos, fazer caridade e fazer boas ações, viver corretamente como um bom vizinho, etc. não obterão justificação. As bênçãos do evangelho não são obtidas por esse princípio.

Isso enfatiza a beleza do evangelho; Deus pode em justiça justificar o pecador que simplesmente crê. Isso é algo radicalmente diferente da Lei. Ela poderia somente justificar os justos, não os ímpios (1 Rs 8:32). Abraão foi “justificado”, mas não no pleno sentido de justificação do Novo Testamento, que envolve ser levado a uma nova posição diante de Deus em Cristo (Gl 2:17 – “justificado em Cristo”). No entanto, o princípio de fé no qual os santos do Velho Testamento e os santos do Novo Testamento são abençoados é o mesmo, que é o ponto de Paulo aqui. J. N. Darby disse: “Há uma diferença entre o perdão de Deus no sentido de não imputação, segundo Romanos 4, e o perdão governamental… e a diferença é muito clara, porque o perdão que justifica, desconhecido no Velho Testamento, é completo e de uma vez por todas como Hebreus 9, 10 afirma – ‘nunca mais teriam consciência de pecado’” (Letters of J. N. Darby, vol. 2, pág. 275).

Paulo então declara que esse princípio de fé não se aplica apenas a Abraão, mas a todos os que se achegam a Deus em fé – sua “fé lhe é imputada [considerada – JND] como justiça”. Considerar [reckon em inglês] significa “achar algo ser como tal” ou “considerar algo ser como tal”. A palavra grega é “logizomai[8], e é usada onze vezes nesta passagem. (Infelizmente, a KJV nem sempre traduz a palavra como “considerada”. Às vezes é traduzida como “contada” ou “imputada”). Em cada uma das onze referências encontradas no capítulo, é sempre Deus Quem considera. Isso é importante de se notar; o assunto aqui é a consideração de Deus – não do crente. Somos “feitos justos” na mente de Deus (cap. 5:19). (No capítulo 6:11, o crente será chamado para “considerar-se” em relação a certos fatos que Paulo expõe naquela passagem, mas aqui no capítulo 4, o assunto é a consideração de Deus). Assim, “a justiça de fé” é uma consideração divina em relação ao crente. Tem a ver com o que ocorre na mente de Deus em conexão com a pessoa que crê. Não tem nada a ver com os pensamentos e sentimentos do crente sobre sua justificação. Um erro comum dos crentes novos é olhar para dentro de si procurando certos sentimentos que acham que deveriam corresponder com o fato de serem salvos. O problema com esse tipo de introspecção é que, quando o crente não se sente como acha que deveria se sentir, pode ser levado à dúvida e desânimo, e às vezes temer nunca verdadeiramente foi salvo.
[8] N. do T.: J. N. Darby traduz “logizomai” como reckon e significa considerar, ter em conta, contar como sendo, pensar em alguém como sendo algo específico A palavra grega aparece neste capítulo nos versículos 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11, 22, 23, 24. Na maioria das ocorrências nas versões em português, encontramos a tradução de “logizomai”, como imputar, que significa conferir ou atribuir algo a alguém.

Ser considerado justo não significa que Deus faz do pecador ímpio uma pessoa justa e piedosa, mas que Ele tem ou considera o pecador que crê ser assim justo, em Seu pensamento ou avaliação. W. Scott disse: “É simplesmente ter ou considerar alguém como justo… um homem que em si mesmo está errado é contado corretamente” (Doctrinal Summaries pág. 15). Assim, Paulo, ao mostrar o evangelho, nos traz antes o lado de Deus da justificação do crente. Isto é importante; o crente precisa saber como Deus o vê para ter uma certeza sólida.

Davi 

Cap. 4:6-8 – Nós vemos o mesmo princípio de fé no exemplo de Davi. No seu caso, foi em relação aos seus pecados. Deus disse a ele, por meio do profeta Natã: “Também o Senhor traspassou [fez passar – TB] o teu pecado” (2 Sm 12:13). Davi creu na Palavra de Deus e passou a escrever o Salmo 32, que Paulo cita: “Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputará [considerará – JND] pecado”.

Davi fala de suas “iniquidades” sendo “perdoadas” e seus “pecados” como sendo “cobertos”. Iniquidades são as más intenções por trás dos atos pecaminosos que cometemos (Sl 41:6, 66:18, 78:37-38; Is 32:6, 54:17; Mt 23:28; At 8:22-23). Assim, é maravilhoso ver que, ao abençoar o pecador que crê, Deus trata de todo o seu caso – desde a concepção de suas más intenções até os seus maus atos. Ele não apenas trata com seus pecados, Ele também perdoa suas más intenções! (Hb 10:17) Como mencionado anteriormente, uma vez que a redenção foi agora consumada e o Espírito de Deus foi enviado do céu para habitar no crente, o perdão no Cristianismo vai além do que os santos do Velho Testamento conheceram – o que para eles era algo puramente governamental. Eles viviam com medo de seus pecados serem visitados por Deus em julgamento (Sl 25:7, etc.), mas no Cristianismo, temos uma consciência purificada em conexão com nossos pecados que foram perdoados, algo que eles não tinham (Hb 9:14, 10:2).

Além disso, da perspectiva de Davi, tendo vivido antes da cruz, ele só conhecia sobre pecados sendo cobertos – ou seja, mantidos em suspenso por mais um ano, como o Dia da Expiação indica (Lv 16). Hoje, com a obra de Cristo tendo sido consumada, temos uma revelação mais completa por meio do evangelho a respeito do que Deus fez com nossos pecados. Sabemos que nossos pecados foram eternamente “perdoados” (Lc 24:47; At 2:38, 5:31, 10:43, 13:38, 26:18; Ef 1:7; Cl 1:14; Hb 9:22; 1 Jo 2:12), “aniquilados [tirados – JND] (Hb 9:26) e “tirados” (1 Jo 3:5). Paulo não está citando este Salmo para mostrar que nossos pecados estão cobertos, mas para nos ensinar o resultado de crer na Palavra de Deus. Ela não apenas nos dá certeza da justificação de alguém, mas também faz do crente uma alma “bem-aventurada” (feliz). E isso é tudo resultado de crer na Palavra de Deus. Isto é essencial para a certeza do crente de sua justificação. Ao estabelecer isto, Paulo está edificando em direção a isso, como veremos nos versículos 24-25.

Assim, o Velho Testamento afirma que Deus considera os homens justos por fé “sem obras”, mas o Novo Testamento mostra como Ele o faz – pela justiça de Deus. É importante entender o significado doutrinal do argumento que Paulo está colocando aqui. A justiça não é considerada para aqueles que tentam trabalhar por ela – por exemplo, fazendo boas obras, mas para aqueles que creem em Deus.

A Justiça de Fé – Não Por Ritos 

Cap. 4:9-12 – Paulo prossegue para falar do rito da circuncisão. Tem isso algum mérito diante de Deus em relação a ser considerado justo? E os gentios incircuncisos podem ser considerados justos sem serem circuncidados? Para responder a isso, Paulo apela a Abraão novamente. Quando ele foi considerado justo? Foi quando ele era incircunciso ou quando foi circuncidado? Ele responde isso afirmando: “Não na circuncisão, mas na incircuncisão”. Assim a Escritura registra que Abraão foi considerado justo quando ainda estava em terreno gentio incircunciso. Ele “recebeu o sinal da circuncisão” em seu corpo como um “selo da justiça de fé que teve”13 anos antes! Isso mostra que sua circuncisão não teve nada a ver com ele ser considerado justo por Deus. Abraão é, portanto, uma prova da possibilidade de que “também a justiça lhes [aos gentios] fosse imputada” (TB). Assim, os gentios incircuncisos podem ser considerados justos pela fé, assim como os judeus circuncidados o são. Ao estabelecer este ponto, Paulo mostra que Abraão é de fato o “pai de todos os que creem, estando eles também na incircuncisão” (v. 11).

Paulo deixa claro que Abraão é de fato o “pai da circuncisão, daqueles que não somente são da circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé de nosso pai Abraão, que tivera na incircuncisão” (v. 12). Ele, é claro, não está falando da paternidade de Abraão em um sentido literal, mas em um sentido espiritual. Paulo já mostrou no capítulo 2:28-29 que aqueles que são da descendência de Abraão, e têm externamente o “sinal da circuncisão” em seus corpos, são a semente de Abraão (como descendentes), mas se não tiverem a fé de Abraão, eles não são suas crianças (espiritualmente). Por isso, todos (incluindo os gentios) que andam “nas pisadas daquela fé de nosso pai Abraão” o têm como seu pai espiritualmente.

Novamente, é importante não perdermos o ponto doutrinário que está sendo enfatizado aqui. Paulo mostrou que o rito da circuncisão não pode dar à pessoa uma posição justa diante de Deus. Mas o princípio que estabeleceu sobre o rito da circuncisão se aplica a todos os ritos e ordenanças religiosas de qualquer tipo – judaicos ou Cristãos. Seja a circuncisão, o batismo, os sacramentos, os votos de confirmação, etc. – qualquer coisa exterior que possa ser feita em nome da religião – tudo isso não fará merecer que Deus considere uma pessoa justa. O argumento de Paulo é claro e simples – uma pessoa somente é considerada justa pelo princípio de fé.

A Justiça de Fé – Não Por Guardar Lei 

Cap. 4:13-16 – Paulo passa a falar da Lei. Guardá-la tem algum mérito para que Deus considere justa uma pessoa? Paulo responde a essa pergunta afirmando que “a promessa de que (Abraão)havia de ser herdeiro do mundo” não foi “pela Lei…, mas pela justiça de fé”. A prova disso é que a Lei não foi dada até cerca de 430 anos depois que Abraão foi considerado justo! A Lei, portanto, não tinha nada a ver com isso. (A exata expressão, “o herdeiro do mundo” (JND), não é encontrada no Velho Testamento, mas a verdade disso está em Gênesis 17:5). Note também, Deus não disse a Abraão: “Eu farei de ti pai de muitas nações”. Ele disse: “Te tenho posto…”. Assim, Ele declarou isso como um fato concluído e Abraão creu em Deus a esse respeito.

Paulo dá uma prova adicional de que a obediência à Lei não poderia ter nada a ver com a bênção de Abraão (e de seus filhos) como “o herdeiro do mundo”. Ele afirma que se a bênção pudesse ser herdada com base na obediência à Lei, então a “fé” seria “vã” e a “promessa” seria “anulada” (v. 14 – TB). Isto é, não haveria necessidade de fé, e também ninguém jamais herdaria a promessa, porque ninguém (exceto Cristo) pode guardar a Lei! Sobre aquela base, a bênção prometida a Abraão sobre sua posteridade nunca chegaria para eles; Os filhos de Abraão nunca receberiam a bênção. Além disso, se a bênção decorresse do princípio de obediência à Lei, uma vez que Deus sabia, mesmo antes de ter dado a Lei, que ninguém seria capaz de guardá-la, Ele poderia ser acusado de fazer uma promessa que não precisaria manter! Assim, Ele teria feito uma promessa inútil a Abraão. Isso não pode ser assim, porque coloca o nosso Deus Verdadeiro e Fiel em uma situação sombria e questiona o Seu caráter.

Paulo então fala do que a Lei faz quando não é cumprida. Ele diz: “A Lei opera a ira” (v. 15). Ou seja, amaldiçoou a pessoa que estava sob suas obrigações, que não cumpriu perfeitamente suas exigências. Ela não poderia abençoar, mas poderia amaldiçoar! Como Paulo havia dito no capítulo 3:20: “porque pela Lei vem o conhecimento do pecado”. Seu propósito é fazer com que as pessoas saibam sem dúvida alguma que são pecadoras. A Lei ampliou o pecado dando-lhe um caráter específico de “transgressão”, tornando os pecados que os homens cometem em violações intencionais da Lei. Assim, a Lei só aumentou a culpa de uma pessoa, mostrando aos homens sua verdadeira pecaminosidade.

Paulo conclui: “Portanto, (a bênção) é no princípio de fé, para que possa ser de acordo com a graça – JND (v. 16). A bênção prometida foi dada sob o princípio de graça soberana, e chegará aos filhos de Abraão pela graça soberana. A bênção prometida originou-se da bondade do coração de Deus e será entregue por Sua graça – o desempenho do homem não tem nada a ver com isso. O sistema legal e o princípio de graça são na verdade totalmente opostos; a graça é por fé e é uma questão de crer; a obediência à Lei é uma questão de fazer.

Paulo, portanto, conclui que Abraão é de fato “o pai de todos nós” (v. 16). Isto é assim, não por causa da Lei, mas por causa da fé – independentemente de uma pessoa ser judia ou gentia.

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Por isso, até agora no capítulo 4, Paulo mostrou que:

  • Obras não são o meio para uma pessoa ser considerada justa diante de Deus (vs. 1-8).
  • Ritos não são o meio para uma pessoa ser considerada justa diante de Deus (vs. 9-12).
  • Obediência à Lei não é o meio para uma pessoa ser considerada justa diante de Deus (vs. 13-16).

O Deus de Ressurreição 

Cap. 4:17-25 – O objetivo imediato de Paulo neste capítulo foi mostrar que o princípio de fé no evangelho está de acordo com os caminhos de Deus de abençoar os homens no Velho Testamento, e demonstrou isso nos apontando para Abraão e Davi. Ele também mostrou conclusivamente que ser considerado justo por Deus é por fé e somente por fé. Mas o objetivo de Paulo neste capítulo 4 é estabelecer uma base sólida de entendimento no crente, sobre a qual sua fé pode permanecer com plena certeza quanto à sua justificação. Para conseguir isso, na última parte do capítulo, Paulo apresenta Deus como o Deus de ressurreição. J. N. Darby observou isso e disse: “No capítulo 4, é fé no Deus de ressurreição” (Collected Writings, vol. 21, pág. 196).

Ressurreição – O Selo de Aprovação de Deus da Obra Consumada de Cristo 

No capítulo 3, Paulo se concentrou no crer naquilo que ocorreu na cruz, mas agora na parte final do capítulo 4, ele enfatiza o crer no que Deus fez no sepulcro ressuscitando o Senhor Jesus dentre os mortos (vs. 24-25). A ressurreição é o ponto culminante do evangelho. É a aceitação e aprovação de Deus da obra consumada de Cristo – Seu selo de aprovação ou o “Amém” ao que Cristo realizou na cruz (1 Pe 1:21). Deus não estava apenas satisfeito com a obra de Cristo, Ele foi glorificado no que Cristo fez na cruz. Entender e crer neste fato estabelece a base para uma sólida segurança na alma do crente. Assim, a certeza de nossa justificação envolve não apenas crer no Senhor Jesus (cap. 3:26), mas também crer no testemunho de Deus sobre a obra consumada de Cristo (cap. 4:24-25).

Todo esse trabalho abençoado está feito,
Deus está satisfeito com o Seu Filho;
Ele O ressuscitou de entre os mortos
Colocou-O sobre tudo como Cabeça.

Hinário The Little Flock nº 121

Vida a Partir dos Corpos Amortecidos de Abraão e Sara – O Princípio de Ressurreição 

Cap. 4:17-22 – Para ilustrar a necessidade de crer no testemunho de Deus sobre a grande obra de Cristo, Paulo continua a usar Abraão como exemplo. Ele mostra que, assim como Abraão creu no Deus de ressurreição, o Cristão também deve crer no Deus de ressurreição. Ele declara: que “perante aqu’Ele no Qual [Abraão] creu, a saber, Deus, o Qual vivifica os mortos. No caso de Abraão e Sara não que eles estivessem fisicamente mortos, mas que sua capacidade de procriar vida estava morta neles, por causa da avançada idade deles. Mesmo assim, Deus superou esse “amortecimento”, e deu-lhes vida fora dessa condição de morte em seus corpos, para que eles tivessem um filho (Isaque). Isso ilustra o princípio de ressurreição.

Deus chamou “as coisas que não são como se já fossem”. Isso se refere a Abraão e Sara tendo uma inumerável posteridade, que naquele momento não existia. Abraão sabia que ele e sua esposa estavam mortos nesse sentido, porém, cria em Deus. Paulo diz: “O qual, em esperança, creu contra a esperança” (v. 18). Ele não duvidou do que Deus disse – “E não enfraqueceu na fé” – mas creu na Palavra de Deus. Ele creu no que Deus disse, e “nem atentou para o seu próprio corpo já amortecido, pois era já de quase cem anos, nem tão pouco para o amortecimento do ventre de Sara. E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus” (vs. 19-20). Assim, a fé de Abraão deu “glória a Deus”. Isso mostra que fé honra a Deus e que Deus honra fé (1 Sm 2:30; Jo 3:33). O Deus em Quem Abraão creu é o mesmo Deus em Quem devemos crer.

É importante ver que Paulo não está enfatizando quanta fé nós temos, mas em Quem nossa fé é colocada. Trata-se da credibilidade da Pessoa em Quem colocamos nossa fé. O resultado prático que adveio de Abraão crer em Deus é que ele estava “certíssimo” e convencido de que o que Deus tinha “prometido”, iria “fazer” (v. 21). Este foi o fundamento de sua certeza.

A Aprovação de Deus da Obra Consumada de Cristo – O Fundamento da Certeza do Crente 

Cap. 4:23-25 – Nos últimos três versículos do capítulo 4, Paulo faz uma poderosa aplicação do princípio que estabelecera em Abraão, ao que crê hoje no evangelho. É que: se fé no que Deus disse deu certeza a Abraão, então fé no que Deus disse a respeito de Sua aceitação da obra consumada de Cristo na cruz também dará ao crente certeza a respeito de sua justificação! Paulo diz: “Ora, não só por causa dele está escrito, que lhe foi imputado [considerado – JND], mas também por nós, a quem será tomado em conta, os que cremos naqu’Ele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor”(AIBB)[9]. Assim, devemos aprender com o que Deus registrou nas Escrituras a respeito da fé de Abraão e aplicá-lo ao nosso caso em relação ao evangelho. Existe uma diferença; O objeto da fé de Abraão era uma promessa de algo que deveria ser cumprido no futuro, mas o objeto de nossa fé é algo que já foi cumprido. Isto é, Abraão creu que Deus daria vida aos mortos (ao seu corpo e de sua esposa), ao passo que cremos que Deus deu vida dentre os mortos e justificação ao ressuscitar Cristo, o Salvador. O princípio envolvido é o mesmo.
[9] N. do T.: J. N. Darby traduz esse versículo como: “Ora, isso não foi escrito a seu respeito apenas de que ela foi considerada a ele, mas a nosso respeito também, aos que cremos naqu’Ele que ressuscitou dentre os mortos, Jesus nosso Senhor”.

Nossa certeza, portanto, é baseada em conhecimento e . Precisamos conhecer os pensamentos de Deus sobre a obra de Cristo na cruz em conexão com nossos pecados. Então, também precisamos crer no que Deus diz sobre isso – isto é, Seu testemunho a respeito disso. É isso que dá ao crente a certeza de sua justificação. O fundamento da certeza de nossa alma não está em nossa aceitação da obra consumada de Cristo – embora de bom grado a aceitemos – mas no entendimento deque Deus a aceitou! O sacrifício do Senhor Jesus Cristo na cruz foi uma oferta que não foi feita para nós, mas para Deus. Ele “Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus” (Hb 9:14). Foi o que satisfez as reivindicações da justiça divina contra o pecado. Tudo o que temos de fazer é crer que Deus está bem satisfeito com o pagamento de Cristo pelos nossos pecados. Se Ele é suficiente para Deus, deve ser o suficiente para nós.

O Sr. G. Cutting tinha uma ilustração que enfatiza esse ponto. Ele disse que em se tratando de uma dívida qualquer, o credor é o único que tem o direito de escrever “PAGO” na conta. Não teria qualquer valor se o devedor o fizesse, porque ele não tem autoridade para declará-la liquidada. Se o devedor fizesse isso não satisfaria o credor, nem daria paz ao devedor. A certeza do devedor só pode ser em consequência de saber que o credor está satisfeito. Da mesma forma, em relação à dívida de nossos pecados, a única maneira pela qual obteremos a certeza de que ela foi paga é ver que ela foi resolvida com Deus. Temos de ver que Deus está completamente satisfeito com o pagamento que Cristo fez por nós. Assim, a maneira de obtermos certeza no fundo de nossas almas é ver que toda a questão foi resolvida completamente diante de Deus. Este é o remédio de Deus para as pessoas que têm problemas de dúvida quanto à sua salvação.

Além disso, ao chamar Cristo de “Senhor” (v. 24), Paulo inclui Sua ascensão à glória, pois foi em Sua ascensão que Ele foi feito tanto “Senhor e Cristo” (At 2:36). (O termo “Jesus Cristo, nosso Senhor” é usado dez vezes nesta epístola. Isso se refere à Sua vinda ao mundo para realizar a redenção por meio de Sua morte, Sua ressurreição e Sua ascensão à destra de Deus.) Isso é significativo; dá ao crente uma prova a mais de que seus pecados se foram. Se sobre a cruz Cristo teve nossos pecados sobre Ele(Is 53:6), mas agora Ele foi recebido de volta ao céu, nossos pecados devem ter desaparecido, porque Deus nunca permitiria que o pecado entrasse em Suas cortes de glória. Que notícia maravilhosa é essa para o crente! Quando vemos Cristo ressuscitado e elevado, também nos vemos justificados. J. N. Darby disse: “A justificação não foi completada na cruz, a obra pela qual somos justificados foi; mas eu não tenho certeza disso até ver Cristo em ressurreição” (Collected Writings, vol. 21, pág. 196).

Substituição 

Cap. 4:25 – Paulo acrescenta: “O Qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação”. Isso enfatiza o aspecto substitutivo da obra de Cristo, que é o lado do crente do que foi realizado na cruz. Ele tomou o “nosso” lugar lá sob o julgamento de Deus e respondeu por nossas “ofensas” como nosso grande Emissário do pecado (1 Pe 3:18 – “o Justo pelos injustos, para levar-nos a Deus”). O capítulo 3:25 dá o lado de Deus da obra de Cristo na cruz; enfatiza a propiciação. O capítulo 4:25 dá o lado do crente da obra de Cristo na cruz; enfatiza a substituição. Estas são as duas partes da expiação.

A substituição não se aplica a todos no mundo; só se aplica aos “muitos” que creem (Is 53:11-12; Mt 20:28, 26:28; Jo 17:2; Rm 5:19; Hb 2:10, 9:28) Como regra, sempre que as palavras “muitos”, “nosso”, “nós” e “nos” são usadas em conexão com o que Cristo realizou em Sua morte, está se referindo ao lado substitutivo de Sua obra (Rm 4:25; 1 Co 15:3; 1 Pe 2:24; Ap 1:5, etc.). Isaías 53 menciona o trabalho substitutivo de Cristo dez vezes – ver versículos: 5 (quatro vezes), 6, 8, 10, 11, 12 (duas vezes).

Cristo Aceito Para Nós 

A última parte do versículo 25 indica que a ressurreição de Cristo foi “para nossa justificação”. Isso incluiria Sua ascensão, pois a justificação não apenas tem a ver com o crente sendo inocentado de toda acusação que há contra ele (At 13:39), mas também implica ele sendo trazido a uma nova posição diante de Deus onde Cristo foi elevado. As Escrituras dizem que somos “justificados em Cristo” (Gl 2:17), “Em Cristo” refere-se a nossa nova posição que nos foi assegurada pela ascensão de Cristo como Homem à destra de Deus. J. N. Darby disse: “Deus O glorificou [Cristo] em Si mesmo imediatamente. Isto é testemunhado em Sua ressurreição, e podemos acrescentar, em Sua ascensão. Ele é ressuscitado para nossa justificação e aparece na presença de Deus por nós” (Collected Writings, vol. 10, pág. 143).

Assim, não apenas a obra de expiação de Cristo foi aceita (testemunhada em Sua ressurreição), mas o próprio Cristo foi aceito (testemunhado em Sua ascensão). Este último ponto pode ser visto no fato de que Deus O assentou no lugar mais alto no céu – à Sua própria destra (Ef 1:20-21; 1 Pe 1:21). Ele está lá agora como um Homem glorificado, com todo o favor de Deus sobre Ele. A coisa surpreendente sobre isso é que os crentes são ditos estarem “em Cristo” (Jo 14:20; Rm 8:1; 1 Co 1:30; 2 Co 5:17, etc.), o que é estar no lugar de Cristo diante de Deus! Assim, Sua aceitação é a medida de nossa aceitação!

Como no caso do holocausto em Levítico 1, que foi “aceito pelo [em favor do] ofertante, assim também o sacrifício de Cristo foi aceito diante de Deus em favor do crente. Mas mais do que isso, ao ofertante colocar a mão na cabeça do animal quando esse era morto e apresentado a Deus, ele era aceito em todo o valor da oferta. Da mesma forma, somos “aceitos no Amado” (Ef 1:6 –KJV). Este é um triunfo da graça de Deus. Homens e mulheres que creem, e que já foram vis pecadores, são agora aceitos diante de Deus como o Seu próprio Filho! O apóstolo João afirmou esse mesmo fato; ele disse: “qual Ele é (aceito diante de Deus no céu), somos nós também neste mundo” (1 Jo 4:17). Esta é uma verdade maravilhosa que deve trazer louvor de nossos corações!

Oh Deus de graça inigualável
Nós cantamos ao Teu nome!
Nós somos aceitos no lugar
Que ninguém além de Cristo poderia reivindicar.

Hinário The Little Flock nº 189

Crentes que têm falta de certeza muitas vezes questionarão se creram o suficiente ou se creram da forma correta. Isso leva a muita introspecção, insegurança e desânimo – até mesmo a questionar se são verdadeiramente salvos. No entanto, olhar para si mesmo não é onde a paz e a certeza da salvação são encontradas. Devemos olhar para Cristo onde Ele está, à destra de Deus. Se Ele foi aceito lá e estamos em Seu lugar diante de Deus, então somos aceitos também! Ele é a nossa justiça na presença de Deus (1 Co 1:30; 2 Co 5:21). A pessoa que descansa na fé nesta grande verdade não terá dúvidas quanto à salvação de sua alma.

Três Coisas a Serem Cridas que Dão Certeza 

Para resumir o que foi dito, possuir uma certeza sólida de nossa justificação vem do entendimento e da crença no que Deus disse a respeito de três coisas.

  • O que aconteceu na cruz. Devemos aceitar pela fé que Cristo suportou o juízo pelos nossos pecados (Is 53:6; 1 Pe 2:24).
  • O que aconteceu no sepulcro. Devemos aceitar pela fé que a justiça divina está plenamente satisfeita com o pagamento que Cristo fez na cruz em relação aos nossos pecados, e que Deus colocou Seu selo de aprovação naquela obra consumada, ressuscitando-O dentre os mortos (At 2:24; 1 Pe 1:21).
  • O que está acontecendo no céu no que diz respeito à aceitação de Cristo. Devemos aceitar pela fé que Sua aceitação diante de Deus é nossa (1 Jo 4:17; Ef 1:6).

O Que Deus Fez com os Pecados do Crente 

Com vistas a dar ao crente paz sólida a respeito de seus pecados, Deus foi longe em Sua Palavra para mostrar que os pecados do crente se foram – e se foram para sempre. Ele usa várias figuras e expressões (muitas das quais serão a porção de Israel no dia de sua redenção) para descrever a bem-aventurança deste grande fato, de modo que não pudesse haver nenhuma dúvida legítima na mente do crente que aceita o testemunho da Palavra de Deus. Algumas das coisas que Deus fez com nossos pecados são:

  • Ele fez purificação por nossos pecados (Hb 1:3).
  • Ele remove nossos pecados para tão longe quanto o oriente está do ocidente (Sl 103:12).
  • Ele apaga os nossos pecados (Is 44:22; Sl 51:1).
  • Ele lança nossos pecados para trás de Suas costas (Is 38:17).
  • Ele os lança nas profundezas do mar (Mq 7:19).
  • Ele tira nossos pecados (1 Jo 3:5).
  • Ele lava nossos pecados (Ap 1:5).
  • Ele nos purifica dos nossos pecados (1 Jo 1:7).
  • Ele perdoa nossos pecados (Rm 4:7; Ef 1:7).
  • Ele jamais Se lembra dos nossos pecados (Hb 10:17).

OS GRANDES RESULTADOS DA JUSTIFICAÇÃO E DA RECONCILIAÇÃO – Cap. 5:1-11 

Os primeiros onze versículos do capítulo 5 completam o assunto de Deus agindo em justiça para assegurar bênçãos ao pecador ímpio que crê. Fundamentando-se na palavra chave, “portanto”, Paulo delineia os grandes resultados ou benefícios concedidos ao crente por meio da justificação.

A ideia de regozijo ou exultação surge ao longo dos onze versículos. Isso é de alguma forma perdido na versão King James, que usa três palavras inglesas diferentes para indicar a palavra grega “kauchaomai”. A palavra é traduzida como “regozijar” (v. 2), “gloriar” (v. 3) e “alegrar” (v. 11) na KJV, mas a tradução J. N. Darby (e nas em português) a traz como “gloriar” nos três lugares. Outras traduções trazem “regozijar” ou “exultar”. Esta é certamente uma conclusão apropriada para todo o tema da graça de Deus ao tratar com nossos pecados para levar-nos às bênçãos.

Nesta série de versículos, Paulo toca em pelo menos sete grandes coisas que o crente tem como consequência em ser “justificado pela fé”. Essas coisas não são temporais ou condicionais, mas permanentes e eternas. Cada uma é declarada no tempo verbal presente (“temos”) indicando que elas já são uma possessão atual do crente – com a exceção dos versículos 9b e 10b que olham para o que Deus fará pelo crente no futuro. É falado sobre todas elas com a maior certeza.

Cap. 5:1-2 – As três primeiras coisas que Paulo menciona andam juntas e têm a ver com a posição atual do crente e sua perspectiva futura. Elas nos dizem o que Deus fez por nós em relação a toda a nossa história – passado, presente e futuro.

  • Quanto ao nosso passado – fomos “justificados” (v. 1).
  • Quanto ao presente– nós “estamos” em posição de “graça [favor – JND] com Deus (v. 2a).
  • Quanto ao futuro – temos uma “esperança” (uma certeza adiada) de sermos glorificados (v. 2b).

PAZ COM DEUS (cap. 5:1) 

Paulo diz: “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus”. Esta é uma “paz” externa que existe entre Deus e o crente como resultado dele ser justificado pela fé. É uma condição externa predominante de paz entre duas partes que antes eram separadas. Uma ruptura ocorreu entre Deus e o homem pelo pecado, mas essa barreira foi removida para o crente. Da mesma forma, quando duas nações estão em guerra, não há paz. Mas se a paz é estabelecida entre elas, a guerra acaba; as hostilidades cessam e os adversários são transformados em amigos. Isto é exatamente o que aconteceu com o crente por meio da fé na morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Não mais existe uma separação entre nós e Deus; uma condição de paz agora prevalece.

Algumas pessoas pensam que o pecador precisa fazer as pazes com Deus. Eles dirão: “Faça as pazes com Deus”. Mas isso não é o que a Bíblia ensina. Ela nos diz que não podemos fazer as pazes com Deus porque não somos capazes de oferecer o que é necessário para atender às reivindicações da justiça divina. Felizmente, a Bíblia ensina que esta paz já foi feita aos homens pela obra consumada de Cristo na cruz. Colossenses 1:20 afirma que foi “por Ele[Cristo]feito a paz pelo sangue da Sua cruz”. Assim, tudo o que temos que fazer é acreditar no testemunho de Deus sobre esse fato e, sendo justificados, temos “paz com Deus”.

Essa paz é uma realidade objetiva, não um sentimento subjetivo. Não é um sentimento pacífico interior na alma do crente, como alguns Cristãos imaginam. Sentimentos de paz podem ser passageiros, dependendo das circunstâncias do crente e do seu estado de alma, mas eles não têm parte em sua justificação e em sua paz com Deus. Paz com Deus é uma condição permanente na qual o crente habita com Deus. É segura e tão perfeita quanto o seu fundamento – a morte e ressurreição de Cristo. Assim, Paulo não está falando do nosso desfrutar de paz aqui, mas sim do fato de que temos paz com Deus. É uma paz que não depende do nosso estado de alma, ou seja, do nosso andar. Não pode ser perdida por nossas deficiências e fracassos no caminho da fé, porque é algo eternamente estabelecido. Está inseparavelmente conectada à nossa posição diante de Deus. Por isso, não teremos mais desta paz ao andar em comunhão com o Senhor, nem teremos menos quando não andarmos. (Um estado interior de paz e descanso da alma é mencionado no capítulo 8:6 e é resultado de o crente conhecer a libertação – mas esse não é o assunto aqui). Essa paz, portanto, pertence a todos os crentes, mesmo que alguns deles tenham sido impedidos de desfrutá-la, porque não descansam pela fé no que Deus disse sobre sua segurança em Cristo. Como resultado, podem ocasionalmente se preocupar com seus pecados. Ed. Dennett disse: “As palavras ‘temos paz’ não significam necessariamente que a desfrutamos; pois, sem dúvida, há muitos justificados diante de Deus que pouco conhecem dessa paz”.

“Paz com Deus” e a “Paz de Deus” 

“Paz com Deus” (Rm 5:1) não deve ser confundida com a “paz de Deus” (Fp 4:7). “Paz com Deus” está ligada à nossa posição; enquanto a “paz de Deus” é um estado. A paz de Deus é um estado de tranquilidade no qual o próprio Deus habita. Ele quer que vivamos nessa paz diariamente, para que nossas mentes e corações não sejam perturbados por circunstâncias preocupantes pelas quais passamos neste mundo. Podemos nem sempre ter a “paz de Deus” em nossas almas, mas nunca perderemos nossa “paz com Deus”.

Três Aspectos da Nossa Posição em Paz 

A. P. Cecil apontou que há três aspectos da nossa posição em paz. Temos:

  • Paz com Deus (Rm 5:1) – Uma paz divina exterior.
  • Paz da vida ressurreta (Rm 8:6) – Uma paz interior resultante do conhecimento e do experimentar da libertação.
  • Paz racial (Ef 2:14) – Uma paz exterior em relação aos irmãos crentes de diferentes nacionalidades que foram salvos e colocados juntos no um corpo de Cristo.

Todos os três aspectos da paz nos pertencem no momento em que cremos no evangelho e somos selados com o Espírito Santo.

UMA NOVA POSIÇÃO NO FAVOR DE DEUS (cap. 5:2a) 

Paulo continua com outro grande resultado da justificação. Ele diz: “por Quem obtivemos também nosso acesso pela fé a esta graça [favor – JND], na qual estamos firmes” (AIBB). Isso se refere ao crente recebendo uma nova posição na presença de Deus.

A palavra grega “prosagoge” traduzida como “acesso” neste versículo (na KJV) dá a ideia de introdução de uma pessoa em alguma coisa. Aqui nesta passagem tem a ver com a introdução formal do crente em uma nova posição de “favor” diante de Deus. J. N. Darby observou que este lugar de favor em que nos encontramos é “nossa aceitação na graça, que Ele nos concedeu gratuitamente no Amado”. Assim, é a mesma posição que o próprio Cristo tem diante de Deus, pois somos “agradáveis [aceitos – JND] a Si no Amado” (Ef 1:6). Paulo diz que esta nova posição na qual estão todos os crentes, é adentrada “pela fé” no Senhor Jesus Cristo – ou seja, quando uma pessoa recebe salvação. É uma coisa de uma vez por todas resultante de ser “justificado em Cristo” (Gl 2:17).

Esse “acesso”, portanto, não é uma questão de prática Cristã – isto é, adentrando na presença de Deus por comunhão diária, oração e adoração, como declarado em Efésios 2:18 e 3:12, etc. – mas sim, a entrada inicial do crente em sua nova posição diante de Deus quando é salvo. No grego, a palavra (“acesso”) está no tempo verbal perfeito, indicando que Cristo alcançou um acesso completo e permanente para nós na presença de Deus por Sua entrada ali. Essa nova posição em favor diante de Deus, a qual Cristo acessou por nós, é perfeita, permanente e inviolável, porque ela é medida pela perfeita e permanente aceitação de Cristo. É algo posicional; não tem nada a ver com o nosso andar ou com nossa fidelidade pessoal. Quer sejamos o Cristão mais jovem ou o mais velho, um Cristão devotado ou um Cristão descuidado, todos nós igualmente temos essa posição diante de Deus. Nosso estado de alma (Fp 2:20), por outro lado, oscila dependendo se andamos de acordo com o Espírito ou conforme a carne. Por vezes nosso estado espiritual pode ser bom e outras vezes pode ser mau, mas nossa posição nunca muda.

UMA ESPERANÇA DA GLÓRIA DE DEUS (cap. 5:2b) 

Paulo passa para outro resultado da justificação: “Nos gloriamos na esperança da glória de Deus”. Como mencionado anteriormente, isso tem a ver com a futura glorificação do crente. Sendo justificados pela fé, os Cristãos têm uma “esperança” de serem glorificados como Cristo (cap. 8:30). Quando isso acontecer, seremos aperfeiçoados – espírito, alma e corpo. A natureza caída pecaminosa será erradicada de nossos seres e seremos transformados fisicamente para sermos como Cristo (Fp 3:21). Isso acontecerá a todos os Cristãos, quer saibam muito ou pouco sobre seu futuro glorioso. Paulo não está falando sobre se crentes estão vivendo no gozo e antecipação deste glorioso futuro, mas simplesmente de que temos um futuro glorioso.

“Esperança”, no sentido em que é usada nas Escrituras, é uma certeza adiada. É expectativa com certeza. No uso moderno da palavra, falamos de esperança como algo que gostaríamos de ver acontecer, mas não temos garantia de que acontecerá. Não é assim que as Escrituras usam a palavra; nas Escrituras, a esperança é sempre uma coisa de convicção. “A esperança da glória de Deus” de que Paulo está falando aqui é algo que definitivamente acontecerá – nós simplesmente não sabemos quando.

A glorificação é maravilhosa culminação da obra de Deus em nós e conosco. Antes que a graça nos alcançasse, éramos pecadores “destituídos… da glória de Deus” (Rm 3:23). Agora, sendo justificados pela Sua graça, temos a esperança de sermos glorificados como Cristo. É uma certeza adiada, vista como uma coisa completada no propósito e conselho de Deus: “aos que justificou a estes também glorificou” (Rm 8:30). A glorificação ocorrerá no arrebatamento: “aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o Qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da Sua glória [conforme o Seu corpo de glória – JND](Rm 8:17; Fp 3:21). Apocalipse 21:11 vê a Igreja no final (durante o milênio) reinando com Cristo, “tendo a glória de Deus” (TB). Hoje, temos esse final glorioso como uma esperança. Quando cremos no evangelho e recebemos o Senhor Jesus Cristo como nosso Salvador, somos colocados na esperança de nossa glorificação final. Paulo se refere a isso mais tarde na epístola, afirmando que “em esperança somos salvos” (Rm 8:24). Nossa glorificação é “parte integrante” da nossa salvação, sendo a fase final dela (Rm 13:11).

Vemos disso que nosso futuro é brilhante e seguro. Em vista dessa perspectiva maravilhosa, é apropriado que os crentes se “exultem [se gloriem].

EDUCAÇÃO ESPIRITUAL NA ESCOLA DE DEUS (cap. 5:3-8) 

Conforme mencionado anteriormente, as três primeiras coisas que Paulo abordou no capítulo 5 têm a ver com a posição e perspectiva dos crentes. Agora nos versículos 3-8, ele prossegue para falar de coisas que têm a ver com nossa peregrinação e o caminho.

Paulo diz: “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência [perseverança – ARA], E a paciência [perseverança – ARA] a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Nestes versículos, o crente é visto passando por provações e tribulações no caminho da fé, e tirando proveito espiritualmente dessas experiências. Isso mostra que depois de sermos justificados pela fé, Deus nos matricula em Sua escola, onde nos são ensinadas lições divinas por meio de experiências da vida. Estando intensamente interessado no desenvolvimento moral e espiritual de Seus filhos, imediatamente após sermos salvos, Deus começa uma obra em nós para nos conformar à imagem de Seu Filho (Rm 8:29). Seu amor é tal que não nos deixa no estado em que Ele nos encontra, mas Se compromete a realizar uma renovação moral de nosso ser, usando a pressão externa de provações e tribulações na vida para realizá-la. Este é outro benefício resultante de ser justificado pela fé.

O aspecto do ensino espiritual em vista aqui não é o lado intelectual da verdade – o que poderíamos chamar de “aprendizado de livros”. Embora o ministério escrito seja valioso e útil para edificar os santos na mais santíssima fé (Jd 20), essas lições espirituais não são aprendidas por esse meio. Essas lições têm a ver com o desenvolvimento do caráter Cristão, e elas só podem ser aprendidas por meio das “tribulações” (provações) da vida. J. N. Darby observou que “provações não podem por si mesmas conferir graça, mas sob a mão de Deus podem quebrar a vontade e detectar males ocultos e não suspeitados, que, se julgados, a nova vida será mais plenamente desenvolvida e Deus terá um lugar maior no coração. Além disso, pela tribulação a humilde dependência é ensinada e, como resultado, há menos confiança em si mesmo e na carne, e uma conscientização de que o mundo não é nada, e o que é eternamente verdadeiro e divino, tem um lugar maior na alma”. Assim, tribulações (provações) têm uma maneira de nos desconectar de nossos recursos materiais e posições na vida, e nos conectar mais conscientemente com o que é espiritual e eterno. Por meio de provações, aprendemos lições valiosas sobre nós mesmos e sobre nosso grande Deus; aprendemos sobre nossa própria insuficiência e sobre Sua Completa-Suficiência. E essas coisas nos levam a uma apreciação mais profunda do amor de Deus e a um relacionamento mais íntimo com o Senhor Jesus Cristo.

A jornada dos filhos (teknon) de Israel no deserto tipifica esse aspecto de nossa educação espiritual. De fato, esses versículos em Romanos 5 têm sido chamados frequentemente de “A Jornada do Cristão no Deserto”. No Mar Vermelho, o Senhor tirou Israel do Egito, mas no deserto, Ele tirou o Egito de Israel – ou pelo menos esse era Seu desejo. O primeiro é um ato; o segundo é um processo. Da mesma forma, quando o Senhor nos toma e nos salva, Ele tem muito a fazer em nós no sentido de remover coisas que são inconsistentes com Seu caráter (Sl 139:3; Pv 25:4). Frequentemente há motivos e princípios mundanos em nós que podemos não estar conscientes, os quais Ele Se compromete, com cuidado e precisão divinos, a remover por meio da pressão das provações. Deus não trouxe pecado, tristeza e problemas ao mundo, mas agora que essas coisas estão aqui, Ele as utiliza para nos ensinar lições importantes em Sua escola – lições de obediência, dependência, etc.

No deserto Deus te ensinará
Que Deus você encontrou,
Paciente, gracioso, poderoso, santo,
Toda a Sua graça abundará.

Hinário The Little. Flock. nº 76

V. 3 – Paulo, portanto, declara: “nos gloriamos [orgulhamos/regozijamos] nas tribulações”. Esta é fé falando da perspectiva do que caracteriza a experiência Cristã normal. Na realidade, nosso estado pode ser pobre, e podemos reclamar em vez de nos regozijar quando as provações surgem em nosso caminho, mas ele não está falando aqui de um estado Cristão anormal. Paulo diz: “nos gloriamos”, não porque os Cristãos gostam de provas, mas porque sabemos que tais provações e tribulações trabalham em direção ao nosso crescimento e progresso espiritual. (Rm 8:28; 2 Co 4:17; Sl 4:1). Sob Seu ensinamento divino, somos capazes de nos beneficiar das experiências pelas quais passamos na vida, e é por isso que os Cristãos podem se alegrar em tais ocasiões (Tg 1:2). Sendo assim, sabendo que estas coisas foram permitidas por Deus para o nosso proveito espiritual, quando nos deparamos com provações, em vez de dizer: “Como posso escapar disto?” deveríamos estar dizendo: “O que posso aprender disto?” Deus quer que sejamos exercitados sobre as provas que ocorrem em nossas vidas e que tiremos proveito espiritual delas.

Paulo então fala de uma cadeia de coisas positivas que resultam quando as provações são aceitas apropriadamente das mãos de Deus em fé. Ele diz: “a tribulação produz a paciência [perseverança– JND]. Perseverança traz a ideia de constância no caminho de fé – isto é, ser capaz de continuar, mesmo diante de oposição. Já que tudo do Cristianismo é contrário ao curso do mundo, o Cristão deve viver sua vida contra a correnteza, e é necessária a importante qualidade da “perseverança” ou firmeza. As provações têm uma maneira de intensificar nossas convicções naquilo em que acreditamos e, assim, preparar-nos mentalmente para resistir à oposição a elas relacionada.

V. 4 – Paulo acrescenta uma segunda coisa – “E a paciência [perseverança] a experiência. Suportando uma provação com o Senhor, o crente ganha experiência prática nos caminhos de Deus. “Experiência” significa “prova prática”. Refere-se ao processo de aprendizagem no caminho de fé, por meio do qual adquirimos conhecimento prático de Deus e de Seus caminhos. Provamos por experiência que Ele é tão bom quanto a Sua Palavra. Cada experiência com Deus fortalece nossa confiança n’Ele. Aprendemos de maneira prática de Suas ternas misericórdias e cuidados, e apreciamos essas experiências e refletimos sobre elas, e um dia as levaremos conosco para o céu. Um irmão jovem certa vez perguntou a um irmão mais velho: “Como uma pessoa obtém experiência?” O irmão mais velho respondeu: “Obtemos experiência por meio de experiência; não há outra forma”.

Paulo acrescenta uma terceira coisa: “e a experiência a esperança. Essas experiências com o Senhor não apenas fortalecem nossa fé e confiança em Deus; elas também dirigem nossos corações para o céu – em direção à nossa “esperança”. O resultado é que ela brilha mais em nossos corações e é mais real para nós, e assim vivemos mais em vista disso. A “esperança da glória” (v. 2) – a percepção de que nossa glorificação está muito próxima – nos dá nova energia para suportar por “um poucochinho de tempo” (Hb 10:37). Se perdermos de vista essa esperança, em época de provações correremos o risco de desistir, em vez de resistir. Paulo diz que o crente não fica “envergonhado” de sua esperança, porque – como resultado da fé do crente sendo fortalecida por meio da experiência das provações – ele sabe que está firme e seguro.

V. 5 – O quarto elo nesta cadeia de características Cristãs que Deus forma em Seu povo por meio de provações é que elas têm uma maneira de produzir uma noção mais profunda do amor de Deus na alma. Paulo diz que por meio dessas coisas o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Note, ele não está falando do nosso amor por Deus, mas do amor de Deus por nós. É o desejo de Deus que tenhamos uma noção mais intensa e mais profunda de Seu amor em nossas almas, e essas experiências fazem isso. Note também: Paulo não está se referindo ao crente receber Espírito Santo – chamado de selo (Ef 1:13, 4:30), ou de unção (1 Jo 2:20, 27), ou de penhor (2 Co 5:5; Ef 1:14), que ocorre quando uma pessoa crê no evangelho (2 Co 1:22) – mas de um novo sentimento de Seu amor enchendo nossos corações. É isso que motiva a vida Cristã; nós fazemos o que fazemos para o Senhor porque o Seu amor nos constrange (2 Co 5:14-15).

Vs. 6-8 – Tendo falado da possessão do amor de Deus em nossos corações (v. 5), Paulo continua falando da qualidade e caráter desse amor. Ele compara o poderoso amor de Deus com o amor dos homens. “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a Seu tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o Seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”. Deus demonstrou Seu surpreendente amor na entrega de Seu Filho. Seu amor é tal que Ele nos amou quando não havia nada em nós para amar. Em nosso estado perdido, éramos “ímpios” (v. 6), “pecadores” (v. 8) e até “inimigos” de Deus (v. 10), mas Deus nos amou e deu Seu Filho para nos redimir! Não poderia haver maior demonstração de amor do que essa! Ao declarar que Cristo morreu “por nós”, Paulo está focando o lado substitutivo de Sua obra na cruz – Cristo tomando nosso lugar sob o julgamento de Deus (1 Pe 3:18 – “o Justo pelos injustos”).

Comparando este grande amor de Deus com o amor dos homens, Paulo mostra que o amor dos homens precisa de um motivo para agir (Lc 6:32; Jo 15:19). No modo de pensar do homem natural, a pessoa deve mostrar-se digna de amor. Paulo dá alguns exemplos – uma pessoa deve ser um homem “justo” ou pelo menos um homem “bom”. Em raras ocasiões, os homens ousarão morrer por essas pessoas, por verem nelas algo digno de seu amor. Contudo, os homens não amarão nem morrerão por um assassino ímpio, etc. – tal é o caráter do amor humano. O amor divino, por outro lado, age quando não há nada em seu objeto que seja amável. E isso foi demonstrado no fato de que Cristo “morreu a Seu tempo pelos ímpios” (v. 6). Assim, o amor de Deus é incomparável ao amor dos homens e é infinitamente maior. Contemplar e meditar sobre esse amor produzirá uma transformação de caráter em nossa vida de impiedade para a semelhança com Cristo (2 Co 3:18).

Assim, vemos dessas coisas que nossa educação na escola de Deus é muito diferente da nossa justificação.

  • A justificação é algo que Deus faz por nós (vs. 1-2).
  • A educação espiritual tem a ver com a nossa conformidade com Cristo e é algo que Deus faz em nós (vs. 3-8).

UMA SALVAÇÃO FUTURA DA IRA VINDOURA (cap. 5:9) 

Paulo continua falando de outro benefício da justificação – a certeza de ser salvo da ira que está vindo sobre este mundo culpado. Ele diz: “Logo muito mais agora, sendo justificados pelo [poder do] Seu sangue, seremos por Ele salvos da ira”. Este é um aspecto futuro da nossa salvação que ocorrerá quando o Senhor vier. Os Cristãos que estiverem na Terra naquele momento serão “salvos” do julgamento que virá sobre o mundo, sendo tirados dela completamente. Os que ensinam sobre a Bíblia chamam isso de “o Arrebatamento” (1 Ts 4:15-17; Fp 3:20-21). Os Cristãos que morreram antes desse momento, naturalmente, não precisarão dessa libertação, porque já estarão com o Senhor.

O capítulo 13:11 fala desse aspecto futuro da salvação como algo que está se aproximando de nós a cada dia: “porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé”. Isto é porque Deus estabeleceu um dia – que acreditamos ser em algum momento no futuro muito próximo – quando Ele enviará Seu Filho para arrebatar os Cristãos que estiverem vivendo na Terra. Ninguém sabe quando será esse dia (Mt 25:13). A “ira” vindoura será trazida pelo próprio Cristo (1 Ts 1:10; 2 Ts 1:9; Ap 6:16, etc.). Por isso, o Senhor Jesus é:

  • O Salvador da ira vindoura – para os crentes.
  • O Executor da ira vindoura – sobre os incrédulos.

UMA SALVAÇÃO PRESENTE POR MEIO DE CRISTO NO ALTO (cap. 5:10) 

Tendo falado de uma salvação passada (v. 9a) e de uma salvação futura (v. 9b), Paulo fala agora de uma salvação presente para o crente (v. 10). Este é outro grande benefício de ser justificado pela fé. Ele diz: “Porque se, sendo inimigos, fomos reconciliados a Deus pela morte de Seu Filho, muito mais, tendo sido reconciliados, seremos salvos pelo poder da Sua vida” (JND). Andar por um mundo que se opõe a Deus e aos Seus princípios é para o crente como caminhar por um campo minado espiritual. Há perigos em toda parte, e muito para atrair e estimular nossa natureza caída pecaminosa (a carne). O Senhor entende completamente isso e está ocupado em nos salvar desses perigos de uma maneira prática, enquanto estamos a caminho para o céu.

Para produzir esta presente salvação, o Senhor não nos ajuda descendo do céu literalmente; Ele permanece em Seu lugar no alto e Se ocupa em nos salvar lá de cima. Ele foi ao alto para realizar três coisas com esta finalidade:

  • Para enviar o Espírito, e assim nos dar o poder da vida ressurreta, que quando vivida, neutraliza a atividade da carne (esse assunto será tratado novamente nos capítulos 5:12-8:17).
  • Para ser o Objeto do coração do crente em uma esfera totalmente fora do mundo e da carne (Jo 17:19). Na medida em que somos levados com Ele e com Suas coisas para onde Ele está, o mundo, a carne e o diabo perdem seu poder de influência em nossas vidas (1 Jo 5:4-5).
  • Para interceder por nós em nosso caminho no deserto como nosso Sumo Sacerdote, pelo qual somos salvos dos muitos perigos espirituais no caminho da fé (Hb 7:25).

O GOZO DA RECONCILIAÇÃO (cap. 5:10-11) 

Paulo menciona um último (mas não menos importante) benefício resultante de ser justificado pela fé – o gozo da reconciliação. Ele diz: “E não somente isto, mas também nos gloriamos [regozijamos] em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Qual agora alcançamos a reconciliação”. Houve uma mudança radical na mente do crente, pela qual ele agora tem gozo em seu relacionamento com Deus e sua proximidade com Ele.

Um dos tristes resultados da entrada do pecado neste mundo é que existem relações estranhas entre os homens e Deus. Há pensamentos e sentimentos errados no coração e “entendimento[mente]do homem para com Deus (Cl 1:21). Pelo pecado, os homens em seu estado caído tornaram-se “odiadores de Deus” (Rm 1:30 – KJV), e assim eles têm grande “inimizade contra Deus”(Rm 8:7). Assim, os homens são “alienados” (TB) de Deus e são “inimigos” de Deus (Cl 1:21).

Essa condição de inimizade é totalmente da parte do homem. É o homem que pecou e se afastou de Deus. Mesmo tendo sido o coração do homem corrompido para com Deus, a disposição de Deus para com o homem não mudou. Ele ainda está favoravelmente inclinado às Suas criaturas, pois Ele é o Deus Imutável (Ml 3:6; Hb 13:8; Tg 1:17). Por isso, Deus não é inimigo do homem, embora o homem por meio da queda tenha se tornado inimigo de Deus. Há, portanto, uma grande necessidade de mudança no coração do homem, mas não no de Deus, pois Ele sempre amou o homem. Assim, não é Deus Quem precisa ser reconciliado com o homem, mas o homem a Deus.

Às vezes, quando as pessoas são despertadas para a sua necessidade de serem salvas, elas têm a ideia equivocada de que, como pecaram e estão distantes de Deus, precisam fazer alguma coisa para voltar o coração de Deus para si. Alguns pensam que precisam derramar lágrimas, enquanto outros acham que precisam limpar suas vidas e se tornar religiosos. Mas isso é mal entendimento quanto ao coração de Deus e Seu caráter imutável. A verdade é que o coração d’Ele sempre foi favorável ao homem, embora o homem tenha pecado contra Ele. Desde o dia em que o pecado entrou na criação, Deus tem procurado a libertação e a bênção do homem.

Visto que Deus não precisa ser reconciliado com o homem – mas sim o homem a Deus – a Escritura não apresenta a reconciliação como a conhecemos hoje no sentido moderno da palavra. (Ela é usada em nossos dias em conexão com duas partes que estavam afastadas, e que se aproximam uma da outra com algum grau de compromisso, para que as relações entre elas pudessem voltar a ser como eram antes.) Reconciliação, como apresentada no evangelho, nunca vê Deus e o homem se encontrando em algum ponto no meio, mas o homem (crente) sendo “levado” a Deus (1 Pe 3:18; Ef 2:13). Para evitar essa ideia equivocada, as Escrituras nunca dizem que somos reconciliados com Deus. Tal afirmação poderia transmitir a ideia de que houve algum comprometimento da parte de Deus, assim como da parte do homem. As escrituras afirmam cuidadosamente que os crentes são reconciliados “a” (JND) Deus (Rm 5:10; 2 Co 5:20; Ef 2:16; Cl 1:20). É por isso que Paulo diz que “nós” (crentes) alcançamos “a reconciliação”; não diz que Deus alcança a reconciliação (v. 11).

O apóstolo afirma que já fomos “inimigos” de Deus. Um inimigo é aquele que tem inimizade e maus sentimentos em relação àquele que odeia e, consequentemente, se mantém afastado dele. Esta é a condição do homem caído em relação a Deus. Seus maus sentimentos em relação a Deus são impulsionados pela presença de uma má consciência que o condena como pecador. Isso lhe dá a sensação de haver feito algo errado e o deixa desconfortável em encontrar-se com Deus. A inimizade no coração do homem começou com a sua queda (Gn 3:15), e tem trabalhado para manter os homens longe de Deus desde então.

Apesar de tal condição prevalecer sobre a raça humana, Deus assumiu a tarefa de removê-la e trazer os homens (crentes) de volta a Si. Neste quinto capítulo de Romanos, Paulo mostrou que Deus deu o primeiro passo em direção à reconciliação do homem, oferecendo um sacrifício pelo pecado, a fim de fazer com que o homem seja trazido de volta a Ele. Paulo diz: “Mas Deus prova o Seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (v. 8).

Pai, Teu soberano amor buscou
Cativos do pecado, foram para longe de Ti;
A obra que o Teu próprio Filho fez
Trouxe-nos de volta à paz e nos fez livres.

Hinário The Little. Flock. nº 331

Paulo explica como Deus remove a inimizade no coração de um pecador – é pela “morte de Seu Filho”. Isso se refere ao fato de que o amor de Deus pela humanidade era tão grande que Ele até daria Seu próprio Filho para trazer os homens de volta a Si! Note que as Escrituras não dizem “a morte de Cristo” ou algum outro título do Senhor Jesus. Elas dizem “a morte de Seu Filho. Isso enfatiza o afeto que existia em Seu relacionamento com Seu Filho. Deus tinha apenas um Filho, e O amava muito, mas Ele O deu para salvar os pecadores! O custo para realizar esse sacrifício, portanto, é incalculável. Quando este grande fato – de que Deus ofereceu Seu amado Filho para levar os homens de volta para Si – atinge o coração do pecador pelo poder do Espírito, seu coração é constrangido. Então, aprender por meio do evangelho que a disposição de Deus tem sido favorável ao pecador durante toda a sua vida (mesmo que ele tenha abrigado maus pensamentos em relação a Deus) é mais do que seu coração pode suportar. O amor e a compaixão de Deus conquistam o coração do pecador de tal modo que a inimizade que uma vez ali repousou é dissipada. Todos esses maus sentimentos e ódios são afugentados da alma, e o amor de Deus inunda seu coração. Assim, seus pensamentos para com Deus são todos mudados, e Seu Filho, que voluntariamente Se entregou, torna-Se a Pessoa mais maravilhosa e atraente para ele. Ele uma vez se sentiu desconfortável com a ideia de se encontrar com Deus, mas agora como um crente, está muito confortável em Sua presença e realmente se deleita em estar aí. J. N. Darby observou em relação à reconciliação: “Eu me sinto em casa com Deus. Todos os Seus sentimentos graciosos são para mim, e eu sei disso, e meu coração é trazido de volta para Ele”. Como resultado, o crente exulta em seu novo relacionamento com Deus. “Gloriar-se em Deus” – que é o estado feliz que a reconciliação produz no crente – é verdadeiramente a atitude correta do crente para com Deus. Com isto, nós realmente chegamos a um ponto alto na epístola!

Nós nos alegramos em nosso Deus, e cantamos desse amor,
Tão soberano e livre que fez o seu coração se mover!
Quando perdemos nossa condição, todos arruinados, insatisfeitos,
Ele viu com compaixão e não poupou o Seu Filho!

Hinário The Little. Flock. nº 135

Paulo diz: “agora alcançamos a reconciliação” (v. 11). Isso indica que a reconciliação do crente é um fato consumado; não é algo que esteja esperando para quando ele chegar no céu. Na salvação do homem, é Deus Quem recebe a propiciação e o crente quem recebe a reconciliação.

Quatro Aspectos da Reconciliação 

Existem quatro lugares principais onde a reconciliação é mencionada no Novo Testamento em relação aos crentes:

  • Colossenses 1:20-23 apresenta o lado de Deus – sermos trazidos de volta a Ele em uma condição em que toda a Divindade pode Se deleitar em nós, sendo feitos “santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis perante Ela”(JND). Tudo para Seu prazer e satisfação de Seu coração.
  • Romanos 5:10-11 apresenta o lado do crente (individualmente) – a remoção da inimizade que uma vez nos fez inimigos. Por meio de tal remoção somos feitos confortáveis em Sua presença e assim nos “gloriamos em Deus”.
  • Efésios 2:11-16 – apresenta o lado do crente (coletivamente) – a unidade que existe entre os membros do corpo de Cristo, quer tenham sido judeus ou gentios.
  • 2 Coríntios 5:19-21 – apresenta o testemunho desta grande verdade ao mundo no evangelho.

A Diferença Entre Justificação e Reconciliação 

Também vemos nessas coisas que a reconciliação é diferente da justificação, embora ambas envolvam uma mudança de pensamento.

  • Justificação tem a ver com uma mudança de pensamento na mente de Deus. Deus considera (“pensa ser como tal”) o crente como justo.
  • Reconciliação tem a ver com uma mudança de pensamento na mente do pecador que crê. Seus pensamentos de inimizade para com Deus, resultantes de ser um inimigo de Deus, são substituídos por regozijo em Deus.

As Bênçãos do Evangelho Reveladas nos Capítulos 3:21-5:11 

Assim, nesta subdivisão da epístola (caps. 3:21 a 5:11), o apóstolo Paulo revelou as bênçãos do evangelho de uma maneira ordenada, com a reconciliação sendo a culminação de tudo. Esta subseção termina com o crente em um feliz relacionamento com Deus, desfrutando de Sua companhia. Assim, a justiça, o amor e graça de Deus triunfaram sobre toda a ruína que o pecado causou no homem! O crente tem:

  • Redenção (cap. 3:24) – Somos comprados e libertos do julgamento, do pecado, de Satanás e do curso deste mundo.
  • Perdão (cap. 4:7) – A culpa de nossos pecados foi removida de nossa consciência.
  • Justificação (cap. 5:1) – Fomos absolvidos de toda acusação contra nós, por sermos levados a uma nova posição diante de Deus em Cristo, onde Deus não nos vê mais como pecadores.
  • Reconciliação (cap. 5:10-11) – Fomos trazidos a Deus com pensamentos e sentimentos mudados em relação a Ele, e então nos deleitamos em estar em Sua presença, e Ele Se deleita em nos ter ali.
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