Origem: Livro: Eleição, Livre Arbítrio e Segurança Eterna

Livre para Pecar?

Dúvidas quanto à segurança eterna não vêm da Palavra de Deus, mas do nosso próprio raciocínio. Uma objeção comumente ouvida é de que nos deixa livres para pecar. A perspectiva de perder a salvação parece ser um poderoso incentivo para se viver uma vida piedosa; tire isso e, é dito, podemos fazer o que quiser. A Escritura tanto pergunta quanto responde a essa questão. “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Rm 6:1-2). A salvação não corrige a velha natureza – ela a elimina completamente. O Cristão não está ameaçado com a perda da salvação – cuja impossibilidade já vimos. O velho homem, tudo o que caracteriza o homem natural, foi crucificado. A vida que agora vivemos deve ser aquela vida inteiramente nova em Cristo. “De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6:4, ver também Gl 2:20). Andar segundo a carne está totalmente em desacordo com o Cristianismo.

Nosso andar, como Cristãos, flui do relacionamento em que estamos e não porque estejamos buscando por um. “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados(Ef 5:1). Filhos não deixam de ser filhos só porque se comportam mal. Por outro lado, o Pai não permitirá que Seus filhos continuem a pecar: “E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por Ele, fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho” (Hb 12:5-6). A Epístola aos Hebreus, falando da obra intercessora de Cristo como nosso Sumo Sacerdote, diz: “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7:25). A preservação diária do crente está nas mãos d’Aquele que se entregou por nós. Para aqueles que negam a segurança do crente, fazemos a seguinte pergunta: Quão extremo é o extremo? A obra sumo sacerdotal de Cristo nos mantém no caminho da fé para que não falhemos. Se falharmos (como falhamos), Cristo é nosso advogado para nos restaurar: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2:1). Na curta epístola de Judas, lemos: “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória(Jd 24). O crente pode tropeçar, mas temos Alguém que nos impedirá de cair. A palavra grega em Judas é aptaistos (απταιςτος), ou seja, tropeçar ou vacilar, e não apostasia (αποςταςια). A Escritura nunca fala de um verdadeiro crente apostatando.

Pode ser perguntado: As Escrituras não nos exortam a tornar firme nossa vocação e eleição? “procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição” (2 Pe 1:10 – ARA). Mas aos olhos de quem? Certamente não aos olhos de Deus. Ele nos chamou; Ele conhece Seus eleitos. Mas nós sabemos disso; andamos nós no desfrute disso? No início deste mesmo capítulo, Pedro nos diz que Deus nos deu “Tudo o que diz respeito à vida e piedade” (2 Pe 1:3). Ele também diz: “Pelas quais Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina” (2 Pe 1:4). Aqui não se trata de um novo nascimento, mas de caminhar em comunhão com a natureza divina que agora possuímos. Deus equipou o crente com tudo o que ele precisa para tal caminhada. Devemos, portanto, usar de diligência para tornar segura nossa vocação e eleição, de modo que: assim nos seja “amplamente concedida a entrada no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 1:11). A imagem de um veleiro entrando no porto é frequentemente usada. Ou ele vem com velas esfarrapadas e trazendo as cicatrizes de violentas tempestades; ou então entra com sua bandeira tremulando e as velas intactas. Como será a nossa entrada?

Ao longo da maior parte da história da cristandade, a salvação foi erroneamente apresentada como uma promessa. Algo pelo qual esperar com incerteza e temor, a ser decidido no Tribunal de Cristo.[14] Certamente, todos os nascidos neste mundo estão caminhando para a condenação. No entanto, o crente pode agora dizer com segurança: “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8:1).[15] Na verdade, podemos perguntar: “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, O qual está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rm 8:33-34). João também escreve: “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê n’Aquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em [juízo], mas passou da morte para a vida” (Jo 5:24). Se Salvação não é uma realidade presente, então, estamos perdidos. Não há espera para sabermos nosso destino final, na verdade, o crente nunca enfrentará o juízo.
[14] Este ensino errôneo resulta de fazer confusão entre muitas escrituras: o julgamento dos vivos (Mt 25:31), o grande trono branco (Ap 20:11), etc. Se alguém não tiver certeza sobre este assunto, eu recomendo: J. N. Darby, O que as Escrituras Ensinam a Respeito do Juízo Vindouro, Collected Writings Doctrinal #3.
[15] O incorreto acréscimo a esse versículo (na versão ARC) é emprestado do versículo quatro, onde está pertence: “Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8:4).

É verdade que tanto crentes como incrédulos,[16] devem comparecer perante o tribunal de Cristo (2 Co 5:10). No entanto, é importante notar que “tribunal de Cristo” [“trono do juízo” – KJV] é uma palavra única em grego (βήμα, bema) e significa um degrau ou pódio – a palavra juízo não aparece no original. Embora fosse usado para significar um tribunal, também se referia ao local onde a coroa do vencedor era dada em jogos de atletismo, o podium. Para o crente, é “para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal” (2 Co 5:10). Do lado positivo, as recompensas serão dadas; ao contrário, tudo o que poderia obscurecer nosso relacionamento com Deus será manifestado e colocado de lado – sem dúvida haverá uma sensação de perda e tristeza ao vermos as coisas da perspectiva de Cristo. Mas não é uma questão de salvação nem de expiação de pecados passados; a obra de Cristo pelo crente está completa. Paulo também toca neste assunto ao escrever aos Romanos: “De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm 14:12). Mas significativamente, isso não aparece nos primeiros oito capítulos onde o Evangelho de Deus é apresentado. Paulo usa a expressão na segunda metade do livro quando fala de nossa conduta uns para com os outros e, especialmente, de como agimos para com os fracos na fé. Sabendo que ele compareceria ao Tribunal de Cristo, qual foi o efeito sobre o apóstolo Paulo? Teve medo Não por si mesmo; antes, motivou-o a pregar o evangelho: “Assim que, sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimos os homens” (2 Co 5:11). Quando estivermos perante o tribunal de Cristo, seremos semelhantes a Ele – conformados à Sua imagem: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (1 Jo 3:2). Onde está o medo do juízo para o crente quando sabemos que seremos como o Juiz?
[16] Haverá mais de mil anos entre o comparecimento dos crentes diante do Tribunal de Cristo – quando a noiva se prepara (Ap 19:7) – e o julgamento dos ímpios (Ap 20:11).

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