Origem: Livro: O Espírito Santo

O Livro de Atos

Até a cruz os discípulos estavam com o Senhor Jesus pessoalmente, mas Deus tinha algo maior em vista para eles e para nós. No Evangelho de João, Ele fala aos Seus discípulos sobre a vinda do Espírito Santo, o Consolador, que habitaria com eles para sempre. Isso foi, e continua sendo, algo extraordinário – nós realmente entendemos o significado disso? O Senhor, até aquele momento, tinha sido seu recurso pessoal imediato. Ele estava, no entanto, prestes a retornar ao Pai. Outro[6] viria do Pai para ficar com eles para sempre (Jo 14:16). Tudo dependia da partida do Senhor que, como sabemos, foi por meio da cruz. Eles haviam testemunhado milagres poderosos feitos pelo Senhor, mas fariam maiores: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai” (Jo 14:12).
[6] Outro do mesmo tipo – a palavra grega é allos e não heteros (de onde obtemos a palavra heterogêneo, diverso em espécie ou natureza).

A presença permanente do Espírito de Deus nesta terra dá ao Cristianismo seu caráter definidor. Em Atos, lemos sobre isso primeiro com os discípulos (At 2:1-4), e depois com os 3.000 (At 2:38-41); isto é seguido pelos crentes samaritanos (At 8:17), o apóstolo Paulo (At 9:17), Cornélio e aqueles com ele (At 10:44), e os prosélitos de Éfeso (At 19:6). A atividade do Espírito Santo é vista em todos os lugares nesse ínterim. Corretamente, foi sugerido que Atos dos Apóstolos deveriam ser chamados de Atos do Espírito Santo. Na verdade, o Espírito Santo é especialmente visto neste livro como uma Pessoa Divina agindo de acordo com a vontade Divina: “E disse o Espírito a Filipe” (At 8:29); “E, pensando Pedro naquela visão, disse-lhe o Espírito (At 10:19); Disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo” (At 13:2).

Quando os samaritanos receberam o Espírito Santo pela primeira vez, os apóstolos oraram por eles e lhes impuseram as mãos. “Pedro e João… os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo… Então, lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo” (At 8:14-15, 17). Pode-se perguntar, este não é um exemplo de oração para o Espírito Santo? Não lemos sobre os samaritanos pedindo; isso foi por iniciativa dos apóstolos. A forma como isso aconteceu serviu a um propósito único daquela época. Os judeus não tinham relações com os samaritanos (Jo 4:9). Já era difícil para um judeu comer com um gentio (Gl 2:12), mas os samaritanos eram uma história totalmente diferente. Eles não eram apenas gentios, mas sua religião nacional era uma versão corrompida do judaísmo. Os samaritanos, tendo rejeitado Jerusalém, fizeram do Monte Gerizim seu centro de adoração (Jo 4:20). Eles eram realmente desprezados. Ser trazido ao mesmo corpo de crentes pelo Espírito Santo era algo difícil para um crente judeu aceitar. Pode-se, portanto, compreender o profundo significado de Pedro e João orando e impondo as mãos sobre aqueles a quem por tanto tempo desprezaram e rejeitaram. Havia um potencial muito grande de igrejas serem formadas de acordo com linhas de nacionalidade, mas isso não era para acontecer. Paulo, escrevendo aos colossenses, declara que toda identidade nacional é posta de lado em Cristo: “Onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos” (Cl 3:11). É pelo Espírito Santo que todos somos introduzidos naquele corpo: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito” (1 Co 12:13).

A imposição física das mãos é uma declaração de identificação (At 13:3; 1 Tm 5:22). Pedro e João, impondo as mãos sobre os crentes samaritanos (e isso, em conexão com o recebimento do Espírito Santo), os identificou abertamente com a Igreja nascente em Jerusalém. Haveria um corpo espiritualmente e um corpo na prática. Deve ser, portanto, com grande tristeza que notamos que muitas assim chamadas igrejas surgiram ao longo de linhas de nacionalidade e sectarismo – eu digo assim chamadas porque o uso comum dessa palavra (igreja) é inconsistente com seu significado na Escritura.

Quando chegamos a Cornélio e seus companheiros, lemos: “E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra (At 10:44). Alguém pode perguntar, por que não há a imposição de mãos neste caso? O texto dá a razão de forma bastante clara: “E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios” (At 10:45). Aqueles crentes judeus que acompanharam Pedro ficaram completamente surpresos; o dom do Espírito Santo foi derramado sem nenhum tipo de intervenção. O judeu não podia reivindicar superioridade sobre o gentio. O recebimento do Espírito Santo foi independente deles; era vindo apenas de Deus. O apóstolo Paulo constantemente encontrava hostilidade dos judeus por sua obra entre os gentios (1 Ts 2:14-16). O gentio ser trazido à benção fora do judaísmo era, para o judeu, intolerável. Por esta razão, a circuncisão foi frequentemente pressionada sobre os primeiros Cristãos; um Cristão circuncidado era mais aceitável do que um incircunciso (Gl 2:3-5). Isso o levava ao judaísmo. Isso foi, no entanto, uma corrupção do evangelho e o apóstolo Paulo o denunciou veementemente (Gl 1:6-9; Fp 3:2-3). Os eventos naqueles dias, entre os crentes gentios, assemelharam-se ao batismo do Espírito Santo no dia de Pentecostes entre os crentes judeus. De fato, Pedro se lembra da ocasião em que narra a conversão desses gentios aos seus irmãos judeus em Jerusalém (At 11:16).

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