Origem: Livro: Os Evangelistas
Lucas 14-16
Nestes capítulos temos o modo característico do Senhor neste Evangelho muito fortemente marcado. Ao longo deles, Ele é o Mestre, o social Filho do Homem Se dirigindo a todos ao Seu redor, seja no poder de Alguém que estava convencendo a consciência ou na graça de Alguém que poderia prender o coração.
De uma forma geral, o conteúdo desses capítulos é muito peculiar a este Evangelho. Várias parábolas são apresentadas que não encontramos em nenhum outro lugar. E posso observar aqui que há mais parábolas em Lucas do que em qualquer outro evangelista; e isso ainda mostra a mente e a ação especiais do Senhor neste Evangelho.
À medida que percorremos as páginas da narrativa evangélica, ou os caminhos do Senhor Jesus Cristo neste mundo, que caráter vemos gradualmente se revelando. E que simples relato da verdade estamos ouvindo! Em cada página (para usar a linguagem de outro) somos impressionados por uma franqueza, uma simplicidade e uma naturalidade que não podem ser encontradas no mesmo grau em nenhum outro livro; e quanto ao seu grande Tema, Jesus, quem, a não ser admitindo a inspiração da Escritura, poderia explicar o fato de que alguns pescadores teriam concebido a ideia de um caráter de tal perfeição como nenhum autor jamais igualou, mesmo na época ou no país mais esclarecido? “O evangelho traz uma marca de verdade tão grande, tão marcante, tão inimitável, que seu inventor teria sido mais maravilhoso do que o seu Herói é.” E, como tem sido dito frequentemente, não há descanso para a razão senão na fé; pois a existência da Bíblia não pode ser explicada sem trazer Deus à questão.
Não há momento ou passagem em Sua história em que não pudéssemos ter parado para ouvir tudo isso. Mas eu o observo aqui, ao entrarmos em uma parte do nosso Evangelho, em que o bendito Jesus trata com homens em grande variedade de caráter; e enquanto o evangelista O conduz ao longo da cena multiforme, a naturalidade da narrativa, e a perfeição d’Aquele que é o grande Assunto dela, podem ser facilmente notadas por todos nós.
A primeira cena se passa na casa de um fariseu, onde, como era Seu costume, Ele tinha vindo, a convite, para jantar. Os príncipes do grupo, como podemos julgá-los, observam a Ele para enredá-Lo assim que Ele entrar na casa. Ele responde rapidamente aos pensamentos deles, tornando-os seus próprios juízes e testemunhas.
Estando Ele livre, se assim posso dizer, para olhar ao redor, depois de entrar, o primeiro objeto para o qual Ele olha são os convidados tomando seus lugares à mesa.
Ele está ofendido. A velha mente de Adão, e não a mente segundo Deus, formou essa circunstância, por mais simples que fosse. Eles escolheram os primeiros lugares. Isso era Adão. Isso estava de acordo com aquele desejo de ser algo, que, antigamente, se enxertou no coração do homem. Jesus não podia deixar de Se ofender. Nele, desde o começo até agora, e até a morte na cruz, havia, e haveria, a plena contradição disso. Adão não era nada – uma criatura do pó – e ele buscava ser tudo. Jesus era tudo, mas esvaziou-Se de tudo. Ele Se tornou um Homem e, nessa forma, humilhou-Se de todas as maneiras. Na Pessoa que Ele assumiu, ou na posição que Ele ocupou na vida – no testemunho que Ele deu de Si mesmo, ou na nuvem com a qual Ele velou Sua glória – em tudo isso Ele sempre ocupou o lugar mais baixo. Mas aqui, na casa do fariseu, Ele Se encontra no meio daqueles que estavam escolhendo os lugares mais elevados. Como Ele poderia deixar de Se ofender? Tais convidados não eram segundo a Sua mente.
Então o anfitrião que os convida se torna Seu objeto. Mas não havia alívio para Ele ali. O egoísmo, sob outra forma, se mostra a Ele. A mesa do anfitrião não era como a que Ele vinha preparando neste mundo, desde que entrou nele. Pois Ele estava alimentando multidões que não tinham nada para Lhe recompensar. O egoísmo do “velho homem” O entristecia agora, como seu orgulho o fizera pouco antes. O anfitrião não é segundo a mente desta Testemunha perfeita da mente de Deus, assim como não eram os convidados.
Então, depois que os convidados estão assentados e o banquete prossegue, a conversa à mesa leva Jesus a outras tristezas.
Acredito que foi um movimento gracioso que veio ao coração de um dos presentes, quando ele disse: “Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus”. Ele foi, não duvido, atraído pelo Senhor. Mas isso não importa. Isso direcionou a mente do Senhor a pensamentos tristes sobre toda a cena que estava sob Seus olhos naquele momento. Ele viu uma mesa bem farta. Convidados em grande número estavam lá – tantos quantos tinham sido convidados. Mas o pensamento parece surgir em Sua mente – Se Deus houvesse preparado essa mesa, Ele não teria reunido Seus convidados tão facilmente. E esta reflexão dá ocasião à parábola da Ceia das Bodas.
Foi um pensamento doloroso para Jesus – e assim será para aqueles que têm a mente d’Ele. Há alívio para isso certamente no conhecimento disto, que “o fundamento de Deus fica firme” – e que a incredulidade do homem nunca tocará os propósitos de Deus. Mas pensar que, quando o homem põe uma mesa, convidados serão encontrados ali, tantos quantos forem convidados; mas que quando o Deus vivo faz um banquete, nenhum dos que são meramente convidados come de Sua ceia! Uma porção de seu próprio caldo lhes é preferível. Um pedaço de terra, uma junta de bois ou uma esposa afastarão as afeições do melhor de nós – e o Senhor da vida e da glória não encontraria nenhum convidado em Sua custosa mesa, se Ele mesmo não os constrangesse e os trouxesse para dentro. Um simples convite nunca resolveria. Foi tentado, mas falhou – e Aquele que arcou com os custos de preparar a mesa teve de ter o trabalho de reunir os convidados. Seus bois e seus animais cevados encherão a mesa, e seus servos percorrerão as ruas e bairros, caminhos e atalhos, para conseguir alguns que deles comessem.
Alguma vez um banquete foi tratado assim? A cena presente responde a isso, enquanto o coração triste de Jesus refletia sobre isso.
Certamente Ele veio ao mundo para estar completamente fatigado, como alguém disse. Como que Ele poderia deixar de ser um Homem de dores em um lugar moldado e preenchido, em toda a sua ordem, pela soberba da vida e pela concupiscência dos olhos? Ele não esperou por Suas horas mais sombrias para que pudesse estar “experimentado nos sofrimentos”. Os momentos mais promissores, as horas sociais de amizade humana, trouxeram sua tristeza com eles para o coração deste bendito Estrangeiro. E esta parábola nos diz isso. (Em Mateus, esta parábola está em outra conexão, tendo referência mais direta ao que era Judaico – veja Mateus 22).
Não seguimos, no entanto, nosso Senhor por toda a jornada ainda. Nós O vimos aflito e ofendido ao entrar na casa, e enquanto estava na casa; mas agora temos que observá-Lo ao sair dela.
A multidão O segue. Mas isso não é suficiente. Isso era feito todos os dias. Milhares O seguiam continuamente, aglomerando-se e pressionando-O ao longo das ruas ou caminhos. Mas isso não alcançará o coração de Cristo (Lucas 8:45). Nem essa ação da multidão; pois não fala de sua necessidade consciente d’Ele como um Salvador. É antes sua adoção d’Ele como um Mestre ou um Exemplo. E isso, como a primeira coisa, não é suficiente. Ele Se volta para Se dirigir a essa multidão com palavras de solene advertência. Sua alma, no meio deles, não está com a tranquilidade que expressa uma total recepção d’Ele; pois eles não tinham vindo a Ele com o devido caráter. Nicodemos O teria honrado como um Rabino, ou um Erudito – o povo no lago da Galileia como um Rei – a multidão aqui como um Exemplo ou Precursor; mas Ele não está à vontade em tal companhia – não totalmente à vontade. Ele não está tão entristecido como talvez estivesse na casa que acabara de deixar, mas não havia descanso nem gozo para Seu espírito aqui. Ele deve seguir adiante antes de alcançar Seu descanso, como nos dizem Suas palavras à multidão.
Quando refletimos sobre isso por um momento, podemos muito bem dizer, não sabemos como bendizer suficientemente a Deus por isso. Dar a Ele da forma ou maneira que quisermos, não vai dar certo; precisamos receber d’Ele. O fariseu Lhe dá um banquete dentro da casa, e a multidão Lhe dá seu respeito e admiração do lado de fora; mas Ele está triste, ou, no mínimo, insatisfeito. Ele passa por tudo isso até que “publicanos e pecadores” se aproximam para ouvi-Lo. Eles não vêm para Lhe dar algo, mas para obter algo d’Ele (Lucas 15:1). Então Ele Se alegrou em espírito; Seu coração provou o fruto desejado da jornada deles, e ficou satisfeito.
O que pode superar isso em consolação para nós? Esses pobres publicanos, esses contaminados da cidade, não teriam lugar na casa do fariseu; nem fingiram seguir o Senhor com a multidão, pois são indignos e sabem que o são. Mas eles podem ir e tocar a orla de Sua vestimenta, ou levar seus cântaros à Fonte, e ali “em vergonha e pobreza se assentarem”. E assim o fazem; e assim são bem-vindos a fazer. Ele fica mais feliz em dar a eles do que eles em receber. Jesus agora havia viajado para longe – para longe no espírito, quero dizer. Ele tinha ido, permanecido e saído da casa do fariseu, e ao longo da estrada com multidões de admiradores; mas era cansativo para Ele. Ele não encontrava descanso, até que o pecador veio para obter d’Ele. Pois o gozo que preenche este capítulo nos diz que Seu cansaço agora havia acabado. O rebanho que acolheu a ovelha perdida, a casa que testemunhou a recuperação da moeda e o lar do pai que acolheu o filho pródigo que retornou, desencadearam, como em figuras, o gozo do Salvador agora no meio de publicanos e pecadores.
Isto está além de qualquer expressão – é maravilhoso dizer isto; mas para Jesus esta era a casa de Deus – para Ele esta era a porta do céu.
Ele havia sido acusado pelo fariseu de receber pecadores, como se Seu ministério não garantisse a justiça, mas desse liberdade ao mal. Claro que Ele poderia ter alegado várias respostas a isso. Ele poderia ter defendido Sua graça aos pecadores, com base na necessidade do caso, ou com base na glória de Deus. Mas neste capítulo, do começo ao fim, em cada uma das belas parábolas, Ele defende a graça simplesmente com base no gozo que Ele, que o Pai e que todo o próprio céu estavam encontrando nela.
Pense nisso, amado! Se o Senhor Deus for questionado sobre a razão de Seus caminhos de salvação para com você e para comigo, Ele diz que tem prazer neles – eles fazem com que Ele e Sua gloriosa habitação se regozijem. Que garantia, que consolo brotam disso! Você acha que Seus vizinhos murmurariam pelo gozo do pastor por ter ele agora encontrado sua ovelha perdida; ou os amigos da mulher ressentiriam da alegria dela, enquanto ela colocava sua moeda no colo? E assim é com Deus. É Seu próprio gozo na salvação dos pecadores que Jesus propõe como Sua garantia ou defesa. E por que o homem deveria murmurar ou desacreditar? Será que o Senhor não pode preparar gozo para Si mesmo, assim como para o pastor? Quem ousa negar ao nosso coração a garantia e o consolo disto! Vamos acalentar o pensamento profundamente em nossa alma de que o evangelho da nossa paz seja uma fonte de gozo para Aquele que o planejou e realizou; que nosso Deus não fez nada menos do que isso, preparou o cenário de Sua própria felicidade em nossa salvação, como essas parábolas nos testificam.
Este capítulo é, dessa forma, a porta dos céus para nós, assim como foi para os pés cansados de Jesus. Ele havia viajado, como vimos, passando por fariseus, convidados, anfitriões e multidões de ouvintes; e agora estava assentado com pecadores que sabiam que precisavam d’Ele e vinham para obter o que queriam. O céu, em certo sentido, é apenas este lugar estendido – a habitação de pecadores salvos e de um Salvador cheio de gozo.
O Senhor, como descobriremos agora enquanto ainda prosseguimos com Ele, tem, no entanto, outros com quem conversar ainda. Ele tem que encontrar discípulos, depois de toda essa variedade que temos observado. E, consequentemente, no início de Lucas 16, Ele os encontra. Ele lhes dá uma palavra para despertar sua diligência e encorajar suas esperanças. Ele lhes diz para almejarem alto em suas expectativas e para direcionarem suas energias no proveito certo e eterno. Sendo discípulos, eles devem ser considerados como tendo já retornado como pródigos, e o que cabe agora é valorizar as esperanças que a graça havia colocado diante deles e lhes diz: “granjeai amigos” de todo talento e oportunidade, sabendo que seu trabalho não seria em vão no Senhor.
Essa foi uma palavra oportuna aos discípulos, imposta a eles na parábola do mordomo infiel. Pois nosso grande Mestre havia escolhido palavras – palavras refinadas em fornalha de barro, purificadas sete vezes; e Ele as “maneja bem” entre todos. E isso podemos agora ver ainda mais; pois os fariseus devem fechar essas cenas, como as abriram.
Os princípios celestiais com os quais o Senhor acabara de exortar Seus discípulos, esses homens ridicularizam, pois eram cobiçosos. Eles eram tudo o que o mundo podia estimar – e essa estimativa eles buscavam e serviam; e, é claro, eles não podiam deixar de ridicularizar os princípios celestiais do Filho de Deus. Mas Ele expõe o estado moral deles; e então, em uma parábola, manifesta a condenação desse estado. Ele os convence de terem sido falsos àquela mesma lei na qual se vangloriavam; e também de terem recusado aquela palavra do reino que o Deus da lei havia enviado para sucedê-la. Toda a condição moral deles poderia, assim, em uma ou duas frases, ser exposta e repreendida. Mas isso não era nada para eles; eles eram servidos no mundo; seus princípios os alimentavam suntuosamente e os vestiam de linho fino e púrpura; e nisso eles estavam satisfeitos, embora sobre isso repousasse o julgamento de Deus.
Esta foi a palavra solene de encerramento, dirigida aos “religiosos perfeitos” (como os fariseus foram chamados) daquele dia. A mente do Senhor faz esta sua última revelação nesta grande ocasião moral. Ela havia lidado com convidados, e anfitrião, e multidões, e discípulos, e fariseus. Ela havia dividido a palavra da verdade entre eles. E se prezamos os pensamentos de Deus em tudo o que vemos ao nosso redor, estudaremos tais exercícios da mente de Cristo como esses. Sua lâmpada, desta forma, deveria brilhar em nossa cabeça, e por Sua luz deveríamos caminhar por todas as trevas que tão densa e variadamente nos cercam.
Não conheço nada como uma grande exibição de moral divina além disto. A alma, ao passar por estes capítulos, deve se perder em admiração. O estilo do Senhor aqui ilustra o que outro disse sobre Ele – “Ele observou Sua oportunidade de instruir; isso foi trazido à tona na ocasião adequada. Daí o perigo de sistematizar o Cristianismo; pois não foi assim introduzido. A lei era um sistema ordenado, mas a graça e a verdade eram incapazes de serem exibidas de uma só vez (a não ser em Sua Pessoa), mas exigiam ser reveladas gradualmente, à medida que as necessidades do homem se revelavam.” Isto é muito justo. E disso se deduz, muito justamente também, “que não é de pouca importância notar atentamente, não apenas o assunto, mas a maneira, dos discursos do Senhor; aquilo que os levou a isso, bem como o ponto para o qual eles tendem.”
Mas há outra coisa a ser observada aqui, e ela se volta para nós para investigação e advertência. Jesus julgou com julgamento justo. Ele não deveria ser bajulado. Ele não julgava pessoas ou circunstâncias em relação a Si mesmo. É aí que falhamos tão comumente em todos os nossos julgamentos. Vemos objetos, sejam pessoas ou coisas, muito sob nossa própria luz. Como essas circunstâncias nos afetaram? Como essas pessoas nos trataram? Essas são as perguntas do coração; e, pela resposta que recebem, o julgamento é muito comumente formado. Somos bajulados em bons pensamentos sobre as pessoas e desprezados em pensamentos duros. Jesus não era assim. O elogio e a boa comida do fariseu não afetaram Seu julgamento sobre toda a cena em sua casa. A simpatia de uma hora social não poderia relaxar a retidão de Seu senso das coisas; como a recente confissão de Pedro, em outra ocasião, não impediu a repreensão que a mundanismo de Pedro merecia. Jesus não deveria ser bajulado. Como o Deus de Israel nos tempos antigos, Sua arca pode ser vangloriada e trazida para a batalha com um clamor; mas Ele não deve ser lisonjeado por isso. Israel cairá por sua injustiça (1 Sm 4).
Que lição para nós! Que razão temos para nos guardar contra os julgamentos do amor-próprio! Contra provar e comparar coisas ou pessoas em relação a nós mesmos! Esta mente firme e inabalável de Jesus pode ser nosso encorajamento, bem como nosso padrão, nisto; e podemos orar, para que nem “a bajulação nem o rancor deste mundo” nos movam de ter nossos pensamentos como diante do Senhor o dia todo!
No entanto, não podemos permitir que a percepção do caminho de Deus, como sendo tão acima do nosso, e das perfeições de Jesus como servindo apenas para expor nossos muitos erros, nos devorem de demasiada tristeza (2 Co 2:7). Estamos dispostos frequentemente a considerar e lamentar sobre experiências, a ponto de ficar abaixo do lugar onde a fé nos colocaria. Isso, no entanto, não deve ser permitido acontecer. A fé deve prevalecer. E a fé, assim como a convicção, tem um poder de separação. A convicção do pecado separa para o lugar da tristeza, como fez com Natanael para a sombra da figueira, e como fará com o arrependido Israel, em breve, “cada linhagem, à parte, e suas mulheres, à parte” (Zc 12:14). Mas assim é a fé. Ela concentra o poder de ver e ouvir em seu objeto, abrindo o ouvido de um filho pródigo para a música que o Pai havia ordenado, mas fechando-o até mesmo para a lembrança de loucuras passadas e para os murmúrios da presente e consciente frieza.
Fé preciosa! Ela tem a ver com Deus. O filho pródigo ficou em silêncio. Ele não deteve a mão do pai, como se estivesse fazendo muito por ele. Isso pode ter parecido modesto e humilde, mas não teria sido assim – pois a verdadeira humildade esquece a nós mesmos. Seu silêncio à mesa era fé. E tinha um rico banquete diante dele. Entre outras coisas, poderia ter se alimentado da verdade bem conhecida, de que as afeições ascendentes nunca são iguais às descendentes. Um filho nunca ama um pai com a intensidade com que um pai ama seu filho. Sim, e mais do que isso – o pai fica satisfeito em tê-lo assim. Um pai fica satisfeito em saber que seu amor nunca obterá sua “recompensa disso” vinda do seio do filho.
Esses pensamentos podem ter alimentado o coração do filho pródigo, enquanto ele comia em silêncio do bezerro cevado. E eles devem ser nossos pensamentos para com nosso Pai celestial. Não que Ele seja indiferente ao estado de nosso coração para com Ele. Isso não seria nem Sua glória nem nosso gozo. Mas Ele sabe que Seu amor será sempre o maior. Ele sempre será Aquele a sentir “muito mais” como Davi com Jônatas. Pois Ele está no lugar mais elevado; e esse lugar manterá Seus direitos e atributos. E está entre os atributos da afeição descendente (que sai do lugar mais elevado), como eu disse, fluir com a corrente mais rica e generosa; e tudo o que a fé tem a fazer é permitir isso e se regozijar que seja assim. A fé ascende a Deus e faz essa jornada em silêncio. Nem mesmo as queixas e confissões de um espírito justo e julgando a si mesmo devem ser ouvidas. Mas nada, a não ser aquela “luz inacessível”, pode transcender a elevação daquele descanso e morada até a qual ela carrega o coração em triunfo. “Senhor: Aumenta-nos a fé”! (ARA)
