Origem: Livro: Os Evangelistas

Lucas 17:1-10

A reflexão com a qual o Senhor abre esses versículos parece ter sido sugerida à Sua mente por essas cenas de Lucas 14-16. Tudo o que estava passando sob Seus olhos e ouvidos O levou a pensamentos de ofensas; e tais pensamentos encontram suas declarações aqui, em segredo com Seus eleitos. Ele encontrou obstáculos para a manifestação e estabelecimento de Seu reino no lugar onde tudo deveria ter sido preparado para isso; e Ele é levado a pronunciar “ai” sobre o ofensor.

Ofensas são aqueles princípios que são inconsistentes com a natureza de Seu reino, e impedem sua exibição – “impedimentos e oposições feitas à fé e à santidade”. E para, talvez, proteger mais cuidadosamente Seus discípulos contra ofensas, o Senhor lhes dá duas admoestações, de acordo com as quais duas virtudes essenciais de Seu reino deveriam ser preservadas – sua pureza e sua graciosidade. Se houve transgressão, Ele requer repreensão; pois isso manteria Sua casa em ordem pura ou santa; se houve arrependimento, Ele ordena perdão; pois isso manteria Sua casa em ordem amorosa e graciosa.

Mas essas demandas que Ele faz ao coração de Seus discípulos, eles descobrem que estão muito além da capacidade deles, e os levam a perceber que eles precisam obter força de Outro para eles. Sob essa consciência eles dizem, “Aumenta-nos a fé” – fé sendo aquilo que nos leva aos recursos de Um que é maior do que nós, e extrai virtude daquilo que foi divinamente ordenado para atender à nossa necessidade.

Pois, além de nossas meditações anteriores sobre fé, eu poderia dizer que, considerada como aquilo pelo qual um pecador é justificado, fé é simplesmente a crença em um testemunho, sendo esse testemunho o evangelho; nossa justificação sendo “pela fé, para que seja segundo a graça”. Isso sugere que a obra deve ser excluída. E isso o capítulo 4 de Romanos discute e ensina. Mas a Escritura também fala de fé como o princípio que anima a vida de um santo. Isso o capítulo 11 de Hebreus nos apresenta. E, nesse caráter, a fé é uma virtude ou princípio crescente na alma. Pode ser fraca ou forte, grande ou pequena. Como lemos aqui, “Senhor, aumenta-nos a fé”; e como lemos em outro lugar, “homens de pequena fé”; e novamente, “Se tivésseis fé como um grão de mostarda”; e novamente, “a vossa fé cresce muitíssimo”.

Neste sentido, a Escritura considera a fé, como eu disse antes, um princípio crescente na alma. É nossa entrada no poder do testemunho que é crido; “o firme fundamento [confiança] das coisas que se esperam e a prova [convicção] das coisas que se não veem”. É, podemos dizer, o poder da vida divina na alma, e pode estar ali saudável e com vigor, ou o contrário. Ela representa a energia do reino de Deus dentro de nós. A Escritura a menciona como aquilo que apreende Deus, espera por Ele, anda com Ele. De modo que se a fé é forte, essas e outras graças e ações semelhantes são novas e vivas. E sendo assim, deve ser com humilhação real e não fingida que falamos, quando confessamos que nossa fé é fraca; pois isso, se feito em inteligência espiritual, é uma confissão de quão pouco nossa alma está viva para Deus.

A Escritura, não preciso dizer, está repleta de avisos deste grande princípio. Ela considera a fé em sua fonte, suas atuações, suas qualidades e seu valor diante de Deus, e coisas semelhantes. E o Senhor aqui, em resposta ao desejo de Seus apóstolos por um aumento dela, descreve-a a eles em seus dois principais atributos – sua soberania, por assim dizer, e sua renúncia do “eu” – sendo aquilo que pode comandar que a árvore se lance no mar, mas então voltará para Deus e dirá que tudo é nada. Essas são suas excelências necessárias. A fé toma toda a bênção de Deus, mas deixa toda a glória com Deus (Rm 4).

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