Origem: Livro: Os Evangelistas

Lucas 17:11-19

Esses poucos versículos formam outra porção distinta do nosso Evangelho. O Senhor é novamente visto em Seu caminho para Jerusalém, passando por Samaria e Galileia; e nessa cena – simples em seus materiais como é – Ele toma um lugar diante de nós que pode muito bem encher nossa alma de regozijo e louvor – o lugar do altar, o lugar ordenado por Deus para sacrifício e adoração. Isso sugere um assunto de profundo interesse para nossa alma, que eu seguiria um pouco.

Todo conhecimento de Deus deve fluir da revelação, pois o homem pela sabedoria não conhece a Deus (1 Co 1:21). A verdadeira adoração tem a mesma fonte. Cada um destes – conhecimento de Deus e adoração – deve sempre estar de acordo com tal revelação que Ele tem no tempo, ou na dispensação, dado de Si mesmo.

Entendendo isso, eu poderia citar brevemente uma linha de verdadeiros adoradores desde o início.

Abel era um verdadeiro adorador; pois ele adorava em fé, ou de acordo com a revelação (Hb 11). O primogênito do rebanho era de acordo com a promessa da Semente ferida da mulher, e de acordo com as túnicas de pele, com as quais o Senhor Deus havia coberto seus pais.

Noé seguiu Abel e adorou na fé da Semente ferida da mulher. Ele tomou a nova herança somente em virtude do sangue (Gn 8:20). Ele era, portanto, um verdadeiro adorador também.

Abraão era um verdadeiro adorador, adorando a Deus como Ele Se revelou a ele (Gênesis 12:7).

Isaque, precisamente no caminho de Abraão, adorou o Deus que lhe havia aparecido; não fingindo ser sábio, mas, como Abraão, elevando seu altar ao Deus revelado (Gn 26:24-25).

Jacó era um verdadeiro adorador. O Senhor lhe aparece em sua tristeza e degradação, na miséria à qual seu próprio pecado o havia reduzido, revelando-Se como Aquele em Quem “a misericórdia triunfa sobre o juízo”; e ele imediatamente reconhece Deus como assim revelado a ele; e este Deus revelado de Betel foi seu Deus até o fim (Gn 28, 35). Aqui estava a revelação aumentada de Deus, e a adoração seguindo tal revelação; e esta é a verdadeira adoração.

A nação de Israel era uma verdadeira adoradora; pois Deus havia Se revelado àquela nação e estabelecido Seu memorial no meio deles. Eles sabiam o que adoravam – João 4:22. Mas no meio dessa nação adoradora ainda poderia haver verdadeiros adoradores que não se conformavam com a ordem divinamente estabelecida, desde que seu afastamento dela também fosse de acordo com a nova revelação de Deus. Como, por exemplo, Gideão, Manoá, Davi, que eram todos verdadeiros adoradores, embora oferecessem sacrifícios em pedras ou em eiras, e não no lugar nacional designado; apenas porque, por uma nova e especial revelação, o Senhor havia consagrado aqueles novos altares (veja Juízes 6, 13; 1 Crônicas 22). O leproso curado, nesta passagem do nosso Evangelho, exatamente neste princípio, era um verdadeiro adorador, embora, como Gideão, Manoá e Davi, ele se afastasse da ordem usual; apenas porque ele apreendeu Deus em uma nova revelação de Si mesmo. A cura que ele sentiu em seu corpo tinha uma voz no ouvido da fé, sendo somente Deus que poderia curar um leproso (2 Reis 5:7).

A Igreja de Deus é agora, nesta dispensação, uma verdadeira adoradora exatamente da mesma forma; adorando de acordo com a revelação ampliada, tendo comunhão com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo. E isso ainda é, como os outros casos, adoração “em verdade”, porque está de acordo com a revelação. Mas é “em espírito” também; porque o Espírito Santo agora foi dado como o poder de adorar, capacitando os santos a chamar Deus de “Pai” e Jesus Cristo de “Senhor” (1 Co 8:6). Agora há poder comunicado, bem como revelação, para o propósito de adoração.

Este assunto de adoração é de fato um assunto abençoado para meditação posterior para todos nós. A fé do leproso samaritano, que se afastou do sacerdote em Jerusalém para depositar sua oferta aos pés de Jesus, usando-O assim como altar ungido de Deus, sugeriu isso. Ele ouviu a voz da cura – ele reconheceu o Deus de Israel na misericórdia que o havia encontrado. Isso foi revelação para ele, e ele creu, e foi levado por isso ao santuário. E isso que aconteceu com ele é o único fundamento de adoração de criaturas como nós temos sido, independentemente da época ou da dispensação em que vivamos. Ele havia sido curado, e ele sabia que havia sido curado. Em que fundamento podemos ficar para adorar senão neste? Podemos clamar na amargura de uma consciência surpresa; mas isso não é adoração. Pode ser o caminho do atraído do Pai, e terminar no santuário; mas não é adoração. Apenas o sangue de Cristo, purificando a consciência de obras mortas, leva ao serviço ou adoração do Deus vivo (Hb 9:14). Como nos próprios céus, e assim para sempre, os santos, em suas glórias, adoram enquanto estão de pé neste chão, como o piso de seu templo (Ap 5:9). “Nosso chamado”, como alguém disse de forma tão bela, “é consagrar nossa vida como um sacrifício de ação de graças pela misericórdia da redenção de Deus – toda a nossa vida é para ser um sacerdócio contínuo, um serviço espiritual a Deus, procedendo das afeições de uma fé operando pelo amor, e um testemunho contínuo de nosso Redentor.” É a misericórdia, como o próprio Espírito ensina, que abre as portas do templo, e nos leva a exercer nosso sacerdócio diante de Deus (Rm 12:1). E essa misericórdia é nossa, sabemos, somente pelas mãos de nosso Redentor ferido e atingido. Como aquele hino fervoroso diz:

“Ouve como a hoste acima comprada pelo sangue
Converge para entoar o amor de Emanuel,
Em doces e harmoniosos acordes!
E ao dedilharem suas harpas douradas,
Este tema somente inflama seus peitos,
Que a graça triunfante reina!”

“Une-te, ó minha alma; pois tu podes contar
Como a graça soberana rompeu tua cadeia,
E quebrou teus grilhões nativos!
E desde aquele dia querido e abençoado,
Quantas vezes és constrangida a dizer,
Que a graça triunfante reina!”

Devemos, dessa maneira, tomar nossa própria parte na adoração. Como o salmista, depois de chamar toda a criação para louvar, diz: Ó minha alma, louva ao SENHOR!”

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