Origem: Livro: Os Patriarcas
Mais fé
Fé preciosa, podemos dizer, “fé igualmente preciosa”, com Adão e conosco, amados. Então Abel. A fé nele tinha respeito à mesma promessa, ao mesmo evangelho. A palavra falava de um Libertador ferido e, portanto, é uma vítima, um sacrifício ferido ou sangrento, que ele coloca no altar de Deus. Mas não só isso. Ele traz a gordura da vítima da mesma forma. Ele conhece o deleite que o próprio Deus sente nas provisões de Sua própria graça. Ele sabe que está satisfeito com a obra de Suas próprias mãos. Ele entende que Deus é um Doador alegre, que não há rancor no dom da graça. Em espírito ele ouve a música que a ordem do Pai despertou em Sua própria casa sobre Seu filho pródigo que havia retornado. No deleite com que o próprio Deus vestiu o pecador nu com túnicas que Sua própria mão havia feito voluntariamente (uma tarefa mais feliz do que os seis dias da criação), a fé de Abel parece glorificar-se. E como assim a mais rica alegria que é sentida em todo o custoso mistério da redenção é sentida pelo próprio Deus, ele coloca a parte mais rica da vítima, a gordura do animal, no altar, fazendo disso a própria porção do Senhor nesta festa de amor e gozo, em Sua própria casa e em Sua própria mesa.
Este foi outro exemplo mais excelente da fé de um pecador. Abel, em espírito, estava em Lucas 15 – aquele capítulo que nos diz que a própria alegria do Senhor nele pode explicar o evangelho. E tudo isso são obras-padrão do Espírito, formando a fé dos pecadores. Não há questionamento da graça de Deus, nem reflexões inquietantes sobre a inutilidade da criatura, embora houvesse inúmeras razões para isso. A força, a liberdade, o triunfo da promessa vivem em suas almas.
E deixe-me acrescentar que se a confissão de Lameque (Gn 4:23-24) for a declaração de um pecador crente e convicto (como acredito que seja), é apenas outra expressão igualmente excelente desta mesma fé antiga e excelente. É de uma ordem digna de estar ao lado da de Adão, ou da de Eva, ou da de Abel; fervorosa, forte, inquestionável e cheia de liberdade.
A palavra de Deus a Caim revelou uma grande verdade – que Ele, e somente Ele, tem a ver com um pecador. Outros, como Abel, podem sofrer; mas todo pecado é cometido diretamente contra Deus, e Ele afirma Seu direito de lidar sozinho com ele; “qualquer que matar a Caim sete vezes será castigado”.
Lameque parece ter recebido e se alimentado nesta grande verdade, tão indescritivelmente preciosa para a fé, até que toda a sua alma triunfou nela. Ele não conta apenas com preservação, guardando-o dos homens, como Caim, mas com salvação, “a salvação de Deus”. Aprendendo que, como pecador, estava sozinho com Deus, ele ocupa esse lugar, e ali descobre como Deus pode tratar com ele, mesmo na segurança e nas provisões da graça; e essa descoberta é a luz na qual sua alma caminha imediatamente. Como Jó, posteriormente, ele publica sua confissão por toda parte: “Ouvi a minha voz; vós, mulheres de Lameque“, diz ele; “escutai o meu dito”. Então, com a verdadeira inteligência do evangelho, ele intensifica o pecado e reconhece que ele foi sua destruição. “Eu matei um homem para meu ferimento, e um jovem para meu esmagamento” (JND). Mas, novamente, na verdadeira simplicidade do evangelho, ele magnifica muito mais a graça.
Se Caim for vingado sete vezes, verdadeiramente Lameque será “setenta e sete vezes”. Em seu pensamento, “onde o pecado abundou, superabundou a graça”. Ele tem a mesma mente e temperamento de Paulo. Sua confiança e vitória são apostólicas. Ele parece cantar
Eu ouço o rugido do acusador
Dos males que cometi;
Eu os conheço bem, e milhares de outros…
Jeová não encontra nenhum.
Sua fé obtém uma visão gloriosa de todo o mistério e da infinidade e riqueza da graça. Ele ouve as provisões da graça (quando está a sós com Deus), e as acusações da lei, as acusações de Satanás, os alarmes da consciência e as repreensões de justiça própria dos homens não são ouvidas. (No entanto, não presumo que Lameque fosse um homicida; mas ele poderia se identificar com tal. Com Paulo, ele poderia, no sentido do que ele era diante de Deus, falar de si mesmo como o principal dos pecadores. E sabemos também que o remanescente arrependido dos últimos dias, em sua confissão, assumirá o lugar ou a culpa de sangue dessa maneira. Eles olharão para Aquele a Quem traspassaram. Eles, no espírito de Daniel ou Neemias, se tornarão um com a nação culpada).
