Origem: Livro: Os Evangelistas
Mateus 1-2
Jesus nasce; mas Ele nasce para os Judeus, assim como nasce dos Judeus. Sua genealogia nos é dada a partir de Abraão e de Davi, cabeças e pais de Israel; e Seu nascimento é anunciado em caracteres que Israel poderia ler como sua própria língua. O Menino nascido é “Emanuel” e Jesus, Deus com Israel, e o Salvador de Israel. “A nós”, em um sentido em especial, Israel poderia agora dizer: “nos é nascido um Menino, e a nós nos é dado um Filho” (TB).
Jesus nasceu Rei dos Judeus, e na cidade de Davi. Filho e Herdeiro de Davi; como lemos, “da semente de Davi segundo a carne” embora, em toda a Sua Pessoa, Ele fosse o Senhor de Davi.
Os direitos da família de Davi eram Seus; e esses direitos estavam fundamentados em título divino e cheios de majestade e honra na Terra.
Em 1 Crônicas 17, o concerto feito com Davi, a promessa feita a ele a respeito de sua casa e trono, é anunciada por Natã. A misericórdia será de Davi para sempre, a honra de seu trono e a estabilidade de sua casa também para sempre.
No Salmo 89, este concerto é citado; mas é adicionada a condição concernente aos filhos de Davi, que, se eles não fossem fiéis, eles deveriam conhecer o julgamento do Senhor. E sabemos como isso aconteceu. A promessa tornada condicional à fidelidade dos filhos de Davi foi perdida por eles e para eles, como foi testemunhado, geração após geração, na história do reino de Judá.
Mas disciplina não é esquecimento. A promessa é suspensa por causa de condições quebradas por um Salomão infiel, ou por um Zedequias rebelde; mas ela permanece firme na fidelidade de Deus, e na mão do Senhor Cristo. N’Ele todas as promessas são Sim e Amém.
Assim, quando Jesus nasceu, o Espírito, por anjos e profetas, relembra, depois de tantas eras, o concerto anunciado a princípio por Natã. Isso é feito, se não em termos, em espírito e realidade, pela palavra de Gabriel a Maria, e então pela palavra de Zacarias (Lucas 1). Jesus é apresentado como a Semente de Davi, de Quem os oráculos de Deus, em 1 Crônicas 17 e Salmo 89, falaram; Hebreus 1:5 identifica Jesus com a Semente de Davi de 1 Crônicas 17.
Isto é simples e seguro, embora seja outro testemunho maravilhoso das unidades divinas que são encontradas nas Escrituras. E abençoado é ver a luz assim brilhando após séculos de trevas, quando a mão dos gentios estava em primeiro plano, e a honra de Davi estava no pó. A Semente de Davi é apresentada em Lucas 2; e agora, em Mateus 2, esta Semente é apresentada em plena forma e caráter, o Belemita do profeta Miqueias. E sendo assim colocado em Seu lugar (o Belemita, a Semente de Davi e Rei dos Judeus), os gentios vêm a Ele. Isto era necessário para dar ao momento sua plena solenidade. Todos os profetas o haviam investido assim. Siló seria de Judá; mas para o Siló de Judá seria a reunião dos povos. O Rei de Israel seria o Deus de toda a Terra. Os Judeus eram o povo de Deus, mas os gentios se alegrariam com eles. A Raiz de Jessé representaria um estandarte de Israel, mas os gentios deveriam buscá-la. E nossa profecia de Miqueias fala a mesma linguagem; pois, depois de contar sobre o Governante de Israel que nasceria em Belém, continua dizendo sobre Ele: “Porque agora será Ele engrandecido até aos fins da Terra” (Mq 5:2-4). Portanto, recebemos a visita dos sábios do Oriente distante, quando este Menino nasce em Belém. Eles vêm, embora seja para Aquele que nasceu Rei dos Judeus, ainda assim para adorá-Lo eles mesmos.
Assim, os gentios aparecem como diante de Deus em Sião, e as coisas por um momento – um momento cheio de beleza típica ou misteriosa – são colocadas em ordem divina. Israel é a cabeça. O primeiro domínio veio para a filha de Sião. Os gentios dão lugar, e Jerusalém é procurada pelos confins da Terra.
Tudo, dessa maneira, é feito em plena solenidade. Nada falta para tornar completa esta apresentação do Menino de Belém, de acordo com a profecia de Miqueias. Se os homens de Judá e os habitantes de Jerusalém não O receberem, eles não terão desculpa.
A rejeição, no entanto, foi imediata e decisiva, selada por mãos homicidas que o espírito do mundo, no coração, havia movido, mas que buscava se encobrir com mentiras e hipocrisia. Nada pode exceder a iniquidade de Herodes. O trono em Jerusalém estava, naquela época, em sua posse, e ele não se separará dele, ainda que o título de Outro seja divino. Se ele puder mantê-lo, ele não o entregará nem mesmo ao próprio Deus. Esta é a linguagem de seus atos. E, assim como o homicida, assim é o povo. Jerusalém, tanto quanto Herodes, está perturbada com a palavra dos homens do Oriente, e prontos executores da obra da morte são encontrados a seu comando. Os sacerdotes do Senhor já tinham sido uma vez mortos, porque ajudaram Davi; os meninos de Belém perecerão agora, porque o Senhor de Davi pode estar entre eles. A voz de choro é ouvida em Ramá. O Messias, o Belemita, é recusado. Israel não será reunido, e Herodes ainda será rei, embora Jesus seja primeiro um Exilado no Egito e depois um Nazareno na Terra.
Assim é feita, e assim termina, a primeira apresentação de Cristo a Israel. Tudo isso é peculiar a Mateus; e não preciso acrescentar quão característico é daquilo que sugeri ser o propósito de seu Evangelho.
