Origem: Livro: Os Evangelistas
Mateus 21-25
Mateus 21-23
Esta porção do nosso Evangelho abre com a terceira e última apresentação de Cristo a Israel. Ela é de acordo com a voz do profeta Zacarias. “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu rei virá a ti, justo e Salvador, pobre e montado sobre um jumento, sobre um asninho, filho de jumenta” (Zc 9:9).
Tudo é feito em plena solenidade. O teste do coração de Israel será aplicado sob todas as vantagens; o caminho, permita-me dizer, do nosso Deus em todas essas ocasiões.
Quando Adão, no princípio, foi colocado no jardim para guardá-lo, tudo era para ele; não havia nada em todo aquele estado de então que não pudesse declarar a ele a respeito de seu Criador. Assim, depois, quando Noé foi colocado no novo mundo, ele estava lá sob todas as vantagens de honra e felicidade; o arco na nuvem sendo uma testemunha viva para ele, se necessário, de que o Senhor Deus estava atento a ele e seria Fiel. Israel na terra de Canaã não precisava de nada. “O que mais poderia ter sido feito à Minha vinha, que Eu não tenha feito?” foi a demanda do Senhor diante de Seu povo. A sebe foi levantada, a torre foi construída, o lagar foi cavado e a videira mais escolhida foi plantada. E então agora, nada está faltando nessas propostas ou apresentações do Messias a Israel. O Belemita nasceu de acordo com o profeta, e Ele era “grande até os fins da terra” (AIBB), de acordo com o mesmo profeta, os gentios do extremo oriente vieram a Belém para que pudessem adorá-Lo. A Luz brilha desde a Galileia, da terra de Zebulom e Naftali, de acordo com outro profeta; e uma “grande Luz” de fato, como ele havia falado, ela se revela, surgindo como que com cura em suas asas sobre um povo que habitava na terra da sombra da morte. E agora o Rei prometido por um terceiro profeta aparece, de acordo com a palavra que havia sido dita antes sobre Ele, e em plena solenidade. As harmonias de muitas vozes da Escritura podem ser ouvidas agora. Os Salmos 8, 24 e 118, bem como Zacarias 9, estão em nossa audição nesta grande ocasião.
O momento foi realmente cheio de maravilhas. “Do SENHOR é a Terra e a sua plenitude”, é ouvido; pois o dono do jumento reconheceu o senhorio de Jesus, e colocou Seu supremo título acima do seu próprio. O próprio jumento, assim como seu dono, estava no poder do momento; pois o jumentinho acompanhava a mãe, ou a mãe acompanhava o seu jumentinho; mal podemos dizer qual era o que acompanhava, e não importa; ambos foram trazidos, e trazidos juntos a Jesus; pois não haveria então nenhuma transgressão nas empatias da natureza. O cabrito não poderia, em tal momento, ser cozido no leite de sua mãe. Aquele momento foi como o amanhecer do dia milenar, e a criação deve tomar sua parte na alegria e no poder disso. O povo, por suas hosanas e seus ramos de palmeira, estava contando sobre um dia feliz, uma festa de tabernáculos para as tribos do Senhor; e se a multidão assim exulta em suas hosanas, os animais exultarão em seus fardos. No dia da Sua tentação, os animais selvagens estavam com o Senhor, para testemunhar que o Éden não havia sido perdido por Ele (Marcos 1:13); então aqui, os animais de carga se regozijam em seu serviço, como se o reino tivesse sido agora introduzido por Ele, e a criação tivesse sido libertada de seus gemidos.
Certamente, mais uma vez posso dizer, foi um momento cheio de maravilhas, uma hora brilhante e festiva de fato. Isso não tinha sido assim nos dias de Samuel. As vacas mugiam então, enquanto iam, pois seus bezerros foram deixados para trás, enquanto elas, as mães, carregavam a arca para Bete-Semes (1 Samuel 6). A natureza pode receber uma ferida então, e continuar em seu gemido; mas agora, na presença do Senhor do mundo milenar, a natureza se regozija.
Quão simples, mas quão grandioso e brilhante, é tudo isso! É, no entanto, apenas por um momento. Tudo isso é assim, para que, quer ouvissem ou não, Israel soubesse que o clamor de um Rei estava perto deles. A questão era: Eles o receberiam entre eles? Mas não; novamente eles “não quiseram”. Se o Belemita era exilado, e a Luz de Zebulom brilhou na escuridão que não a compreendeu, o Rei será um Rei impedido e rejeitado. Ele entra na cidade em meio ao alvoroço da multidão. “Quem é Este?”, eles dizem. Ele dá cumprimento ao zelo do Messias de acordo com o salmista (Salmo 69:9). Ele cura, como fazendo as obras reconhecidas do Filho de Davi. Mas rapidamente, em vez de clamores e regozijos, insultos e desafios O aguardam na cidade real. A inimizade dos príncipes e representantes de Israel logo se manifesta; eles destituem o Pastor, a Pedra de Israel; eles estão profundamente descontentes com o Filho de Davi; e pensam apenas em como podem matar o Herdeiro da vinha.
O que resta para Ele agora? O que Ele tem que fazer agora? Esta é a rejeição do Rei que trouxe a salvação com Ele, após a rejeição do Menino de Belém e da Luz da Galileia. O que resta? “Porque seríeis ainda castigados, se mais vos rebelaríeis?” “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, a manjedoura do seu dono, mas Israel não tem conhecimento, o Meu povo não entende”. Essas vozes podem ser ouvidas agora. “Eis o fim. O fim é vindo” (TB) pode ser ouvido da mesma forma. A figueira estéril é, portanto, amaldiçoada de acordo com a parábola, agora ela está cortada. Ela havia sido poupada por três longos anos, e tinha conhecido a paciência do lavrador cavando ao redor dela e adubando-a; mas ela ainda era estéril. “Nunca mais nasça fruto de ti” é agora dito a ela. A maldição é pronunciada, pois o tempo de longanimidade passou; “e,” como lemos, “a figueira secou imediatamente”.
Tal foi o resultado solene desta terceira e última apresentação de Si mesmo como seu Messias, Jeová-Messias, a Israel, e a rejeição de Israel a Ele.
Os discípulos se maravilham com a figueira, que o Senhor amaldiçoou, murchando tão rapidamente; e Ele então entrega o oráculo sobre a remoção do monte; um símbolo de algo ainda mais estranho e terrível do que o murchamento da figueira. “Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até, se a este monte disserdes: Ergue-te e precipita-te no mar, assim será feito”. Tudo deve ceder. As poderosas barreiras que os homens ergueram contra o estabelecimento do poder do Senhor na Terra serão colocadas de lado, e então os homens aprenderão “que Tu, a Quem só pertence o nome de JEOVÁ, és o Altíssimo sobre toda a Terra”; e “se firmará o monte da Casa do SENHOR no cume dos montes e se exalçará por cima dos outeiros”.
Betânia era Seu refúgio nesse momento. Rejeitado e, portanto, como um Estrangeiro aqui, Ele encontra Seu lugar na família de fé que O amava em meio à inimizade do mundo. E quando Ele retorna novamente, como Ele faz, da aldeia à cidade, de Betânia para Jerusalém, não é, como tinha sido até então, para renovar e prosseguir Seu serviço de amor e poder, mas para expor e convencer Israel, e deixá-los sob condenação. Isso vemos ainda mais no decorrer destes capítulos (Mateus 21-23).
Nas parábolas dos dois filhos, dos lavradores maus e das bodas do filho do rei, que Ele profere em meio aos príncipes do povo, em Seu retorno a eles de Betânia, Ele convence Israel de desobediência a todos os caminhos de Deus, seja a lei, pelo ministério do Batista, ou pela graça dos Judeus. Ele está então em pleno confronto direto com os grandes representantes da nação, herodianos, saduceus e fariseus; respondendo-lhes e questionando-os. E tendo passado por tudo isso, tendo-os exposto e silenciado, Ele conclui pela evidência de sua culpa e profere a sentença de justiça. Israel é julgado e abandonado. “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! Eis que a vossa casa vos ficará deserta”.
Ele então sai com Seus apóstolos para o Monte das Oliveiras. Na linguagem do profeta Zacarias, Ele pega Sua vara “Suavidade [Formosura – TB]” e a corta em pedaços; isto é, Ele Se retira de Israel; pois, quer eles saibam ou não, Ele é sua formosura, sua glória, sua perfeição.
O tempo havia chegado completamente para isso. A Pedra havia sido rejeitada pelos construtores, de acordo com o salmista; os três pastores, herodianos, saduceus e fariseus, haviam sido cortados como em um mês, de acordo com o profeta; portanto, o Senhor não mais apascentaria o rebanho, de acordo com o mesmo profeta (Zc 11; Sl 118).
Foi também neste momento, no final de Mateus 23, que o Senhor pode ser visto e ouvido olhando para trás, para Israel, e Seu último ministério no meio deles, como com a linguagem de Isaías em Seus lábios: “Onde está a carta de divórcio de vossa mãe, pela qual Eu a repudiei? Ou quem é o Meu credor, a quem Eu vos tenha vendido? Eis que por vossas maldades fostes vendidos, e por vossas prevaricações vossa mãe foi repudiada. Por que razão vim Eu, e ninguém apareceu? Chamei, e ninguém respondeu? Tanto se encolheu a Minha mão, que já não possa remir? Ou não há mais força em Mim para livrar? Eis que, com a Minha repreensão, faço secar o mar, torno os rios em deserto, até que cheirem mal os seus peixes, pois não têm água e morrem de sede. Eu visto os céus de negridão e pôr-lhes-ei um pano de saco grosseiro por sua cobertura” (Is 50).
Que antecipação! O Espírito no profeta parece respirar este exato momento de Mateus 23. Jerusalém é agora como uma esposa divorciada, repudiada por suas transgressões. Seu Criador tinha sido seu Marido, o Senhor dos exércitos. Nos dias anteriores a estes do Evangelho de Mateus, nos dias dos juízes, dos reis e dos profetas, ela tinha sido como uma mulher amada por seu amigo, mas uma adúltera. Os deuses das nações tinham sido sua confiança. Agora seu próprio Deus foi recusado. Ele tinha vindo e chamado, mas não havia ninguém para responder. E ainda assim, certamente, Ele poderia perguntar: “tanto se encolheu a Minha mão, que já não possa remir?” Será que Ele havia perdido o poder ou esquecido o amor que os havia libertado em outros dias? Não teria Ele sido para Israel agora, em suas cidade e aldeias o que fora para eles no Egito, quando Ele secou seu mar e vestiu os céus deles com escuridão? Suas curas e alimentações, todas as Suas ações de graça e poder, poderiam responder por Ele. Foi a iniquidade e a incredulidade deles que agora os separaram de seu Redentor. E Ele Se afasta deles agora, como este maravilhoso capítulo de Isaías continua a nos contar, primeiro para falar uma palavra oportuna aos Seus eleitos, e então para dar Suas costas aos que ferem, e Suas faces aos que arrancam os cabelos.
Maravilhoso de fato é Isaías 50. Assim como Zacarias 11. Cada um deles antecipa o Evangelho de Mateus em seu esboço e estrutura. E agora, no início de nosso Mateus 24, o Senhor Se retira, de acordo com Isaías, para falar uma palavra oportuna àqueles que estão cansados, Seus pobres seguidores que continuaram com Ele em Suas tentações; ou, de acordo com Zacarias, como a Palavra do Senhor a ser esperada pelos pobres do rebanho. (Posso observar que há, geralmente, por meio deste Evangelho, um grande cuidado e diligência para ligar com as vozes dos profetas o que está acontecendo no momento; e esta é uma marca do forte caráter Judaico de toda a ação.)
