Origem: Livro: Aos Pais de Meus Netos

Noé

Poucos foram tão grandemente honrados como Noé. Como seu bisavô, está registrado que ele andou com Deus. Ele, pela fé, sendo avisado por Deus das coisas ainda não vistas, movido por temor, preparou uma arca para a salvação de sua casa. O nome e a presença de seu avô devem ter sido uma lembrança diária do julgamento que diariamente se aproximava. Podemos muito bem acreditar que aqueles últimos cinco anos entre a morte de seu pai e a de seus avô, quando a arca estava quase terminada, também devem ter sido anos de testemunho muito enérgico, por aquele antigo “pregoeiro da justiça”. E então veio aquela morte que abriu caminho para o dilúvio. E então o dilúvio em si, com a destruição total de amigos, conhecidos e de todo o mundo que eles conheciam. Os três filhos de Noé e suas esposas passaram por esses anos solenes e terríveis. Aqueles anos deveriam ter deixado uma marca solene em toda aquela pequena família. Mas qual é o primeiro espetáculo que contemplamos após a libertação do longo confinamento da arca? Vemos Noé bêbado em sua tenda, descoberto, e seu filho Cam zombando dele. E um desses três filhos favorecidos, libertado pelas águas do dilúvio, agora cai sob uma maldição que dura até os dias atuais.

Quem foi o culpado? Por que o filho de um servo de Deus tão honrado como Noé caiu sob uma condenação tão terrível? O que ele tinha visto e ouvido desde a infância na casa de seu pai e especialmente nos últimos anos deveria tê-lo impedido de seguir um caminho tão perverso. Mas, verdadeiramente, quem era o culpado? Quantas vezes deve ter pesado na consciência de Noé: “Se eu não tivesse sido culpado daquela indulgência própria que me deixou bêbado, então eu não teria me comportado daquela maneira vergonhosa que sujeitou meu filho à tentação que causou sua ruína”. Arrependimentos muito amargos devem ter enchido o coração de Noé, mas eram arrependimentos vãos, e o fruto amargo da indulgência própria daquele dia dura até o momento presente. E o segundo filho de Cam, Mizraim, evidentemente foi mais longe do que seu pai nos caminhos da maldade, pois um antigo escritor diz dele: “Mizraim foi o inventor dessas artes perversas chamadas astrologia e magia, e era a mesma pessoa a quem os gregos chamavam de Zoroastro”.

Oh, meus queridos, prestem atenção à indulgência própria! É tão fácil cair nela, e a achamos muito mais agradável do que suportar firmemente como bons soldados de Jesus Cristo; soldados a serviço, não de folga. Ouviremos mais sobre os frutos amargos da indulgência própria à medida que continuarmos a meditar sobre os pais da Escritura: mas, enquanto isso, lembremo-nos de que “domínio próprio em todas as coisas” (1 Co 9:25 – AIBB), não importa se chocolates, um livro ou um hobby – como também naquilo em que Noé falhou – é um bom lema para cada um de nós, pais.

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