Origem: Livro: Os Patriarcas
Um Noivo sofredor
A Igreja é chamada de “esposa do Cordeiro”. Mas este título tem o seu significado. “O Cordeiro” é uma figura ou descrição do Filho de Deus que nos fala das dores que Ele suportou por nós. A alma entende isso bem; e, portanto, este título, “a esposa do Cordeiro”, nos diz que foi por meio de Seus sofrimentos que o Senhor a tornou Sua; que Ele a valorizou a ponto de abrir mão de tudo por ela. E desde o início Ele tem publicado esta preciosa verdade do evangelho.
Antes de Adão receber Eva, ele caiu num sono profundo, e do seu lado foi tirada uma costela, da qual foi formada aquela que mais tarde lhe foi apresentada como sua esposa. Isto testemunha o mistério que mencionei. Adão foi humilhado e Adão sofreu (quero dizer, claro, apenas no símbolo ou mistério), antes de ele receber Eva; tudo isso lançando de antemão a sombra da humilhação e do sofrimento do verdadeiro Adão, ao adquirir a Sua Eva para Si.
Depois Jacó teve que suportar o fardo e o calor de um dia longo e cansativo, antes que pudesse receber Raquel. A lei de seu povo, a lei de sua terra e as exigências opressivas do cobiçoso Labão o colocaram nessas condições. Ele teve que suportar ser consumido constantemente pelo Sol e a Lua, trabalhar noite e dia, e prolongar seu exílio, ou ficar sem sua Raquel.
José, antes de obter sua Asenate, foi separado de seus irmãos.
A mesma coisa que vemos em Moisés. Ele também foi separado de seus irmãos. E ainda mais, ele ganhou Zípora. Ele a resgatou da opressão, depois abriu o poço para ela e seu rebanho, e então o pai dela reconheceu o direito dele reivindicar a mão dela. O mesmo acontece com sua segunda esposa. Ele teve que tomá-la à custa de seu bom nome junto aos seus próprios parentes; ela era uma etíope negra e isso não correspondia com os pensamentos de seu irmão e irmã. Mas ele suportou a reprovação e casou-se com a etíope.
Em cada um desses casamentos (tanto figurativos como reais) vemos o caráter do Noivo – vemos o Senhor Jesus Cristo tomando possessão de Sua Noiva a algum custo pessoal. Quer seja humilhação e sofrimento, como em Adão, trabalho árduo, cansaço e conflito, como em Jacó, separação e triste solidão, como em José, ou mera reprovação, como fazendo algo indigno d’Ele, como em Moisés, ainda assim é, em princípio, um Noivo sofredor que vemos.
E posso mencionar Boaz, outra figura do mesmo. Ele era um homem poderoso e rico, mas defende a causa de uma pobre respigadora em seus campos; ele permite suas aproximações e seu pedido, e a toma para si como esposa. Ele não tem vergonha de fazer de uma estrangeira destituída, que apenas um dia antes dependia da generosidade de sua mão, a companheira de sua riqueza e honra, e a construtora de sua casa e de seu nome entre as tribos de Israel. E assim o casamento de Boaz revela o mesmo mistério, que o Noivo da Igreja é Aquele que antes havia sido humilhado para redimi-la e torná-la Sua.
Não apenas, porém, esta grande verdade é apresentada em figuras e ilustrações, mas também no ensino claro da Escritura. É dito que Cristo amou a Igreja, depois Se entregou por ela, depois a santificou pela lavagem da Palavra – e tudo isso, para que pudesse apresentá-la dignamente a Si mesmo como Sua Noiva (Efésios 5). Aqui, doutrinariamente, ou na forma de ensino claro, temos o Cordeiro, o Noivo; pois antes de tomar a Igreja, Ele Se entrega por ela. Ele toma por esposa aquela que antes havia comprado com sangue.
