Origem: Livro: O Nome Sobre Todo Nome

Parte 1 – O Nome Inefável

É evidente, mesmo para o leitor comum das Escrituras, que a revelação que Deus teve o prazer de fazer de Si mesmo é gradual e progressiva. Agora os crentes andam na luz, como Ele está na luz; mas antigamente nuvens e trevas estavam ao Seu redor, e necessariamente tinha que ser assim enquanto a justiça e o juízo fossem a base de Seu trono (Sl 89:14). Mas quando Cristo consumou a obra da expiação, glorificando a Deus em tudo o que Ele é, tendo sido feito pecado por nós, o véu por trás do qual Deus havia habitado, e que O havia escondido de Seu povo, foi rasgado em dois, de cima a baixo, e Deus pôde justamente gratificar Seu próprio coração em sair em plena manifestação do que Ele é conforme revelado em Cristo na base da redenção. Estas são verdades cardeais e fundamentais, e são declaradas como preparatórias para uma breve consideração dos vários nomes de Deus sob os quais Ele Se revelou nas várias dispensações encontradas nas histórias do Velho Testamento. Que Deus é o mesmo em natureza e atributos tanto no Velho quanto no Novo Testamento; que, em outras palavras, Ele é imutável, é uma necessidade das perfeições do Seu Ser divino; mas ainda é verdade que os aspectos sob os quais Ele é apresentado em diferentes épocas variam, e são esses aspectos que estão incorporados em Seus diversos nomes.

ELOHIM é, como frequentemente observado, o nome comum para Deus, visto como o Ser divino com Quem os homens, como homens, têm que tratar, e como Aquele a Quem eles são responsáveis. É uma palavra plural. O singular é Eloah, e esta forma é frequentemente usada, especialmente no livro de Jó. Os pagãos às vezes usavam a palavra para designar suas divindades, e sem dúvida desse fato surge a questão no Salmo 18:31; “Pois Quem é Deus [Eloah] senão o Senhor [Jeová]? E Quem é o rochedo senão o nosso Deus [Elohim]?” Ou seja, o verdadeiro Eloah era Jeová, e a única rocha era Elohim. A razão para o uso da palavra plural (Elohim) é explicada de diversas maneiras. Há aqueles, como seria de esperar, que afirmam que é simplesmente, de acordo com o uso hebraico, um plural de excelência, que a palavra nesta forma transmite a excelência ou as perfeições d’Aquele de Quem se fala; há outros que sustentam que a intenção divina é estabelecer a Trindade, a unidade da Divindade nas três Pessoas da Divindade – o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Em apoio a isto, o leitor devoto não deixará de notar a linguagem de Gênesis 1:26: “E disse Deus: Façamos o homem à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança”. Na verdade, visto que o termo expressa tudo o que Deus é, todas as Pessoas da Divindade devem ser incluídas.

É bem verdade que isso não pôde ser compreendido na época. Na verdade, não foi até o batismo de nosso bendito Senhor que toda a verdade da Trindade foi revelada. Então Deus falou desde o céu, Seu Filho amado estava na Terra, e o Espírito Santo desceu e habitou sobre o Filho. Mas agora que a plena revelação de Deus foi feita, e veio o Espírito Santo, que penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus, podemos retornar, conforme guiados e ensinados por Ele, e descobrir muitas coisas que não poderiam antes ter sido entendidas. Um dos perigos do momento presente é que as Escrituras do Velho Testamento estejam sendo limitadas à luz que possuíam na época em que foram dadas. A verdade é que o seu significado latente só pode ser apreendido quando retornamos nosso olhar para elas a partir do pleno brilho da luz do Cristianismo. Não há qualquer incongruência, portanto, em afirmar que Deus escolheu a palavra especial Elohim para expressar a verdade da Trindade. Por exemplo, lemos em Gênesis que Deus criou o céu e a Terra; e no Evangelho de João é dito do Verbo, o Verbo que depois Se fez carne: “Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez”. Sabemos, consequentemente, que o Filho eterno está compreendido na palavra “Deus” em Gênesis; e ao ponderarmos sobre isso, aprendemos mais sobre a glória da Pessoa de nosso Redentor.

Aos patriarcas, Deus Se deu a conhecer sob outra denominação. A primeira menção disso é encontrada em Gênesis 17:1: “Apareceu o SENHOR a Abrão e disse-lhe: Eu Sou o Deus Todo-poderoso”; isto é, EL SHADDAI – Deus Todo-Poderoso. Mas diz-se que o significado da palavra El é força, onipotência; e Shaddai é considerado por alguns como significando a mesma coisa, enquanto outros preferem a tradução de todo-suficiente ou autossuficiência. A combinação das duas palavras, em ambos os casos, implica atributos divinos, pois a onipotência e a total suficiência só podem ser encontradas em Deus. Estas duas palavras são usadas, por exemplo, na passagem: “Falou mais Deus a Moisés e disse: Eu Sou o SENHOR. E Eu apareci a Abraão, e a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-Poderoso [El Shaddai]; mas pelo Meu nome, o SENHOR [Jeová] não lhes fui perfeitamente conhecido” (Êx 6:2-3). (Veja também Gênesis 28:3; 35:11, etc.) Quando a palavra “Todo-Poderoso” aparece sozinha em nossa tradução, ela geralmente representa Shaddai. Há uma bela combinação deste nome com o de Jeová em 2 Coríntios 6: “Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso”. O Deus que era conhecido por Abraão como Shaddai, e por Israel como Jeová, era agora declarado como Pai naquele relacionamento íntimo e bendito no qual, em Sua preciosa graça, Ele havia levado Seu povo em associação com Cristo.

Pelo que já foi dito, será entendido que JEOVÁ é o nome que Deus tomou especialmente no Seu relacionamento sob o concerto com Israel. Como o leitor pode facilmente verificar, não é que a palavra não tenha sido usada antes de Deus comunicá-la a Moisés, mas agora foi empregada pela primeira vez em conexão com a nação escolhida. As seguintes observações podem ajudar nisso: “Em Gênesis 2 e 3 era de toda importância conectar Jeová, o Deus nacional de Israel, com o único Criador, Deus. Assim, em Êxodo 9:30, o Deus dos hebreus, cujo nome era Jeová, é declarado Elohim. Por outro lado, Jeová é um nome, Elohim, um ser; somente Jeová é Elohim, mas o primeiro é um nome pessoal” – o nome que Ele adotou em Suas tratativas e relacionamento com os homens, mas especialmente com Seu povo. A palavra significa Aquele que existe por si mesmo e, como alguém observou, é traduzida de forma prática: “Aquele que é, e que era, e que há de vir”. Derivada do verbo “existir”, expressa a eternidade e, consequentemente, a imutabilidade, de Seu Ser; e assim traz diante de nossa alma Aquele que é eternamente, que existiu antes de todos os tempos, perdura por todos os tempos e continua depois que todos os tempos passaram. Ele é, portanto, o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, o Primeiro e o Último; e o uso dessas expressões (Ap 22:13) prova, além de qualquer contradição, que o Jesus do Novo é o Jeová do Velho Testamento.

El foi mencionado em conexão com Shaddai, e também é usado com ELION, sendo então traduzido como “Deus Altíssimo”. Um exame dos vários lugares onde este nome é encontrado mostrará que é o “nome milenar de Deus acima de todos os deuses idólatras, e demônios, e de todo poder”. É neste caráter que se diz que Deus é “Possuidor dos céus e da Terra” (Gn 14:18-19). Por isso, Nabucodonosor deveria estar sob o julgamento de Deus até que soubesse “que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer”; e que esse fim foi cumprido é visto no fato de que, quando seu entendimento retornou, ele abençoou o Altíssimo, etc. (Dn 4:25-34). Balaão da mesma maneira usa esse título quando está prestes a falar da glória futura e supremacia de Israel entre as nações. No Salmo 91 é encontrado em conexão com Shaddai (o Todo-Poderoso). Diz: “Aquele que habita no lugar secreto do Altíssimo [Elion], habitará à sombra do Todo-Poderoso [Shaddai]” (Sl 91:1 – JND). No Salmo 47:2 é visto em combinação com Jeová; e é acrescentado: “Rei grande sobre toda a Terra”. Esses exemplos são interessantes porque provam que é Deus, o único Deus, quem Se revela aos homens sob esses diferentes nomes em distintos relacionamentos.

A maioria dos leitores das Escrituras está familiarizada com o termo ADONAI como outro nome divino. É traduzido em nossa versão como Senhor, mas geralmente é diferenciado de Jeová, que também é traduzido como SENHOR, pelo uso de letras maiúsculas e minúsculas. Ele significa, quanto à raiz da palavra, Mestre, Governante ou Possuidor; mas a forma Adonai é usada apenas para Deus, e d’Ele como Alguém que assumiu o poder e está no relacionamento de Senhor com aqueles que invocam Seu nome. É, portanto, especialmente aplicado a Cristo em Sua exaltação à direita de Deus. Isso pode ser visto em uma referência ao Salmo 110 e na citação que o Senhor faz dele ao consolar Seus adversários. ” Disse o Senhor [Jeová] ao Meu Senhor [Adonai], Assenta-Te à Minha mão direita, até que ponha os Teus inimigos por escabelo dos Teus pés” (v. 1). Em Mateus 22, o Senhor aplica expressamente esta Escritura a Si mesmo, a Si mesmo como Cristo, o Messias (vs. 42-44), e a emprega para demonstrar que o Filho de Davi também era o Senhor de Davi, que, em uma palavra, Ele era a Raiz e também a Descendência de Davi. Em Gênesis 15:2 Abraão se dirige a Deus, não como dado na versão Almeida Corrigida, “Senhor JEOVÁ”, mas como Adonai Jeová. Este exemplo será suficiente para mostrar mais uma vez que todos estes nomes divinos são usados para o Deus Único, mesmo o de Adonai, que é especialmente reservado para Cristo em Sua exaltação nas alturas. (O caráter completo de Adonai de nosso bendito Senhor é apresentado em Filipenses 2:9-11).

Existem outros títulos divinos que bastarão mencionar para consideração do leitor. Nos livros poéticos, “JAH” é frequentemente empregado, e é esta palavra que está incorporada no termo Aleluia, ou “Louvado seja Jah”. O seu significado não foi determinado; geralmente é considerado uma forma abreviada ou poética de Jeová. Depois, há as palavras que Deus usou ao enviar Moisés para a libertação de Seu povo; a primeira é dada como “EU SOU O QUE SOU”, e o segundo como “EU SOU”. Ambas são formas da mesma palavra, significando existência; a primeira é às vezes, e talvez com razão, traduzida, “Eu Serei o que Serei”. O pensamento expresso em ambas é semelhante ao significado de Jeová (e necessariamente vem do mesmo verbo) e fala de ser ou existência imutável. Há ainda outro termo, não em si mesmo, talvez um nome ou título divino, mas um que, a partir de sua aplicação frequente e especial a Deus, quase deve ser considerado assim. É ATTA HU (em hebraico), e é encontrado em frases como, Tu és Ele, etc. O equivalente é empregado em Hebreus 1, “Tu és o mesmo” (v. 12), que de fato é dado como a tradução de ATTA HU no Salmo 102:27. Esse termo também fala, como será imediatamente percebido, da imutabilidade de Deus, d’Aquele que sempre é e que é sempre imutável.

Não precisamos prosseguir no assunto, pois já foi dito o suficiente para apontar as várias maneiras pelas quais Deus Se agradou em Se revelar sob esses diferentes nomes. É uma marca de Sua ternura que Ele tenha feito isso, e proclama ao mesmo tempo Sua graça indescritível ao mostrar assim o que Ele é em Si mesmo ao Seu povo. Ele poderia ter Se escondido para sempre no sereno gozo da solidão de Sua própria existência autossuficiente; mas muito antes da fundação do mundo, na longínqua distância de uma eternidade passada, Ele nos escolheu em Cristo para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante d’Ele em amor. Antes, porém, que esses conselhos eternos fossem comunicados, o primeiro homem, Adão, foi trazido à cena; e depois que ele, o homem responsável, falhou, Deus continuou por quatro mil anos esperando pelo homem para ver se ele poderia produzir fruto para Ele. Seu teste do homem continuou até a cruz, e então, quando Deus demonstrou que o homem havia perdido tudo com base na responsabilidade, Ele revelou toda a graça que estava em Seu coração no “evangelho de Deusacerca de Seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne, declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, – Jesus Cristo, nosso Senhor”. N’Ele, como ainda podemos ver, Deus foi plenamente revelado; e Ele também é o Homem dos conselhos de Deus, e n’Ele todos os pensamentos do coração de Deus serão cumpridos. As revelações parciais do Velho Testamento já passaram antes, ou melhor, foram fundidos n’Aquele que é glorificado à direita de Deus, e isso é declarado no evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.

Compartilhar
Rolar para cima