Origem: Livro: O Nome Sobre Todo Nome

Parte 12 – Tu Permaneces

Ao longo de todo este ano, estivemos ocupados com o nome que está sobre todo nome, expressando as várias glórias e excelências de nosso bendito Senhor e Salvador. Tem sido nosso deleite passar de uma fase para outra de Suas infinitas perfeições, e chamar a atenção para Ele como Aquele em Quem todos os pensamentos e caminhos de Deus estão centralizados, e como Aquele, também, que é a porção permanente e eterna do coração do crente. Ficar maravilhado com a contemplação de Cristo, como a rainha de Sabá ficou na presença da glória de Salomão, é antecipar o gozo do céu. Mas para entrar em qualquer medida disso, devemos seguir nosso bendito Senhor – e isso só pode ser por meio da morte e ressurreição moralmente conhecidas – no Santo dos Santos, onde Ele habita. Somente ali podemos, com o rosto descoberto, contemplar a glória do Senhor, e ser transformados, de glória em glória, na própria imagem, como pelo Espírito do Senhor. Como é Seu próprio desejo ter Seu povo amado assim na intimidade de Sua própria presença, que Ele possa gerar em todos nós aquele propósito de coração que nos levará a dizer como o salmista: “Uma coisa pedi ao SENHOR e a buscarei: que possa morar na casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do SENHOR e aprender no Seu templo”.

Em nosso presente assunto, somos convidados a considerar Sua imutabilidade, em contraste com o caráter transitório deste mundo. Na medida em que nosso corpo está ligado a esta criação, que ainda “geme e está juntamente com dores”, há momentos em que somos oprimidos com a percepção de corrupção e morte que estão escritas em toda a cena. Já sob julgamento, essa criação logo desaparecerá, pois “os céus e a Terra que agora existem pela mesma Palavra se reservam como tesouro e se guardam para o fogo, até o Dia do Juízo e da perdição dos homens ímpios” (2 Pe 3:7). As próprias obras das mãos do Senhor também perecerão, como uma veste, Ele mesmo as enrolará, e elas serão mudadas. Para a pergunta: Por quê? A resposta é: A primeira criação compartilhará a condenação do primeiro homem. Por um pequeno período, em testemunho dos direitos e da glória do Filho do Homem, ela será libertada da escravidão da corrupção para a liberdade da glória dos filhos de Deus, mas o julgamento pronunciado sobre ela, embora adiado, é final e irrevogável.

É, portanto, um imenso consolo ser lembrado de que o próprio Senhor, o Criador, permanece para sempre. O retrospecto do tempo, que sempre é retratado em nossa atenção no final de um ano, a constante partida daqueles que conhecemos e amamos, os sinais de mortalidade que encontram nosso olhar a cada passo – todas essas coisas poderiam encher nosso coração de apreensão e tristeza, se nossa visão fosse limitada pelo horizonte do tempo. Mas, graças a Deus, temos a ver com uma Pessoa que está acima e além de qualquer mudança, com Aquele que é sempre o Mesmo e cujos anos nunca terão fim, e Ele é conhecido por nossa alma como Salvador, Redentor e Senhor. É, de fato, uma característica do Cristianismo que estejamos presos – abençoadamente presos – a uma Pessoa divina e para uma Pessoa divina que, tendo estado aqui como Homem no meio dos homens, conhece todas as nossas necessidades e tristezas. No mesmo Salmo que o apóstolo cita, encontramos, de fato, os sentimentos aos quais foi feita alusão. Isso encorajará nosso coração a considerar um pouco sobre o que está registrado.

Em primeiro lugar, é preciso apontar que o título divino do Salmo (102) é, “Oração do aflito, vendo-se desfalecido, e derramando a sua queixa perante a face do SENHOR”; e que seja lembrado que “o Aflito” aqui é nada menos que a Pessoa do Messias no meio de Sua tristeza e rejeição. Mas passando pelas circunstâncias especiais em que Ele é visto aqui, e chegando ao nosso assunto imediato, Ele diz no versículo 23: “Abateu a Minha força no caminho; abreviou os Meus dias”. E então, voltando-se para Deus, Ele diz: “Deus Meu, não Me leves no meio dos Meus dias, Tu, cujos anos alcançam todas as gerações”. Como nosso coração é atraído para nosso precioso Salvador, quando temos a permissão para contemplá-Lo em circunstâncias tão semelhantes àquelas em que nós mesmos nos encontramos; perceber que Ele, ao Se tornar Homem, foi sobrecarregado com o sentimento e a experiência de fraqueza e da brevidade da vida humana. Sim, como lemos em outro lugar, Ele foi tentado em todos os pontos, como nós somos, sem pecado; e é por isso mesmo que Ele está qualificado para Se compadecer de nós em nossas enfermidades e para nos ministrar o socorro necessário. Bendito seja para sempre o Seu santo nome!

Consideremos, no entanto, a resposta ao Seu clamor. Começa com o versículo 25: “Desde a antiguidade fundaste a Terra; e os céus são obra das Tuas mãos. Eles perecerão, mas Tu permanecerás; todos eles, como uma veste, envelhecerão; como roupa os mudarás, e ficarão mudados. Mas Tu és o mesmo,[7] e os Teus anos nunca terão fim”. Podemos dizer reverentemente que Deus, em resposta ao clamor de angústia de Seu ungido, O lembra de Sua criação, e então, que se todas as obras de Suas mãos perecessem, Ele permaneceria; que, em contraste com a mudança, decadência e dissolução da criação, Ele, embora em circunstâncias de fraqueza e tristeza, era, em Seu próprio Ser, O imutável. Tal linguagem só pode ser entendida à luz do mistério de Sua Pessoa, mas o ponto que desejamos agora enfatizar é que o conforto e o sustento ministrados à Sua santa alma estavam em conexão com a eternidade e a imutabilidade de Seu próprio Ser. Mais não pode ser dito; mas oh! Quão perto Ele se aproxima de nós em nossa fraqueza quando lemos essa “Oração dos aflitos” e aprendemos o caráter da resposta que Ele recebeu.
[7] N. do A.: Como apontado no capítulo 1, as palavras Atta Hu, traduzidas como “Tu és o mesmo”, sempre foram consideradas como tendo a força de um título divino.

Há outra coisa a ser observada. Como o Autor de nossa salvação, Ele foi aperfeiçoado por meio de sofrimentos, e assim Se tornou o perfeito Exemplo para todos os Seus santos aflitos e provados. Mas a maravilha é que a consolação ministrada a Ele enquanto trilhava o caminho da rejeição, quando, em toda a aparência exterior, Ele trabalhou em vão e gastou Suas forças por nada, é da mesma natureza que aquela consolação ministrada a nós em nosso caminho de peregrinação. É-Lhe dito, como no Salmo, de Seu Ser imutável? Da mesma forma, somos lembrados, enquanto passamos por este mundo mutável, que Ele permanece e que Ele é sempre o mesmo – o mesmo no decorrer de todos os séculos do tempo, como no decorrer das imensuráveis eras da eternidade. Somos assim colocados sobre uma Rocha – uma Rocha que nada pode nunca abalar e sobre a qual, repousando em perfeita paz, podemos contemplar a dissolução de todas as coisas, sem uma única apreensão. Cristo permanece, mesmo que percamos tudo o mais; devemos antes dizer: que tudo o mais desapareça do nosso olhar, pois não queremos nada, porque possuímos Cristo.

Tudo isso apenas nos ensina que já pertencemos a outra cena, que é tão imutável quanto Cristo é imutável. Foi nessa lição que o Senhor instruiu tão cuidadosamente Seus discípulos. Em João 13, por exemplo, todo o significado de Ele lavar os pés deles pode ser assim expresso: “Se Eu não posso mais permanecer com vocês em suas circunstâncias, Eu lhes mostrarei como vocês podem seguir e ter parte Comigo naquele novo lugar para o qual estou indo”. Assim também, quando Maria Madalena O teria detido aqui, Ele disse: “Não Me toques; pois ainda não subi a Meu Pai; mas vai a Meus irmãos e dize-lhes: Subo a Meu Pai, e a vosso Pai; e a Meu Deus, e a vosso Deus”. É a mesma lição de outra maneira. Ele coloca Seus discípulos, por essa mensagem, em Seu próprio lugar e relacionamento em associação Consigo mesmo, e isso é necessariamente no céu. Não apenas, portanto, pertencemos a outra cena – a que está fora deste mundo – mas o Senhor gostaria que O seguíssemos até ela e estivéssemos em Sua companhia lá, mesmo enquanto pisávamos nas areias do deserto.

“Tu permaneces” é, portanto, cheio de sustentação e encorajamento benditos. Não só nos proporciona um fundamento seguro e inabalável em meio a mudanças e inquietações, mas também atrai nosso coração para aquele novo lugar e aquela nova ordem de coisas, que Ele formou e inaugurou em virtude de Sua morte e ressurreição, e onde Ele mesmo é o Centro de toda a glória que inunda toda a cena. Pois, como lemos em outro lugar, Ele subiu muito acima de todos os céus, para encher todas as coisas. Bem, então podemos aceitar a morte sobre todas as coisas aqui, pois já a luz de outro mundo despontou sobre nossa alma – um novo mundo onde nem a mudança, nem a tristeza, nem a morte podem entrar, e onde estaremos para sempre com Cristo e conformados à Sua própria imagem. Dessa nova criação, Ele é o Princípio, como o Primogênito dentre os mortos, e Ele permanece. Sim, como é permitido nos dirigir a Ele, “Tu és o mesmo, e Teus anos não terão fim”.

Em conclusão, o escritor perguntaria afetuosamente se o leitor está conscientemente repousando sobre Aquele que é o mesmo ontem, hoje e para sempre. Não há outro fundamento para a nossa alma diante de Deus. Com base nisso, estamos seguros tanto para o tempo quanto para a eternidade, pois Deus é então por nós; e se Ele é por nós, quem pode ser contra nós?

E. Dennett

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