Origem: Livro: O Nome Sobre Todo Nome
Parte 3 – Ele Será Chamado pelo Nome de Emanuel
“Ele será chamado pelo nome de Emanuel” (Mt 1:23)
Já foi indicado que o nascimento de Jesus em Belém foi em cumprimento dessa profecia. Não que o nascimento em si contivesse seu cumprimento, era antes seu penhor e garantia. O significado do nome, como divinamente interpretado, é “Deus conosco”, e isso nos permite ver que Ele aguarda todas as consequências para Israel da introdução de seu Messias neste mundo; que, em outras palavras, o nome Emanuel de nosso bendito Senhor só será entendido em conexão com o estabelecimento de Seu trono glorioso na Terra, quando Ele fizer valer tudo o que Deus é no governo, e quando, com Seu povo, “O Seu nome permanecerá eternamente; o Seu nome se irá propagando de pais para filhos, enquanto o Sol durar; e os homens serão abençoados n’Ele; todas as nações Lhe chamarão Bem-aventurado” (Sl 72:17). Isso traz consigo, portanto, o proveito de Sua morte por “aquela nação” e a promessa de Sua presença pessoal com Seu povo terrenal. É desse tempo que o profeta fala quando diz: “Exulta e canta de gozo, ó habitante de Sião, porque grande é o Santo de Israel no meio de ti” (Is 12:6).
Uma referência à profecia em si, juntamente com seu contexto, tornará isso abundantemente evidente. Acaz, pai de Ezequias, estava naquele tempo no trono de Judá. Ele “não fez o que era reto aos olhos do SENHOR, seu Deus, como Davi, seu pai. Porque andou no caminho dos reis de Israel e até a seu filho fez passar pelo fogo, segundo as abominações dos gentios, que o SENHOR lançara fora de diante dos filhos de Israel” (2 Rs 16:2-3). No entanto, apesar de sua maldade e apostasia, Deus ainda esperou com muita longanimidade e se absteve de lidar com Seu servo culpado. Sim, em vez disso, quando Efraim e a Síria entraram em uma confederação contra a casa de Davi e subiram para sitiar Jerusalém, Jeová enviou Seu servo Isaías com uma mensagem de encorajamento, assegurando a Acaz que os desígnios de seus inimigos não prosperariam. O profeta acrescentou, ao mesmo tempo, a palavra de advertência: “se o não crerdes, certamente, não ficareis firmes”. Acaz poderia ser libertado do perigo presente, mas a menos que ele se voltasse e permanecesse firme na palavra do Senhor, ele não deveria escapar de seu castigo merecido. (Veja 2 Crônicas 28).
Mais uma vez, o Senhor procurou, em Sua terna misericórdia, alcançar o coração e a consciência do rei ofensor. Deus permitiria se Acaz o pedisse, para dar-lhe “um sinal, embaixo nas profundezas ou em cima nas alturas” (Is 7:11), para certificá-lo do cumprimento seguro de Sua Palavra. O coração de Acaz havia se voltado para falsos deuses e, assim endurecido, ele recusou, embora sob o pretexto de piedade, a intervenção oferecida, dizendo: “Não o pedirei, nem tentarei ao SENHOR”. O Perscrutador de corações não seria enganado e, depois de uma solene advertência, o profeta anunciou que o próprio Senhor daria um sinal. “eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um Filho, e será o Seu nome Emanuel”. É nisso que se revela a profundidade das riquezas, tanto da sabedoria quanto do conhecimento de Deus. A casa de Davi pode falhar em sua responsabilidade, como fizeram gravemente, e perder tudo; mas, nisso, Deus, agindo de Seu próprio coração e de acordo com Seus propósitos, poderia intervir e, por meio do advento de Jeová, o Salvador – por meio de Sua rejeição, morte e ressurreição – cumprir todos os conselhos de Sua graça. O nascimento de Emanuel mudaria tudo. Aqueles que fossem falsos quanto ao seu encargo seriam punidos como Acaz, mas Emanuel asseguraria tudo e vindicaria e glorificaria o nome de Deus no governo sobre a Terra.
Mas permanece um longo e cansativo caminho para Israel, por causa de sua incredulidade, entre o nascimento de Emanuel e a glória do reino. Isso foi claramente predito pelo profeta em conexão com a própria profecia em questão. O leitor cuidadoso observará que a primeira invasão da terra pelos assírios, trazendo total desolação em seu irrestrito sucesso (Is 7:17), apenas sombreia outro ataque nos últimos dias, quando ele e seus confederados são totalmente quebrados em pedaços. Eles podem tomar aconselho juntos, mas isso dará em nada; eles podem falar a palavra, mas ela não permanecerá, pois “Deus é conosco” (Emanuel). Antes desse tempo – a destruição final do inimigo de Israel – Aquele que é nascido da virgem, e chamado Emanuel, é visto em rejeição. A transição para isso é extremamente bonita. O profeta foi instruído pelo Senhor “que não andasse pelo caminho deste povo, dizendo: Não chameis conjuração a tudo quanto este povo chama conjuração; e não temais o seu temor, nem tampouco vos assombreis. Ao SENHOR dos Exércitos, a Ele santificai; e seja Ele o vosso temor, e seja Ele o vosso assombro” (Is 8:11-13). Mas isso instantaneamente traz separação, distinguindo um remanescente da massa do povo. Assim, lemos: “Então, Ele vos será santuário” (para todos aqueles que O santificam e temem); “mas servirá de pedra de tropeço e de rocha de escândalo às duas casas de Israel; de laço e rede, aos moradores de Jerusalém”. Como de fato Simeão profetizou: “Eis que Este é posto para queda e elevação de muitos em Israel e para sinal que é contraditado… para que se manifestem os pensamentos de muitos corações”.
Emanuel veio. O Santuário daqueles que esperaram por Ele, Ele é o verdadeiro Centro em torno do Qual Seu povo está reunido; e aqui, pela primeira vez, Ele mesmo fala e os chama de “Meus discípulos”. E Ele os nomeia assim em conexão com “o testemunho”, e afirma claramente que a verdade daquele dia, tanto a lei quanto o testemunho, é confiada e confinada ao remanescente, agora Seus discípulos. Foi assim também no dia da rejeição de Davi. Na caverna de Adulão, quando todos os que estavam em aperto, e todos os que estavam endividados, e todos os que estavam descontentes, se reuniram a ele, e ele se fez chefe deles, descobrimos que o profeta Gade também estava lá; e imediatamente depois de Abiatar, o sacerdote, ser levado para o mesmo grupo, que agora possuía todas as formas do testemunho de Deus nas pessoas do rei, do profeta e do sacerdote. Da mesma forma, Ana, a profetisa, estava com os poucos que esperavam a redenção em Jerusalém. Deve ser sempre assim, que aqueles que estão em separação do mal, e estão em comunhão com a mente de Deus a respeito de Seu Cristo, e sobre o estado das coisas ao seu redor, devem ser os depositários do testemunho para os tempos em que estão vivendo. A razão é que o próprio Cristo está com eles. Ele ama todo o Seu povo, mas Ele apenas Se identifica com o remanescente separado, como no versículo 18 de Isaías 8. Que aqui e ali muita verdade pode ser encontrada fora do remanescente é inquestionável; mas somente com o remanescente será visto o ensinamento especial de Deus para o momento, ou a verdade mantida e apresentada em suas devidas proporções. O testemunho será ligado, e a lei será selada, entre os discípulos do Senhor num dia mau, porque, como já foi dito, Ele mesmo está no meio deles.
O estado de coisas no momento em que Isaías fala é revelado nos versículos a seguir, e que seja lembrado novamente que é o próprio Cristo Quem fala. Ele disse, “E esperarei o SENHOR, que esconde o rosto da casa de Jacó, e a Ele aguardarei. Eis-Me aqui, com os filhos que Me deu o SENHOR, como sinais e maravilhas em Israel da parte do SENHOR dos Exércitos, que habita no monte de Sião” (Is 8:17-18). Na epístola aos Hebreus, partes desses dois versículos são citadas, para mostrar a completa identificação do Senhor como Homem com Seu povo, com o verdadeiro remanescente reunido dentre a nação Judaica (cap. 2:13), e isso como uma preparação para o objetivo de Sua morte, a saber, para que “aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo, e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão”. Mas não prosseguiremos nessas circunstâncias interessantes além de chamar a atenção para o fato maravilhoso de que Aquele que estava assim em relação a Deus em perfeita dependência como Homem e, portanto, esperando em Jeová, e em relação aos homens Ele era desprezado e rejeitado, era ao mesmo tempo não menos do que o Emanuel da profecia de Isaías, e que, neste caminho de rejeição, Ele estava experimentando alguns daqueles sofrimentos que devem preceder Suas glórias.
No capítulo 9, o povo que anda nas trevas vê uma grande luz, “e sobre os que habitavam na região da sombra de morte resplandeceu a luz”. Para o cumprimento desta gloriosa profecia, Mateus registra que Jesus deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica à beira-mar, nas fronteiras de Zebulom e Naftali (veja Isaías 9:1). No momento em que Isaías proclama o aparecimento do Messias como luz no meio das trevas, ele contempla todas as suas consequências nos resultados da libertação que o Messias fará nos últimos dias. O jugo da Assíria sendo quebrado, todo o brilho da glória da Pessoa divina do Messias brilha na bênção de Seu povo. E toda essa bênção está ligada ao nascimento de Cristo neste mundo. “Porque”, diz o profeta, “um Menino nos nasceu, um Filho se nos deu; e o principado está sobre os Seus ombros; e o Seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”. Todos esses nomes são dados em conexão com Seu reino neste mundo, pois o profeta prossegue: “Do incremento deste principado e da paz, não haverá fim, sobre o trono de Davi e no Seu reino, para o firmar e o fortificar em juízo e em justiça, desde agora e para sempre” (Is 9:6-7).
É evidente, portanto, que Emanuel, “Deus conosco”, é o nome pertencente ao nosso bendito Senhor em conexão com o povo terrenal, e que eles não entrarão em seu pleno e bendito significado até que Ele tenha tomado Seu grande poder, quando Ele reinará no monte Sião, e em Jerusalém, e gloriosamente, diante de Seus antepassados.
Quem é, então, Emanuel? Seu nascimento é predito em Isaías 7:14 e, depois de detalhar as circunstâncias de Sua rejeição no capítulo seguinte, o profeta prediz o estabelecimento de Seu reino no capítulo 9. Juntamente com isso, ele aproveita a ocasião, em uma passagem já citada, para apresentar uma série de títulos, ou nomes, que expressam o caráter infinito e divino da Pessoa de Emanuel. Vamos repassá-los brevemente. O primeiro é “Maravilhoso”, uma palavra usada muitas vezes para aquilo que causa espanto ou admiração. Às vezes, é empregado para indicar um milagre, e nada desperta tanto a atenção quanto uma demonstração milagrosa de poder. E que milagre é tão grande quanto o da encarnação? O que poderia produzir tal maravilha como o fato de Emanuel ter nascido de uma virgem? Então Ele é chamado de “Conselheiro”. A sabedoria divina é indicada por esta palavra, como, por exemplo, onde diz: “E repousará sobre Ele o Espírito do SENHOR, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do SENHOR” (Is 11:2). A designação “Deus Forte” proclama seu próprio significado, pois não poderia haver uma declaração mais distinta de Sua Divindade, nem o seguinte termo, “Pai da Eternidade”, fala menos claramente, na medida em que estabelece a eternidade de Seu Ser. Finalmente, Ele é o “Príncipe da Paz”, um título que indica o caráter de Salomão de Seu reinado, tão admiravelmente descrito no Salmo 72.
Pode ser permitido a nós, em conclusão, perguntar por que um número tão grande de nomes deve ser combinado. Certamente, a resposta é que somente pela contemplação dos raios da glória de Emanuel separada e individualmente que qualquer concepção pode ser formada da verdade de Sua Pessoa. Seja como for que Ele possa ser apresentado, em qualquer aspecto ou relacionamento, tudo o que Ele é encontra-se lá sob o específico aspecto, e somos lembrados disso por passagens como a que está sendo considerada. É de fato um dos erros fatais destes dias modernos tomar alguma característica da vida ou Pessoa de nosso bendito Senhor e considerá-la como toda a verdade. Ele é a Palavra viva, e é somente em tudo o que fala d’Ele que Ele pode ser totalmente descoberto; e é por causa de nossa fraqueza que o Espírito de Deus chama nossa atenção ora para um aspecto, ora para outro, ora para uma característica, ou traço ou atributo de Sua Pessoa, e ora para outro. Mas Ele ainda está além de todos os nossos pensamentos, vendo que Ele é divino, “verdadeiro Deus e verdadeiro Homem”, e, portanto, está escrito: “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai”.
