Origem: Livro: O Nome Sobre Todo Nome
Parte 9 – Para o Seu Nome
Se o termo “nome”, conforme usado para nosso bendito Senhor e Salvador, é a expressão de tudo o que Ele é, não causará surpresa encontrá-lo apresentado a nós de tantas maneiras e aspectos diferentes. A conexão necessária, de fato, entre a Palavra viva e a Palavra escrita, na medida em que a última contém a revelação da primeira, fornece a explicação. Segue-se que quanto mais temos o próprio Cristo diante de nós, ao ler a Escritura, mais plenamente estamos na mente do Espírito Santo, e melhor estamos preparados para o discernimento dos raios de Sua glória, que brilham de cada página. Considerar a Escritura como a exibição de Cristo, de Deus revelado em Cristo, é uma proteção segura contra o erro, bem como o antídoto para os ensinamentos racionalistas da época, enquanto, ao mesmo tempo, tende a produzir aquela reverência e adoração na alma, sem a qual é impossível receber as comunicações divinas nelas feitas. Nunca é demais enfatizar esse ponto, e sua observação é seriamente recomendada à atenção do leitor.
Ao passar agora a considerar a frase “para o Seu nome”, propomos selecionar dois ou três exemplos de seu uso para ilustrar seu significado e apontar como, em cada caso, ela traz à tona, seja como Líder, Objeto ou Centro, a Pessoa de nosso bendito Senhor. Tomamos em primeiro lugar a expressão: “Batizados em [para o – JND] nome do Senhor Jesus” (At 8:16; 19:5). Em ambos os casos, em nossa versão, é traduzido, “em nome do Senhor Jesus”; mas as palavras só poderiam ser traduzidas com precisão, nós apreendemos, como “para o nome”, etc. Isso, de fato, pode ser mostrado a partir de traduções da mesma palavra em outros lugares. Assim, em Atos 19:3, onde o apóstolo diz: “Em [Para – JND] que sois batizados, então?” E eles disseram: “No [para o – JND] batismo de João”, a mesma palavra é usada. Da mesma forma, em 1 Coríntios 10:2, que “todos foram batizados em [para – JND] Moisés”, a mesma palavra também é empregada. É, portanto, abundantemente claro que “em” deve ser substituída por “para” nas duas passagens citadas; e é necessário que isso seja feito, pelo fato de que “em nome do Senhor” também é encontrado em conexão com o batismo (At 10:48). O significado nesse caso, como explicado em um capítulo anterior, será que aqueles que batizaram Cornélio e aqueles que ouviram a Palavra com ele, agiram, pela direção de Pedro, em nome e sob a autoridade do Senhor.
Tendo agora elucidado a força do termo, seu significado pode atrair nossa atenção. A expressão semelhante em 1 Coríntios 10 pode nos ajudar a averiguar isso. Não pode haver dúvida de que ser batizado para Moisés implica levar o povo à associação com Moisés como sob sua autoridade. Da mesma forma, ser batizado para nome do Senhor Jesus trouxe aqueles que foram batizados para o terreno onde Sua autoridade era suprema e para a companhia daqueles que reconheciam essa autoridade. O nome do Senhor expressará, então, nesse contexto, o que Cristo é quando exaltado e glorificado como Senhor; e os batizados O confessam como tal, e também reconhecem Suas reivindicações e Sua autoridade sobre eles. Não é toda a verdade do batismo, pois Paulo ensina que todos os que foram batizados em [para] Cristo Jesus foram batizados na [para] Sua morte. Mas não entramos nisso aqui, pois desejamos nos limitar à passagem diante de nós e chamar a atenção para seu significado. Para não ir mais longe, então, sua importância é a autoridade absoluta de Cristo como Senhor, e a responsabilidade da confissão por parte daqueles que foram batizados. Em um dia de profissão e declínio, é bom perguntar se as almas que foram levadas ao terreno do Cristianismo estão cientes das responsabilidades que assumiram. Certamente o Senhor também pode dizer a muitos de nós neste dia: “E por que Me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que Eu digo?” Pois nunca houve um tempo em que o espírito de rebeldia fosse mais predominante, mesmo em combinação com a confissão do nome e autoridade de Cristo. Se o primeiro dever de um soldado é a obediência inquestionável, certamente um Cristão deve ser marcado perante o mundo por sua sujeição incondicional à autoridade de seu Senhor, conforme expressa em Sua Palavra, e por seu incansável zelo e dedicação em manter a honra de Seu bendito nome. “O Teu povo se apresentará voluntariamente no dia do Teu poder”.
Outro exemplo do uso da mesma frase pode ser citado na epístola aos Hebreus. Onde lemos: “Deus não é injusto para Se esquecer da vossa obra e do trabalho da caridade que para com o Seu nome, mostrastes, enquanto servistes aos santos e ainda servis” (Hb 6:10). Em muitos aspectos, essa é uma passagem notável pela preciosidade das verdades que contém. Observarmos que aqui é o nome de Deus, pois Cristo, nesta epístola, é visto como o Sumo Sacerdote à direita de Deus, onde Ele tanto representa como intercede por Seu povo. Ainda assim, é o nome de Deus revelado em Cristo, pois no capítulo 1 somos lembrados de que o Filho é chamado de Deus. Sendo assim, temos que perguntar sobre o significado das palavras – para Seu nome – nesta passagem. Em primeiro lugar, é claro que o apóstolo faz alusão ao ministério aos santos. Esses crentes hebreus estavam fazendo o bem e “comunicando”, isto é, compartilhando o que possuíam com seus companheiros santos que estavam em necessidade, pois eles haviam apreendido a verdade de que com tais sacrifícios Deus Se agradava. (veja o cap. 13:16). Ao cuidar assim com verdadeiro amor fraternal das necessidades dos santos de Deus, eles estavam, diz o apóstolo, mostrando bondade para Seu nome.
Mas isso requer mais explicações. Deve então ser lembrado que nosso bendito Senhor Se identifica plenamente com Seu povo, e que Seu nome é invocado sobre eles, bem como confiado a eles para levar e manter Sua honra diante dos homens. Portanto, receber um Cristão em nome de Cristo é receber o próprio Cristo, e, além disso, receber a Cristo é receber Aquele que O enviou. Deus é assim identificado com Cristo (não falando agora de Sua unidade essencial), e Cristo Se torna um com Seu povo. Voltando então para o outro lado, será imediatamente entendido que tudo o que é ministrado aos Seus é bondade demonstrada ao Seu nome. Ele mesmo explicou isso nas palavras sempre memoráveis: “quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes”. Assim também, em um sentido ainda mais profundo, Ele poderia dizer a alguém que tinha sido o inimigo amargo e implacável de Seu povo: “Por que Me persegues?” Quão abençoado é um encorajamento para lembrar, em todos os momentos, que o Senhor considera o que é feito aos Seus santos como feito a Si mesmo! E aqui está também o segredo de todo verdadeiro serviço entre Seu povo. Se eles forem nosso objetivo, por mais que possam se beneficiar do serviço, não é um serviço que o Senhor possa recomendar. Nesse caso, pode haver amor fraternal, ou pelo menos a aparência dele, em exercício, mas o que deveria ser a fonte divina dele, o próprio Cristo, estaria faltando. Estar imbuído dessa verdade produziria dedicação incansável e incessante.
Como outro exemplo, podemos nos referir a Mateus 18. Damos toda a passagem: “Também vos digo que, se dois de vós concordarem na Terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por Meu Pai, que está nos céus. Porque onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome (as palavras aqui também são traduzidas mais corretamente, “para o Meu nome”), aí estou Eu no meio deles” (vs. 19-20). Para entender a bendita instrução dessa passagem, deve-se ter em mente que o capítulo 18 “supõe Cristo rejeitado e ausente, e a glória do capítulo 17 ainda por vir. A questão passa por cima do capítulo 17 para se conectar com o capítulo 16”, e a razão disso é que esse capítulo 18 trata dos dois assuntos introduzidos no capítulo 16, a Igreja e o reino, que devem ocupar o lugar de Cristo na Terra durante o período de Sua ausência e permanência à direita de Deus, onde Ele estará até que Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés (Sl 110). Também pode ser apontado que, em conexão com a menção da assembleia, no capítulo 18, é feita provisão para três coisas: primeiro, a questão da transgressão contra um irmão, segundo, a administração da disciplina, ligar e desligar, com sua ratificação divina quando feita de acordo com Deus, e por último, o que mais imediatamente nos preocupa neste capítulo, a condição das orações que prevaleciam.
Será notado pelo leitor que o versículo 19 inicia uma instrução adicional, como mostrado pelas palavras: “Também vos digo”, etc., embora não possamos duvidar de que o grupo, “dois de vós”, ou os “dois ou três”, está conectado com a assembleia no versículo 17. O que se acrescenta é o ensinamento relativo à concordância na oração, em vez de qualquer coisa que diga respeito à Igreja, exceto, de fato, a revelação da maravilhosa graça que associa a presença e união do Senhor em oração com quaisquer dois ou três que possam estar reunidos para Seu nome. Então, entendendo isso, tudo depende, como será percebido, do que se entende por estar assim reunido. Falando em termos gerais, pode-se dizer que o ponto essencial é que, como “nome” expressa a verdade da Pessoa, o próprio Senhor deve ser o Centro e o Objeto da reunião. Mas também deve ser lembrado que Seu nome completo neste relacionamento é o Senhor Jesus Cristo. Seu nome, como tal, fala, portanto, de Sua autoridade, Sua Pessoa e Sua obra. A reunião, então, deve estar sob e sujeita à Sua autoridade, e também para manter as verdades de Sua Pessoa e obra. Que o poder de reunião é o Espírito Santo é evidente pelo fato de que Ele está aqui para glorificar a Cristo; e sendo assim, Ele não poderia sancionar qualquer assembleia onde a supremacia de Cristo não fosse reconhecida, ou onde pudesse haver qualquer indiferença às glórias de Sua Pessoa, ou ao caráter da expiação feita na cruz. Todo grupo, portanto, que alega estar reunido ao Seu nome deve responder a esses testes.
Essa é a condição que o próprio Senhor estabelece para a Sua própria presença quando diz: “Onde dois ou três estiverem reunidos em [são reunidos para o – JND] Meu nome, aí estou Eu no meio deles”. Isso não quer dizer, lá estarei Eu, mas lá estou Eu, e então aprendemos que a reunião assim – para Seu nome – garante Sua presença. A percepção disso pode depender de nosso estado de alma, como deve acontecer, mas a presença do Senhor é um fato relacionado ao cumprimento de uma condição. Que graça! E que fonte de bênção e poder no meio dos Seus! Um exemplo disso, de fato, é dado, pois Ele nos diz que Ele mesmo, presente no meio de Seus santos reunidos dessa maneira, é o poder de produzir concordância em oração e a garantia de que toda oração assim será respondida pelo Pai. Que espaço para o exame de coração quanto ao caráter de nossas reuniões, é assim proporcionado! E que chamado nos é feito para examinar nosso próprio estado individual de alma, mesmo que estejamos verdadeiramente reunidos ao Seu nome! Uma das armadilhas de Satanás é nos levar a tomar as coisas como certas; o meio de evitar isso é estar constantemente diante de Deus, desejando ter tudo quanto a nós mesmos e nossas associações, exposto pela luz de Sua presença, e ter tudo testado por Sua Palavra infalível.
