Origem: Livro: Segue-Me e Jejuando ou Festejando
O Poder Concedido
Se a pecaminosidade é exemplificada no homem leproso, a impotência é demonstrada no homem paralítico. Coloque os dois casos juntos, e você terá uma ideia muito completa do que é um pecador. Sua pecaminosidade o expõe ao julgamento de Deus; sua impotência o faz depender inteiramente da Sua misericórdia, pois ele não tem recurso em si mesmo.
Quão maravilhosamente a necessidade é atendida! Suponha que Deus parasse repentinamente no perdão dos pecados, em que situação horrível o perdoado ainda estaria. Retire as maçãs de uma macieira silvestre, ela continua sendo tão macieira como sempre, e nem toda a habilidade do mundo pode fazê-la produzir outra coisa que não seja maçã, exceto pela introdução de uma nova vida. Perdoe os pecados de um homem e pare aí, e ele ainda será um pecador, sua natureza permanece inalterada, sem nenhuma habilidade além de dar efeito à sua natureza pecaminosa. No caso diante de nós, tanto o pecador Simão quanto o homem cheio de lepra estão representados, quando o Senhor disse ao paralítico: “Homem, os teus pecados te são perdoados”. Mas neste incidente damos um grande passo à frente, pois duas coisas eram proeminentes, (1) pecados perdoados, (2) poder comunicado. E é essa segunda coisa que é tão importante. É extremamente interessante ver como isso aconteceu. Os escribas murmuraram: “Quem é Este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” O Senhor respondeu-lhes em tantas palavras, enunciando um princípio muito importante, a saber: que Ele demonstra Sua capacidade de perdoar pecados, por Sua capacidade de libertar o pecador das consequências de seu pecado. Não me refiro às consequências físicas do pecado, mas à consequência moral, que é a impotência absoluta de andar para Deus. Nenhum homem pode ver que um outro teve seus pecados perdoados, mas a demonstração disso – capacidade de andar para Deus – pode ser vista. Quantas vezes isso é testemunhado por um incrédulo, quando ele diz que acredita que fulano de tal é convertido, porque sua vida está mudada.
Então o Senhor disse ao paralítico: “Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa”. Imediatamente o homem se levantou. Não somente sua necessidade é suprida, mas poder é concedido. Ele “tomando a cama em que estava deitado, foi para sua casa glorificando a Deus”. Em outras palavras, aquilo que o carregava, agora ele a carrega. Que demonstração de poder!
Esta é uma ilustração do fato de que o único poder que o crente tem está no Espírito Santo. Sem o Espírito de Deus, o Cristão seria sem poder. E quando ele entristece o Espírito e anda na carne, nessa proporção ele cai no poder do inimigo. Mas bendito seja Deus, “maior é o que está em vós do que o que está no mundo” (1 Jo 4:4).
Graças a Deus, nossos pecados diante de Deus são tratados na cruz, e nosso estado foi ali condenado e colocado de lado, e nossa impotência é suprida pelo dom do Espírito Santo, libertando-nos assim de nós mesmos, e nos capacitando a andar para Deus. Oh! Que gozo quando tudo isso é aprendido na alma. Livres da pena do pecado pela obra de Cristo na cruz; livres do poder do pecado pela habitação do Espírito de Deus, e livres da presença do pecado quando o Senhor vier.
Há sempre uma resposta da parte do Espírito de Deus à obra de Cristo. A obra em nós pelo Espírito sempre responde à obra por nós na cruz. Por exemplo, somos justificados? Então “o dom gratuito veio… sobre [para – JND] todos os homens para justificação de vida” (Rm 5:16, 18). Será que já entregamos nossos membros como servos à imundícia e à iniquidade para a iniquidade? Então somos exortados a “assim apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para a santificação” (Rm. 6:19). O homem paralítico foi perdoado? Então ele pegou “a cama em que estava deitado, foi para sua casa glorificando a Deus”.
Lembro-me de uma jovem que veio até mim em grande aflição. Ela era Cristã e tinha se esforçado muito para seguir o Senhor, mas sempre terminava em amargo fracasso e decepção. Ela confessou que tinha um temperamento irritável e que havia muitas outras coisas que a deixavam muito infeliz e insatisfeita consigo mesma. Ela tinha tentado melhorar, mas tudo foi em vão.
“Agora, Srta. Moore”, eu disse, “se você pudesse controlar completamente seu temperamento e resolver todos os outros problemas, você ficaria satisfeita consigo mesma?”
Com o rosto se iluminando diante da perspectiva, ela respondeu que ficaria. Então eu disse a ela que sua condição atual era infinitamente melhor do que isso. Ela estava insatisfeita CONSIGO MESMA — isso era muito melhor do que estar satisfeita CONSIGO MESMA. Ela teria ficado satisfeita com uma Srta. Moore melhorada, mas isso nunca seria suficiente para Deus.
Carne será carne, seja ela refinada ou não. “não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos” (Lc 6:44). Eu disse a ela que o erro estava em procurar aperfeiçoamento próprio e satisfação própria, e que Deus queria que ela tirasse completamente os olhos de si mesma e os focasse em Cristo, e que Ele queria que Cristo Se manifestasse nela em sua caminhada e em suas maneiras.
Sim, queremos um Objeto fora de nós mesmos, e é por estarmos ocupados com Cristo que somos capazes de andar direito aqui embaixo. Você acha que o lavrador faria um sulco reto se mantivesse o olho em seus próprios pés, ou no arado, ou mesmo nos animais? Não, ele deve ter um objeto, digamos, uma árvore, no final do campo. Mantendo seus olhos constantemente fixos nela, o resultado será um sulco reto. E o poder – o Espírito Santo — é dado para nos libertar de nós mesmos ao nos ocupar com Cristo, e assim o Cristianismo se torna uma coisa muito simples e abençoada para nossa alma.
Agora chegamos às duas palavras para as quais desejo chamar sua atenção especial: “Segue-Me”.
