Origem: Livro: Os Patriarcas

O poder da afeição

A Igreja recebe inspirações como não estando acima da medida ou da melodia da alma. E queremos que essas afeições nos façam felizes e nos libertem. É um método divino para nos libertar da tirania dos desejos carnais ou mundanos. É a maneira do Espírito despojar outras atrações de seu poder de seduzir e encher o coração, e de elevar a alma acima das preocupações de ansiedades inferiores. Veja o poder dominante de tal afeição sobre a pobre pecadora em Lucas 7. Trabalhando em seu coração, ela ficou surda às censuras e cega aos esplendores do fariseu e seu banquete. Ela conhecia apenas seu Objeto. O banquete e os convidados passaram despercebidos por ela. Esse era o poder da afeição nela. E qual foi o valor disso para Cristo? Nada do que ela falou ou fez passou despercebido por Ele. Ele parecia estar em silêncio e ser apenas o Receptor passivo de suas ofertas; mas Ele havia notado todas elas. As lágrimas, o beijo, o unguento e tudo mais foram anotados no livro de Suas recordações e elas são lidas a partir daí, quando chegar a hora de abrir esse livro.

E veja o mesmo em Maria no sepulcro. Ela vê os anjos. E eles eram deslumbrantes, lindos em sua geração e maravilhosos aos olhos de carne e osso. Mas o que era todo o esplendor para ela então? O cadáver de seu Senhor era seu Objeto, a imagem afetuosa de seu coração, e até mesmo as glórias celestiais podem ser ignoradas na busca por Ele. O mesmo acontece com Davi de antigamente. Sua alma estava cheia de gozo no Senhor. Ele dançaria diante da arca, “perante Ele ainda hei de dançar” (AIBB); e se isso fosse uma vergonha, ele pretendia ser ainda mais vil. Tal como aconteceu com Zaqueu também, não um rei como Davi, mas um mero cidadão de Jericó (pois o Espírito une ricos e pobres, altos e baixos, gentis e simples, como falamos, numa só afeição), ele pressionava a multidão, e sem parecer pensar na estranheza do ato, subiu em um sicômoro em busca do desejo que então comandava seu coração.

Gostaria que isso, amado, fosse mais derramado em nosso coração! Como deveríamos aprender a entreter Cristo, como esta paixão entretém ou embalsama o seu objeto! E que céu será, quando Ele for nosso desta forma, alimentando esse fogo em nossa alma, e nos dando a conhecer, em Si mesmo e em Suas belezas, esse amor sublime sem esfriamento para todo o sempre!

Quem dera que nosso coração ansiasse por Ele! Isto é o que encontramos exalado nos Cantares de Salomão. Não é o amor filial ou o amor agradecido que enviaria uma mensagem como essa. Diga-lhe que “estou doente de amor” (JND). É mais do que isso. Essa não é a linguagem dessas afeições, mas essa é a linguagem dos Cantares de Salomão. E, portanto, não podemos dizer menos deste livro daquilo que ele é, de uma maneira mística, as declarações de Cristo e de uma alma viva e desposada – todas brotando da fé que dá à alma a feliz garantia de aceitação e favor com Deus por meio do Senhor Jesus Cristo.

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