Origem: Livro: Princípios da Guerra Espiritual
A Porção do Crente- Josué 21:1-42
“O SENHOR é a porção da minha herança e o meu cálice” (Sl 16:5).
A provisão para a necessidade do homicida sendo totalmente suprida, a herança dos levitas é estabelecida; “à tribo de Levi Moisés não deu herança; o SENHOR, Deus de Israel, é a sua herança”. “Os sacrifícios queimados do SENHOR, Deus de Israel, são a sua herança” (Js 13:33, 14). Assim, embora “espalhados em Israel”, de acordo com a profecia de Jacó, e possuindo apenas um pequeno território, sua herança coroa as bênçãos concedidas a Israel, e brilha mais intensamente do que todas elas.
À tribo de Levi foi confiado o serviço do santuário, a custódia da lei de Jeová e o ensino do coração dos de Seu povo. “Ensinarão os Teus preceitos a Jacó, e a Tua lei a Israel” (Dt 33:10 – AIBB). Eles eram o poder de influência em Israel, e sua influência fluía da proximidade de sua posição com Deus.
Com as bênçãos materiais de Israel diante de nossos olhos – com leite e mel fluindo de sua terra, e alimentada com fontes brotando de vales e colinas – não é difícil discernir a posição peculiar ocupada por Levi. E, espiritualmente entendida, na herança dos levitas vemos a porção mais perfeita do crente; pois enquanto somos abençoados com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo – enquanto temos n’Ele regozijos concedidos a nós para sempre, além de todas as bênçãos que nos são conferidas por meio de Cristo, temos o próprio Cristo. De fato, somos trazidos para as bênçãos do Cristianismo para que possamos nos deleitar em Cristo. Deus nos salvou e nos trouxe para Si mesmo, para nada menos que ser como o Senhor e conhecer como somos conhecidos (1 Co 13:12). Sua graça para conosco alcança até mesmo além da libertação da ira e da entrada na vida; assim, enquanto contemplamos Sua misericórdia – o perdão de nossos pecados, o fim da primeira criação, a morte e ressurreição com Cristo – o Espírito de Deus habitando em nós quer que prossigamos adiante, para que possamos perceber e permanecer em nossa porção agora. “Para conhecê-Lo”, é o objetivo da energia da nova vida. Paulo ansiava tanto por abraçar sua porção que ele teria passado direto desta terra para alcançá-la, pois Cristo em glória era para ele experimentalmente o que Ele é verdadeiramente para todos os crentes, “o prêmio da soberana vocação de Deus”.
Cada evento registrado no Livro de Josué tem uma voz em si mesmo, e também há instrução na ordem em que os eventos são registrados, como na herança de Levi após as cidades de refúgio. Uma ordem semelhante é geralmente encontrada na experiência do povo de Deus, que mais frequentemente aprende sua necessidade de Cristo antes de aprender o que Cristo é para eles. Nossos pecados, a descoberta do “eu”, o aprendizado da justiça divina por Seu Espírito, engrandecem Cristo para nós como nosso Salvador, Aceitação e Vida; mas busquemos prosseguir para conhecê-Lo em Sua própria excelência intrínseca. Não pode ser que alguns, tendo plena certeza de que estão na cidade onde os levitas habitam, usem pouca diligência para obter o gozo de sua herança levita?
O fugitivo da vingança, que entrasse na cidade de refúgio, estaria necessariamente ocupado, a princípio, com sua própria libertação e segurança, e bendiria a Deus fervorosamente por ter Ele mesmo providenciado e separado a cidade para os homens que estivesse em situação igual a sua, e assim – embora de forma correta – o “eu” estaria diante dele; mas o levita que habitava na cidade, e estava à vontade lá, estava lá para que pudesse ser livre para o serviço de Deus; ele era chamado para a associação com Deus, e era para ele considerar as profundezas da Palavra, e ponderar o serviço do santuário. Sabemos mais do que a salvação por Cristo? Estamos, enquanto nos regozijamos com o fugitivo salvo, também aprendendo de Deus como com o levita? E se enquanto bendizemos a Deus pela salvação também estamos nos regozijando em Cristo, em que grau atingimos a plenitude da porção do crente? Encontramos alguns entre os levitas cumprindo um serviço mais santo; alguns manuseando instrumentos mais santos do santuário do que outros; e há graus até mesmo entre aqueles que conhecem Cristo, como sua porção.
Não pode haver outra maneira de aprender Cristo senão pela comunhão com Ele por meio da Palavra. Descobrimos o coração – o caráter – de um amigo terrenal pela intimidade; e na proporção em que sua excelência moral está além de nós, precisamos crescer à estatura dele antes de podermos apreciá-lo. Podemos compreender seus dons, talvez, pois o dom pode ser apreciado em si mesmo ou por sua adaptabilidade às nossas necessidades, mas o motivo e a graça do doador não são tão facilmente descobertos.
Todo o Israel estava diante de Deus em virtude dos sacrifícios, mas somente a tribo de Levi tinha “os sacrifícios queimados do SENHOR, Deus de Israel” como “sua herança”. Podemos ver o amor de Deus em dar Seu Filho para morrer por nós, e ainda assim perder a comunhão espiritual com Ele.
O levita só conseguia ler vagamente os pensamentos de Deus sobre Cristo através das sombras da lei; em nós o Espírito de Deus habita, e nos ensina todas as coisas. O levita foi separado para o serviço do santuário e a contemplação da Palavra de Deus, e esta deve ser nossa obra, pois para isso somos separados por Deus para Ele mesmo. Toda aquela dispensação com a qual o levita estava ocupado expunha Cristo em Sua excelência intrínseca, e como Ele é estimado por Deus em Sua obra para Seu povo. Podemos muito bem desejar o serviço que se liga ao próprio Senhor, e aquela separação que encontra ocupação somente n’Ele.
Quando o Senhor é visto, pela fé, em Sua excelência, a glória de Sua luz ofusca todo o resto. Saulo de Tarso viu Seu rosto eclipsando o brilho do Sol do meio-dia, e dali em diante não vivia mais para a Terra. O Senhor nos céus o instruiu não apenas sobre a glória, mas abriu para ele a maravilha de Seu próprio coração ali. Saulo então considerou todas as coisas como perda por Cristo, e muitos anos depois, como Paulo, ele escreveu: “na verdade, tenho também por perda”; sua mente não havia mudado; ao contrário, deveríamos dizer, sua energia havia aumentado.
Alguém que agora está presente com o Senhor, “ausente do corpo”, observou: “Ao lado da simples, feliz e sincera garantia de Seu amor pessoal por nós mesmos (que o Senhor a aumente em nosso coração!), nada mais nos ajuda a desejar estar com Ele do que a descoberta d’Ele mesmo. Se alguém pudesse falar pelos outros, é isso que queremos, e é isso que cobiçamos. Conhecemos nossa necessidade, mas podemos dizer que o Senhor conhece nosso desejo”.
Quando a herança da tribo de Levi for demarcada, e eles encherem suas cidades e habitarem ali, nada mais restará a ser feito pelo Israel que Deus amou, pelo povo que Ele havia tirado da terra da escravidão para a terra da promessa; e então segue o “descanso”.
