Origem: Livro: Breves Esboços dos Livros da Bíblia

Primeira e Segunda Epístolas aos Coríntios

O ministério de Paulo não termina com o livro de Romanos; o apóstolo nos levaria à revelação completa do Mistério, que antes era mantido em segredo – a Igreja de Deus, o corpo de Cristo (Rm 16:25-27; Cl 1:23-29).

Infelizmente, os escritos de Paulo são em geral negligenciados e, pior ainda, descartados como irrelevantes para os dias atuais. O racionalismo destrói a verdade por meio do raciocínio, reduzindo tudo a uma filosofia sem força moral. O ritualismo desloca a verdade por algo cerimonial.

Corinto era uma cidade muito permissiva. Localizada entre dois portos naturais e conectando a Grécia continental ao Norte e Peloponeso ao Sul, Corinto fervilhava de comércio – não muito diferente do mundo em que vivemos hoje.

A assembleia lá teve muitos problemas. A primeira epístola de Paulo aos coríntios examina a ordem interna da Igreja de Deus. O caráter da segunda é muito diferente. Com o relatório positivo de Tito a respeito de Corinto (2 Co 7), Paulo abre seu coração e fala com maior liberdade.

Primeira aos Coríntios 

Embora endereçada à “Igreja de Deus que está em Corinto” (1 Co 1:2), o conteúdo desta epístola não é específico dos santos daquela cidade, pois descobrimos que ela também é dirigida a “todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 1:2).

Surgiram divisões entre os crentes em Corinto. O mal foi tolerado no meio deles, e alguns até negaram a ressurreição dos mortos (1 Co 15:12). O apóstolo, tendo recebido uma notificação na casa de Cloe e uma carta deles mesmos (1 Co 1:11, 7:1), considera necessário adiar uma visita – para que ele não viesse com uma vara (1 Co 4:21; 2 Co 1:23) – e dirige a eles essa comunicação divinamente inspirada.

Uma chave para o livro pode ser encontrada no versículo 9 do primeiro capítulo: “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de Seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor”. O senhorio de Cristo está impresso neles – a mesa do Senhor, a ceia do Senhor (1 Co 10:21, 11:20) – e é à Sua comunhão que somos chamados. Ela não é nossa. Da mesma forma, o poder do Espírito está presente em todos os lugares em contraste com a sabedoria do homem: “falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas naquelas ensinadas pelo Espírito, comunicando coisas espirituais por meios espirituais” (1 Co 2:13 – JND).

Esboço 

Após uma breve introdução de nove versículos, o apóstolo aborda imediatamente o assunto das divisões (capítulos 1-4). Escolas de pensamento eram comuns entre os filósofos gregos; com o evangelho não havia lugar para isso. O que Paulo ou Apolo ensinaram não poderia ser separado de Cristo ou um do outro. Paulo decidiu não saber nada entre eles, exceto Jesus Cristo e Ele crucificado (1 Co 2:2) – ele refuta e silencia todo pensamento de divisão, com a cruz de Cristo. O único fundamento havia sido lançado; o homem era responsável por como edificava sobre ele (1 Co 3:10-15).

Do capítulo 5 até o final do capítulo 11, Paulo aborda várias questões morais. Antes de considerar as coisas que eles escreveram para ele (cap. 7), o apóstolo é obrigado a lidar com um exemplo específico de imoralidade entre eles (1 Co 5:1). “Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?” (1 Co 5:6). Eles deveriam julgar os que estavam dentro, e a pessoa iníqua deveria ser tirada do meio deles (1 Cor 5:13). Paulo então fala da lei, do casamento e comer coisas oferecidas a ídolos. Alguns o acusaram de ministrar para obter lucro, questionando seu apostolado e minando o que ele ensinava.

No capítulo 10, Paulo adverte a igreja professa com exemplos da história de Israel. O abandono de Cristo acabará por levar à apostasia. É neste momento que o assunto da mesa do Senhor é apresentado: “porventura pode Deus preparar uma mesa no deserto?” (Sl 78:19 – TB). A natureza coletiva da festa do memorial, particularmente a unidade do corpo, expressa no pão, é enfatizada aqui. “Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo: porque todos participamos do mesmo pão” (1 Co 10:17). Seja o memorial do Senhor, o sacrifício judaico ou a festa pagã, os que comem são identificados coletivamente com a mesa ou o altar, conforme o caso (1 Co 10:18-21).

O capítulo 11 começa com algo que hoje se percebe pouco relevante, mas que, no entanto, nunca perdeu seu significado. A cobertura da cabeça da mulher (e a não cobertura do homem) é uma demonstração externa da ordem de Deus na criação (1 Co 11:1-16). A última parte do capítulo traz diante de nós a ceia do Senhor, um assunto de revelação especial recebida por Paulo (1 Co 11:23). Na ceia do Senhor, recordamos do Senhor e mostramos – ou anunciamos – “a morte do Senhor até que Ele venha” (1 Co 11:26). O pão e o cálice não devem ser tomados de maneira indigna – o julgamento próprio individual é essencial (1 Co 11:27-29). No capítulo 11, é a responsabilidade individual que nos é apresentada.

Nos capítulos 12-14, Paulo aborda o assunto de dons espirituais (1 Co 12: 1). Por um Espírito os dons são distribuídos a cada um conforme Lhe apraz, e, por um Espírito, os dons são exercidos (1 Co 12:11). Embora haja vários dons, há um só Espírito – “em um só Espírito fomos todos nós batizados em um corpo” (1 Co 12:13 – AIBB). Dom não pode ser exercitados sem amor (cap. 13), e quando o dom é apropriadamente exercitado, há ordem e a Igreja é edificada (cap. 14).

No capítulo 15, vemos que alguns estavam questionando a ressurreição dos mortos – “Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?” (1 Co 15:12). Sem a ressurreição, não há evangelho – “somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Co 15:19). A ressurreição dos santos dentre os mortos, dos quais Cristo foi as primícias, é outro daqueles mistérios revelados ao apóstolo (1 Co 15:51). Tudo o que nos separava de Deus é inteiramente tirado – a morte, a ira de Deus, o poder de Satanás e o pecado desaparecem para nós, em virtude da obra de Cristo; e Ele é feito para nós a justiça que é o nosso título para a glória celestial[10]. “Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 15:57).
[10] N. do A.: J. N. Darby – Synopsis, 1 Coríntios.

Paulo conclui a epístola no capítulo 16 com uma palavra final sobre coletas, seus planos de viagem e uma saudação de encerramento.

Segunda Coríntios 

A segunda epístola de Paulo aos Coríntios foi escrita durante sua terceira e última jornada. Tendo deixado Éfeso por causa do alvoroço (At 19), Paulo viajou para Troas na esperança de encontrar Tito com algumas notícias de Corinto relativas à sua primeira epístola. Embora uma porta estivesse aberta a ele para o evangelho, ele não tinha descanso em espírito e passou para a Macedônia. Aqui Paulo se encontra com Tito e ouve as boas novas de Corinto (At 20:1; 2 Co 2:12-13, 7:5-7). A carta tinha produzido o arrependimento e a pessoa ímpia tinha sido tratada (1 Co 5; 2 Co 2:6). Que consolo para o apóstolo.

O assunto desta bela epístola é, para usar as palavras de outro, “graça restauradora, de acordo com o caráter e poder da vida em Cristo, e esta, acompanhada do mais profundo exercício do coração sob os caminhos disciplinares de Deus”[11].
[11] N. do A.: William Kelly, Notas sobre a Segunda Epístola aos Coríntios.

Esboço 

O apóstolo não era um espectador desinteressado, aterrorizando-os com cartas enviadas de longe. Em vez disso, ele foi profundamente afetado, primeiro pelo estado das coisas em Corinto, e depois pela notícia do arrependimento deles.

Esta Epístola foi escrita depois que Paulo conheceu Tito, embora nela desdobre os pensamentos e exercícios de seu coração enquanto aguardava uma palavra sobre Corinto. Do versículo 13 do capítulo 2 até que finalmente lemos da feliz reunião com Tito no versículo 6 do capítulo 7, temos a doce comunhão entre as almas que experimentaram os efeitos restauradores da graça em sua vida – embora em circunstâncias muito diferentes.

Paulo descreve o pequeno grupo como cativos levados em triunfo, um cheiro agradável para Deus – um cheiro de morte para aqueles que rejeitaram o evangelho e de vida para aqueles que o receberam (2 Co 2:14-15). Ele não fez o comércio da Palavra de Deus; em vez disso, diante de Deus falou, não de, mas em Cristo (2 Co 2:17 – ARA).

Ele não precisava de uma carta de recomendação à assembleia em Corinto, pois eles mesmos eram epístola viva, “escrita, não com tinta, mas, com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração” (2 Co 3:3). As ações dos santos de Corinto haviam sido um amplo testemunho da fé deles. O apóstolo era um ministro da nova aliança; ele não havia “estabelecido a lei”. Este não é o pacto ao qual estamos sujeitos, pois a letra mata; é pelo Espírito. O evangelho revela justiça, não a exige; é abundante em glória (2 Co 3:9).

A destruição do vaso, embora possa apresentar uma imagem fraca e desprezível ao mundo, revela o tesouro que o vaso contém e a vida de Jesus se manifesta em um corpo mortal (2 Co 4:7-11).

No capítulo 5 temos a confiança de um cuja vida está em Cristo. Aqui temos o que motivou o apóstolo – e a nós – em sua vida e Ministério. “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aqu’Ele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5:14-15).

O apóstolo ainda tinha uma grande preocupação com o bem-estar espiritual dos coríntios, e ele não deixa de tocar nas dificuldades que permaneceram – embora, em geral, o tom seja mais exortativo do que afirmativo, mas com autoridade. Nos capítulos 8 a 9, a liberalidade para os santos pobres é encorajada, enquanto nos capítulos 10 a 12, Paulo aborda aqueles que questionariam seu apostolado. Ele temia que houvesse aqueles que iriam seduzir a mente dos coríntios e esses fossem “corrompidos” em seus sentidos, vindo a se apartar “da simplicidade que há em Cristo”, sendo levados à servidão (2 Co 11:3, 20).

O livro termina com o capítulo 13. Visto que eles buscavam a prova de que Cristo falava no apóstolo, deveriam se examinar. Se eles eram realmente Cristãos, não era essa a prova que buscavam?

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