Origem: Livro: O Que é o Batismo e Quem Deve Ser Batizado

O Que é o Batismo e Quem Deve Ser Batizado

É bom lembrar que este é um momento de confusão e dificuldade e, portanto, aquilo que no princípio era claro o suficiente para ser entendido por todos, não é tão facilmente apreendido agora, mas muitas vezes envolve a renúncia de muitos pensamentos apreciados que se infiltraram pouco a pouco na mente, talvez desde a infância.

Além disso, há sempre uma tendência a ir a extremos, e muitos, ao descobrirem que o que haviam recebido e retido estava errado e que os homens haviam pervertido e abusado do que Deus havia dado, vão para um extremo oposto e abandonam o que é correto em si, embora conectados, nos sistemas de homens, com o que está errado. Creio que essa é a causa de grande parte das dificuldades que é sentida por muitos hoje em relação ao batismo.

A única maneira segura é seguirmos as Escrituras sem procurar suporte para o que preferimos, ou que possamos estar mantendo, talvez com muita tenacidade.

Voltemos agora à Escritura e procuremos verificar, a partir das várias passagens em que o batismo é mencionado, quais são os seus ensinamentos.

Em primeiro lugar, devemos investigar o que é o batismo e, em conexão com isso, notaremos brevemente o que ele não é, embora afirmado por muitos que seja.

O batismo, então, não é a obediência de um Cristão a um comando, pois a circuncisão era a obediência de um judeu a um comando. Quantas vezes ouvimos ser dito: “Temos o claro comando das Escrituras: ‘Creia e seja batizado’”, esta é a fortaleza de muitos e, no entanto, não existe tal expressão na Palavra, nem de fato algum mandamento para ser batizado. O comando em Mateus 28 é para os apóstolos “fazei discípulos de todas as nações, batizando-os (ARA) e em Marcos 16: “pregai o evangelho a toda criatura”, e depois uma declaração do Senhor sobre as consequências para todos aqueles que ouvirem o evangelho. Isso é muito diferente de um comando para ser batizado.

Eu imediatamente diria que estabelecer o batismo como um mandamento, da maneira mencionada, é totalmente antibíblico. Está trazendo ao Cristianismo o princípio legalista de obediência às ordenanças como um meio de bênção e isso gera escravidão, é, de fato, totalmente contrário ao espírito do Cristianismo.

Novamente, o batismo não é um sinal ou uma confissão pública de que já estamos mortos e ressuscitados com Cristo. Em nenhum lugar a Escritura afirma isso, nem afirma que o batismo é um sinal ou símbolo de algo previamente verdadeiro na pessoa que foi batizada.

Voltando agora ao que é o batismo, descobrimos em primeiro lugar que a Escritura nos apresenta o batismo como sendo a recepção de judeus ou gentios ao terreno Cristão (não me refiro ao batismo de João aqui, que era bem distinto do batismo Cristão, embora que em princípio sejam parecidos. O batismo de João estava conectado com e constituía um remanescente professamente arrependido dentro do judaísmo. Já o batismo Cristão está conectado com e constitui um remanescente separado do judaísmo, ao qual outros, dentre os gentios, foram posteriormente adicionados). Ele faz da pessoa que foi batizada um Cristão, quanto à sua posição aqui na Terra, e o introduz nos privilégios exteriores do Cristianismo.

Atos 2 prova isso claramente, e agora vamos considerar esta passagem. O apóstolo, pelo Espírito Santo, tinha acabado de trazer à tona aos judeus a sua culpa no homicídio de seu Messias. Eles rejeitaram Aquele em Quem todas as promessas e bênçãos estavam centradas, e agora, em vez de serem considerados como estando em uma posição de favor e privilégio, Pedro provou a eles que estavam sob culpa e condenação. Isso é trazido de maneira tão vívida diante deles, que 3.000 (três mil) são completamente convencidos e clamam “Que faremos, varões irmãos?” (v. 37).

A partir da resposta de Pedro, podemos perceber claramente o significado e o propósito do batismo da maneira como ele os orienta a agir, primeiro, “arrependei-vos”, isto é, julguem-se a si mesmos e o terreno que ocupam diante de Deus, estando identificados com a uma nação apóstata, e depois sejam recebidos em um terreno completamente novo, e isso evidentemente pelo batismo, como ele acrescenta, “e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo”.

Citar isso como prova de que o batismo é um mandamento é propagar o erro de que um pecador recebe perdão pela obediência a uma ordenança, o que é má doutrina, pois claramente eles eram pecadores e não santos, estes a quem o apóstolo estava se dirigindo.

Devemos lembrar de que na mente deles o julgamento e a bênção estavam associados ao governo de Deus na Terra, e o que eles entenderam foi que a sua posição não era mais de favor e bênção, mas de culpa e juízo no governo de Deus e eles desejavam escapar disto. Mas como eles deveriam fazer isso e qual era o novo terreno para o qual deveriam ser trazidos?

Dois pontos principais no discurso de Pedro, além da questão da culpa deles, deixam isso claro, a saber, a exaltação de Cristo e a descida do Espírito Santo. Ele diz no versículo 36: “a esse Jesus, a Quem vós crucificastes, Deus O fez Senhor e Cristo”. Isso imediatamente deu início ao terreno Cristão – que é algo novo, fora da Terra. Evidentemente, neste capítulo, o batismo os trouxe a esse terreno, não havia mais perdão dos pecados no judaísmo, nem em conexão com seus sacrifícios, nem o Espírito Santo foi dado aos judeus como tais. Tudo isso estava completamente fora deles agora e a única maneira de um judeu escapar de ser identificado com sua nação e compartilhar de seus juízos, era ser levado ao terreno Cristão. Pedro pede no versículo 40: “Salvai-vos desta geração perversa”. Observe que eles são instruídos aqui, a se salvarem, e isto está de acordo com o que acabamos de dizer e com o teor de todo o capítulo. Observe também o versículo 39, que está intimamente ligado ao versículo 38, e de fato faz parte da resposta de Pedro à pergunta deles: “Que faremos, varões irmãos?”

É bom observar que o capítulo 3 apresenta um caráter diferente de bênção do que temos no capítulo 2 e, como ajuda no entendimento de ambos se percebermos essa diferença, Faremos uma breve referência a ela.

No capítulo 3 a culpa da nação também é pressionada sobre eles, mas ali eles são tratados como uma nação e chamados ao arrependimento como tal, também é dito que Deus enviaria Jesus, etc. enquanto no capítulo 2 é dito que o Espírito Santo havia sido dado, e Jesus havia sido exaltado nas alturas e feito Senhor e Cristo, uma coisa nova, como já observamos, fora da nação como tal, e em conexão com a qual temos arrependimento e o batismo para remissão de pecados e também pela exortação: “Salvai-vos desta geração perversa”.

Mas então poderia ser dito que o batismo somente é usado com relação aos judeus e sua culpa especial, Consideraremos então o caso de Cornélio e sua companhia (Atos 10), que eram gentios. Não podemos deixar de ver que o batismo é usado com o mesmo pensamento e com o mesmo objetivo, ou seja, receber em terreno Cristão aqueles que estavam do lado de fora dele, e os meios de recepção são os mesmos, tanto para gentios quanto para judeus. Não se trata de nacionalidade, nem idade, nem condição da pessoa batizada, mas do objetivo do batismo, e onde coloca aqueles que são submetidos a ele.

Cornélio e seus amigos haviam acabado de receber o Espírito Santo (e estavam, quanto ao estado de suas almas, em uma condição muito diferente da dos 3.000 em Atos 2) e é porque Pedro vê isto que ele não pode recusar a admissão deles na posição de privilégios do Cristianismo. Esta é a força de sua observação para seus companheiros da circuncisão: “Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo?”

Em sua mente, o batismo estava claramente conectado com privilégios, ou então suas palavras não teriam significado; mas não era admissão nos privilégios do judaísmo, ou ele teria dito: “pode alguém, porventura, proibir a circuncisão”. Assim, posso dizer que o batismo suplanta a circuncisão, como o Cristianismo suplanta o judaísmo.

Aqui, novamente, não é a obediência dos que são batizados por causa de uma ordem, mas a recepção das pessoas que Pedro percebeu que deveriam ser recebidas. Deus já os tinha para Si e havia lhes dado o Dom maior, não fazendo distinção entre eles e a circuncisão, e assim o caminho para sua recepção era claro. Pedro reconhece isso e, por assim dizer, fala aos que estavam com ele (pois suas observações e instruções são dirigidas a seus companheiros da circuncisão): “Traga-os para dentro, eles não devem ser mantidos do lado de fora”, e eles fizeram isso batizando-os.

Nesse caso, é bem claro que não se pensava em dar um testemunho público ou privado de que eles estavam mortos e ressurretos com Cristo, pois quem diria que isso era verdade em Atos 2? E o que Cornélio e seus amigos sabiam dessa verdade, que só foi ensinada por Paulo depois que milhares já haviam sido batizados?

Mas, novamente, o batismo é “a Cristo” – não a Cristo como Messias na Terra, mas exaltado depois de ter morrido. Deus O fez Senhor e Cristo, e isso é reconhecido no batismo. Esse reconhecimento de Cristo como Senhor está apenas em conexão com o Cristianismo durante esta presente dispensação, ou período da Igreja. Os judeus O rejeitaram e ainda O rejeitam, os gentios estavam fora de tudo em termos posicionais e afundados em idolatria. Judeus e gentios eram inimigos de Deus e culpados diante d’Ele, ambos também se uniram para rejeitar e crucificar Cristo, mas Deus O ressuscitou e O glorificou e enviou o Espírito Santo para dar testemunho d’Ele. Assim, Jesus é o Senhor de todos, e o batismo deve ser sempre a Ele como Senhor (veja 1 Coríntios 10, “batizado a Moisés” – JND), e aquele que é batizado é trazido ao terreno onde Sua autoridade é reconhecida e sendo batizado a Ele, é responsável em confessá-Lo de modo prático.

É claro que onde não há uma obra na alma, não haverá lealdade a Ele. Esse, no entanto, não é o ponto que estamos considerando agora, mas o que o batismo é e faz para os que se sujeitam a ele. Batismo é “a Cristo”.

É também “à Sua morte” (Rm 6:3 – JND). Não na sua morte, mas à sua morte. Somos batizados a um Cristo que morreu e não a um Messias na Terra. É somente por Sua morte que podemos ter o que é apresentado e desfrutado no Cristianismo. Portanto, o apóstolo continua, em Romanos 6, dizendo: “Fomos sepultados com Ele pelo batismo à morte” (v. 4 – JND). Assim (estamos aprendendo da Escritura), o batismo é o sepultamento à morte, não uma figura que eu já havia sido sepultado, mas diz: “sepultado pelo batismo”, é isso que a Escritura diz. Não diz ressuscitado pelo batismo, mas “sepultados à morte”. Colossenses 2:11-12 diz o mesmo, mas visto que o Espírito Santo está ali expondo o crente como morto e ressuscitado com Cristo, Ele acrescenta, “No Qual [ou em Quem – JND]… n’Ele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que O ressuscitou dentre os mortos” (ACF). Aqui nós temos, conectada com o batismo e seguindo-o, a fé na operação de Deus, e sendo ressuscitados pela fé, mas sendo sepultados pelo batismo.

Romanos não vê os crentes como já estando ressuscitados com Cristo de maneira alguma. Citar Romanos 6 como prova de que o batismo é um símbolo de estarmos mortos e ressuscitados com Cristo, como muitas vezes é feito, juntamente com o restante, é ignorância do escopo da epístola.

Em seguida, o batismo é “revestir-se Cristo” e Gálatas 3:27 afirma isso categoricamente. Não é pela fé, mas pelo batismo que nos vestimos de Cristo. O versículo anterior coloca a fé em sua conexão apropriada: “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus”, e esses dois versículos não devem ser confundidos, como se eles transmitissem a mesma ideia, ou então o ponto e a força de ambos serão destruídos. Quando entendidos corretamente, ajudam muito a uma concepção adequada do que é o batismo bem como sua ideia e lugar na Escritura, e ainda provam o que já foi dito, que o batismo está conectado a uma posição exterior na Terra, enquanto a fé tem a ver com o estado da alma diante de Deus, e nosso relacionamento com Ele e com o Céu, com o que é invisível e eterno. Com essas coisas o batismo nada tem a ver.

Os gálatas estavam voltando à lei, o que só os levava novamente à escravidão – ao lugar de servos – o Espírito Santo, portanto, pressiona sobre eles a verdade de que são filhos e não servos dizendo: “todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus”, não pelo batismo, de forma alguma. Esta é a força do raciocínio do apóstolo. Ele então segue para o batismo deles e fala, por assim dizer: “vocês se vestiram de Cristo quando foram batizados (todos quantos foram batizados), e para quê querem se vestir de Moisés?” Eles foram exteriormente identificados com Cristo pelo batismo – O vestiram. Assim como no Velho Testamento Israel foi batizado a Moisés na nuvem e no mar. Todos foram batizados a ele – homens, mulheres e crianças – e, portanto, estavam exteriormente conectados a ele e sob sua autoridade. Como eles agiram depois é outra coisa, ou se tinham fé ou não, isto foi deixado ao deserto o manifestar.

Essa epístola foi escrita para aqueles que tinham fé, mas o ponto agora diante de nós não é se eles tiveram fé ou não quando foram batizados, mas o que era o seu batismo, “revestirdes de Cristo”, e não um sinal de que eles já haviam se vestido anteriormente.

Em Romanos 13 temos: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”, o que é outra coisa. É o que aqueles em Roma são exortados a fazer, apesar de terem sido batizados anteriormente e, portanto, já “terem se vestido de Cristo”, de acordo com Gálatas 3:27. Porém Romanos 13 se refere a manifestação prática d’Ele (esta é a razão de ser usado Seu nome completo) em nossa caminhada aqui na Terra.

Uma pessoa pode vestir um uniforme e ser um traidor em seu coração, opondo-se ao espírito do capitão, mas ele será sempre responsável como alguém que se vestiu e permanece em um terreno diferente daqueles que nunca professaram estar submetidos ao capitão.

Em conexão com isso, quero fazer referência a 1 Coríntios 15:29, um versículo que muitos não entendem. A figura usada aqui é de um exército exposto ao ataque do inimigo, que os estava derrubando – matando-os – mas outros estavam constantemente entrando e ocupando seus lugares nas fileiras. O apóstolo pergunta, por assim dizer: “Qual é o benefício de fazer isso se não houver ressurreição, melhor é estar fora do exército, melhor não colocar o uniforme, mas aproveitar o mundo. Vamos comer e beber porque amanhã morrermos”. Mas o versículo prova que o batismo deles os colocou neste lugar – os conectou a Cristo e os separou professamente do mundo – eles haviam vestido Cristo. Veremos depois como isso se aplica à família dos Cristãos.

Passo agora a 1 Pedro 3:21, onde é dito que “o batismo, agora também vos salva”, e isso requer um exame cuidadoso.

Devemos lembrar que aqui, como em outros lugares, não estamos recebendo uma exposição do apóstolo sobre o que é o batismo, mas o tema é trazido em conexão com o assunto diante dele, porque fazia referência ao assunto. Precisamos primeiro ver qual é o assunto onde a referência ocorre, ou então teremos uma interpretação particular (individual).

Nas epístolas de Pedro, o governo de Deus, os vários efeitos desse governo e seus súditos são trazidos diante de nós.

A primeira epístola se refere ao Seu governo em conexão com os justos, e na segunda com relação aos iníquos, não temos nesta epístola a verdade de que o crente está morto e ressuscitado com Cristo, embora os versículos acima tenham sido citados algumas vezes para justificar este ponto de vista, em vez de deixar que seus pontos de vista sejam formados pela Escritura.

A epístola foi escrita para crentes judeus, cujas mentes foram formadas pelos já conhecidos caminhos de Deus em governo na Terra, e que já estavam familiarizados com eles, e acostumados a procurar por bênção, paz e libertação na Terra como a porção dos justos – aqueles que agiram com uma boa consciência. Agora eles se tornaram Cristãos com uma boa consciência, na plena confiança de que era a vontade de Deus que eles tratassem o judaísmo como algo apóstata e condenado e não estando mais sob Seu favor, mas com Sua ira pairando sobre os que ainda estavam nele, isto é, ira na Terra sob Seu governo, do qual temos um exemplo na destruição de Jerusalém por Tito. Era uma coisa nacional, envolvendo suas famílias e a si mesmos, como haviam dito: “O Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”.

Mas, embora Pedro diga: “O batismo, agora também vos salva”, isso não era tão aparente para eles, pois estavam sofrendo perseguição e sofrendo sob sua própria nação e outras. Por isso ficaram perplexos e sua boa consciência exigiu a explicação: “Por que isso está acontecendo?”

(Observe aqui a diferença entre uma boa consciência e uma consciência purificada, uma distinção muito necessária para entender esta porção).

No capítulo 3, Pedro faz alusão a esses sofrimentos e depois se refere ao batismo deles, que os separou exteriormente da nação, e os salvou da ira e julgamento governamental aos quais aludimos, levando-os ao lugar onde o perdão dos pecados era conhecido, e o poder do Espírito Santo se manifestava. Ele então procura encorajá-los nessa posição e lhes mostra como as circunstâncias em que estavam eram de acordo com seu lugar atual e sua conexão com Cristo, durante o tempo em que Deus estava esperando em graça, com longa paciência, para com os impenitentes, pois, embora o julgamento fosse certo para os que permaneceram assim, Deus agora estava demonstrando Sua paciência por meio deles. Enquanto Deus esperava, esses justos (embora sofrendo sob os caminhos governamentais de Deus) não precisavam temer ser oprimidos pelos juízos, como se estivessem sofrendo sob a ira de Deus, pois não era isso, mas sim como Noé, que em seus dias passou pelo dilúvio e foi salvo por ele e finalmente foi trazido para além de tudo aquilo, assim eles, embora agora sofressem governo de Deus, tiveram a garantia na ressurreição de Cristo e por causa dela, de libertação completa de tudo o que estavam passando, que tinha vindo sobre eles desde a sua separação do judaísmo pelo batismo.

Eles escaparam e foram salvos da ira e do julgamento da nação, e foram identificados com Cristo, que, tendo passado por sofrimentos e morte, havia sido ressuscitado dentre os mortos, e todo o poder Lhe havia sido dado. Assim o caso do dilúvio é, assim, apresentado como um exemplo, tanto da longanimidade de Deus quando o Espírito de Cristo (por Noé) pregava àqueles cujos espíritos estão agora em prisão, exibindo também a ira e o julgamento de Deus sobre os impenitentes, bem como a salvação dos justos (e de sua família no governo de Deus). Mas estes foram salvos pela água, que era o instrumento de ruína e morte para os outros.

Nesse caso, a água do dilúvio chegou ao mesmo tempo para todos, e Noé foi salvo por ela. No tempo em que Pedro estava escrevendo, enquanto os princípios do governo de Deus eram os mesmos, ainda assim os justos estavam passando pelo julgamento, antes que o julgamento caísse sobre os ímpios, e durante o tempo de Sua longanimidade para com eles, mas, embora sofrendo e sendo provados, eles não precisavam temer como se fosse a ira de Deus, eles podiam ter certeza da libertação total e final de todos, da mesma forma como Noé foi salvo pela água “figurando o batismo, agora também vos salva (…) por meio da ressurreição de Jesus Cristo” (1 Pe 3:21 – ARA). (Nota: Leio as palavras intermediárias neste versículo como estando em um parêntese, nas quais ele mostra o que foi despojado e o que foi ganho com o batismo, e conecto a “ressurreição de Cristo” conforme indicado acima). Que encorajamento e segurança foi para esses crentes judeus sofredores em tudo isso. Os justos foram salvos por meio das provações e sofrimentos dos caminhos governamentais de Deus (que é o significado da expressão: “se é com dificuldade que o justo é salvo” – 1 Pe 4:18 – ARA), mas quando tudo isso acabou, e a libertação de todas as dificuldades foi realizada: “onde vai comparecer o ímpio, sim, o pecador?” Embora os caminhos de Deus em governo possam mudar, os princípios de Seu governo permanecem os mesmos.

Eles tinham esses princípios expostos para sua orientação e segurança, embora agora “já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus”, mas o fim das tratativas de Deus é o mesmo. As águas da morte nos dias de Noé apenas os elevaram acima de tudo e os levaram a uma nova criação, em figura, e agora, para eles, Cristo ressuscitou, e não somente isso, “está à destra de Deus, tendo subido ao céu: havendo-se-Lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências”. O que eles precisam temer? Aqui está a resposta para toda demanda da consciência – uma demanda ou investigação resultante de seu batismo, que os levou ao lugar do sofrimento, sobre o qual estavam perplexos e exigiram uma explicação. A ressurreição é a resposta para todas as demandas ou perguntas.

Antes de deixarmos esse tema, gostaria de notar novamente que a epístola é dirigida aos verdadeiros crentes, que foram “eleitos segundo a presciência de Deus Pai”, e, portanto, a ressurreição lhes foi mais do que o testemunho da mera libertação do julgamento da nação na Terra. A fé olha para além disso e espera por bênçãos no futuro. Eles esperavam por isso, “a salvação, já prestes para se revelar no último tempo”, mas precisavam estar preparados e encorajados no caminho do sofrimento aqui; sofrer por estarem identificados com Cristo e sofrer pela justiça durante o tempo da longanimidade de Deus para com os iníquos em Seu governo, tudo terminando na salvação dos justos e no julgamento dos iníquos. O selo da salvação era a ressurreição de Cristo e Sua glória atual, o selo do julgamento eles tinham no julgamento de Deus no passado – como nos dias de Noé. Mas esses Cristãos não tinham nada a temer, nem aqui nem no futuro; eles não foram apenas batizados, mas eram justos, sendo crentes, e é importante ter isso em mente, e que o batismo deles só é trazido a tona por acaso. A questão sobre quem deve ser batizado não é levantada, nem é intimada diretamente na passagem. Ainda não chegamos a essa questão, mas apenas o que o batismo é, e o que ele faz para aqueles que são submetidos a ele.

Agora vou para Atos 22:16. Aqui encontramos que batismo é lavagem – a lavagem dos pecados. Claramente, este não é o caso da consciência ser purificada, da alma salva, ou da pessoa ser aceita em Cristo e em Sua obra consumada. Tudo isso é pela fé em Seu sangue: “o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado”. Eu não me lavo, mas Ele me lava (veja Ap 1:5 e 1 Co 6:11, etc.). Tudo isso é verdadeiro e simples, mas aquilo (Atos 22) também é verdadeiro, e não há pensamento de lavar em figura, um sinal, ou confissão de que já foi lavado, como muitos citam e explicam. Nós não lavamos uma coisa como uma figura de algo que já está limpo, ou para confessamos que já está limpa, mas fazemos isso para limpá-la.

Saulo de Tarso era judeu – um inimigo amargo de Cristo e Seu povo – participando da culpa de matar Estevão, etc. Em seu zelo cego pelo judaísmo, ele era um dos principais oponentes do Cristianismo. Mas a graça superabundou e o derrubou aos pés de Jesus de Nazaré. Ele Se revelou em glória a Saulo, que seria um vaso escolhido a partir de então. Esse era o propósito de Deus e quando Ele havia efetuado o arrependimento em Saulo, Ananias lhe foi enviado para que pudesse receber sua visão e o Espírito Santo, mas não como judeu. Ele deveria ser levado daquela sua posição para onde o perdão dos pecados era conhecido e o Espírito Santo estava habitando. Ele deveria se lavar da sua identificação com a culpa como judeu e perseguidor de Cristo, e ser levado ao terreno Cristão – tornar-se Cristão quanto a sua posição, e isto pelo batismo.

Até ser batizado, a culpa e os pecados lhes eram atribuídos quanto a sua posição na Terra, e nesse sentido ele estava – até ser batizado – sujo e sem perdão.

Portanto, o batismo, que é um símbolo da morte de Cristo, é aquilo que lava de maneira governamental. Foi quando Paulo fez o relato de sua conversão perante os judeus que ele relata a orientação dada por Ananias, anunciando que as limpezas e lavagens conectadas ao seu sistema judaico não tinham mais proveito, e que o verdadeiro terreno para quem desejasse ser um vaso de Deus aqui, era se livrar completamente de sua relação, reconhecer o senhorio de Cristo. Isso é cumprido apenas no Cristianismo durante o período atual da Igreja, e pelo batismo como aquilo que leva uma pessoa a esse terreno.

Já falamos sobre o que é o batismo, a saber, a recepção de pessoas ao terreno Cristão que vieram do judaísmo ou do paganismo, a esfera em que a autoridade de Cristo é reconhecida e a responsabilidade relacionada a esse lugar (Por paganismo se entende todos os que estão fora do judaísmo e do Cristianismo, todos os que não são circuncidados nem batizados – veja Gl 3:8 e 1 Co 10:32). É, portanto, “a Cristo”, a Ele, à Sua morte, e é um símbolo disso. É também “sepultamento à morte” (JND), Romanos 6 afirma isso, ali não é dito que já está morto e, portanto, sepultados pelo batismo, mas “sepultado à [ou, para a – JND] morte”, e que, depois disso, temos a responsabilidade de andar em novidade de vida. É possuir Sua morte, e quem é batizado é, por meio do batismo, sepultado à Sua morte.

Em seguida, é “vestir-se de Cristo”, que está novamente conectado com Seu senhorio, autoridade e identificação posicional com Ele na Terra. O batismo se refere inteiramente à nossa posição na Terra sob o governo de Deus, e Pedro, ao falar desse governo, diz àqueles a quem escreveu: “o batismo, agora também vos salva por meio da ressurreição de Jesus Cristo” (1 Pe 3:21 – ARA). Na mesma linha de pensamento, o batismo é a lavagem dos pecados na Terra, pois tudo o que uma pessoa possa ser por fé em Cristo, e de acordo com os propósitos de Deus em graça (e onde há fé há tudo em relação a eternidade), ainda assim, quanto ao governo de Deus na Terra, ele não está lavado nem salvo até ser batizado. Ele não é um Cristão quanto ao seu lugar que ostenta ter na Terra – mas é judeu ou gentio.

É muito importante que as almas estejam claras quanto ao assunto do governo de Deus. Quando os princípios envolvidos são apreendidos, ajudam muito a entender corretamente a questão do batismo, e também muitas porções da Escritura. Mas agora devemos considerar quem são os que propriamente devem ser submetidos ao batismo.

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