Origem: Livro: A EPÍSTOLA DE PAULO AOS ROMANOS

A Responsabilidade do Homem – A Rejeição de Israel no Presente – Cap. 10

Não seria uma apresentação equilibrada sobre esse assunto se Paulo encerrasse sua discussão nesse ponto. No capítulo 9, ele insistiu na soberania de Deus na salvação; agora, no capítulo 10, ele fala do outro lado do assunto – a responsabilidade do homem. Estas duas linhas da verdade andam lado a lado por todas as Escrituras. Elas podem parecer que se fundem em algum ponto nos caminhos de Deus, mas nunca o fazem. Elas são como os dois trilhos em uma longa e retilínea estrada de ferro. Olhando para a estrada, os trilhos parecem se juntar à distância, mas é claro que isso não ocorre. Tal é o caso com a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. Deus quer que nós entendamos e desfrutemos dessas duas linhas distintas de verdade como são encontradas nas Escrituras, sem tentar uni-las.

A Responsabilidade de Israel – Crer 

Paulo terminou o capítulo anterior afirmando que “todo aquele que crer n’Ele não será confundido” (cap. 9:33). Isso traz o homem à responsabilidade. Para receber a salvação, devemos crer no testemunho de Deus do evangelho sobre a obra consumada de Cristo na cruz. Paulo agora continua esse tema no capítulo 10. Frequentemente, ao longo deste capítulo, ele enfatiza o fato de que os homens devem crer no testemunho de Deus para serem abençoados por Ele.

Cap. 10:1 – Sabendo que os judeus o viam como traidor e inimigo da nação de Israel, Paulo reafirma seu amor e preocupação por Israel. Seu grande “desejo do… coração e a oração a Deus” era que os de Israel pudessem ser “salvos” (TB). O fato de que eles não foram salvos (exceto alguns indivíduos como ele próprio) mostra que ser descendentes naturais de Abraão não os salvou! Se os tivesse salvado, ele não estaria orando para esse fim. Como mencionado, a responsabilidade do homem é crer no testemunho de Deus do evangelho concernente ao Seu Filho. Mas foi exatamente isso que os judeus não conseguiram fazer. Em vez de receberem a Cristo, tropeçaram naquela “pedra de tropeço!” (Cap. 9:32)

V. 2 – Paulo declara duas razões para o fracasso deles: em primeiro lugar, eles tinham “zelo” por sua religião nacional que os levou a se agarrar às suas formas e cerimônias, e não ver que aquelas coisas realmente apontavam para Cristo. (Veja a epístola aos Hebreus.) Apegando-se às formas do judaísmo, lançam um véu sobre seus corações, e “até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles” e eles não são capazes de “olhar firmemente para o fim daquilo que era transitório” (2 Co 3:13-15). O “fim” da aliança legal é Cristo e Sua obra consumada na cruz. Os tipos e sombras na Lei apontavam todos para Ele, mas eles não viam. Isso mostra que, embora seja “bom ser zeloso”, nosso zelo deve ser “sempre do bem” e da maneira correta (Gl 4:18). No caso dos judeus, seu zelo não era “com entendimento”. Eles não sabiam que suas Escrituras apontavam para Cristo.

V. 3 – Em segundo lugar, os judeus “não conheciam a justiça de Deus”. Eles não entendiam o significado da cruz e, consequentemente, rejeitavam o evangelho. Como mencionado em nossos comentários no capítulo 3:21-31, a justiça de Deus tem a ver com de que maneira Ele assumiu a questão do pecado na cruz e a resolveu para a Sua própria glória e para a bênção de todos os que cressem. Os judeus, infelizmente, não viram isso na morte de Cristo. Eles criam (e ainda creem) que Sua morte na cruz era a maneira de Deus tratar com Ele com justiça por Sua blasfêmia de imaginar que era o Messias – e Quem eles insistiam ser um impostor (Is 53:4). Em sua ignorância, os judeus procuravam “estabelecer a sua própria justiça” – pensando que ela poderia ser alcançada por guardarem a Lei. Assim, eles “não se sujeitaram à justiça de Deus”, e isso fez com que perdessem a bênção da salvação.

V. 4a – Para eliminar a falsa noção de que a justiça pode ser alcançada pelo desempenho do homem, Paulo declara enfaticamente: “Porque Cristo é o fim de lei para justiça” (JND). O artigo “a” não está na preposição “de” antes da palavra “lei”. Isto indica que ele não está se referindo especificamente à Lei de Moisés, mas ao princípio no qual o desempenho do homem é o caminho para alcançar a justiça. Paulo está aludindo a Deus encerrando o teste do homem na carne pela morte de Cristo. Desde a queda do homem até a morte de Cristo, Deus manteve o homem na carne em provação. Por 40 séculos de história humana, levando até a cruz, Deus testou a carne no homem de todas as maneiras possíveis (quarenta é o número que indica teste nas Escrituras), e a carne provou ser má em todas as coisas (cap. 3:12, 7:18). Todas as tentativas do homem na carne, de atingir a justiça com base no mérito e desempenho humanos, falharam. Deus, portanto, encerrou o teste, e “condenou o pecado na carne” na morte de Cristo (cap. 6:6, 8:3). A palavra “fim” aqui é “teles” no grego, que significa “conclusão” (J. N. Darby, Collected Writings, v. 10, pág. 22).

Ao dizer: “Para justiça”, Paulo não quis dizer que a justiça nos tempos do Velho Testamento foi alcançada por meio do guardar da Lei, mas agora, desde a vinda de Cristo, ela é encontrada n’Ele. A Lei nunca foi dada para esse propósito! (Gl 3:21) Se ela tivesse sido o meio de justiça nos tempos do Velho Testamento, ninguém que vivesse naqueles tempos chegaria ao céu, porque ninguém era capaz de guardá-la! Qualquer esperança de alcançar a justiça nessa linha está condenada desde o início. Ao acrescentar “de todo aquele que crê”, Paulo está indicando que a única maneira pela qual alguém pode ser considerado justo é crendo.

A Bênção do Evangelho Está ao Alcance de Todos 

Cap.10:5-10 – Paulo, então, contrasta “a justiça que é pela Lei” com “justiça que é pela fé”. Ele mostra que a Lei mosaica era algo direcionado ao desempenho e cita Levítico 18:5 para provar isso: “O homem que fizer estas coisas viverá por elas”. A ênfase aqui está em fazer – isto é, no desempenho humano. Por outro lado, “a justiça que é pela fé”, nada exige que uma pessoa faça, mas que simplesmente creia na “palavra da fé”.

Vs. 6-7 – Paulo então extrai um princípio da Lei para mostrar que a bênção de Deus é realmente baseada só em fé. Ele cita Deuteronômio 30:10-14, que tem a ver com quando Israel falhasse em sua responsabilidade de guardar a Lei, e fossem perdidas todas as possibilidades de se obter mérito com Deus com base no desempenho humano. Moisés disse ao povo que, mesmo assim, se eles se voltassem para o Senhor com (“com todo o teu coração, e com toda a tua alma”), Ele ainda os abençoaria no contexto desse sistema legal. Eles não teriam que fazer nada para merecer esse favor. Eles não teriam que subir para o céu ou atravessar o mar, porque os mandamentos legais estavam bem ali na frente deles – na boca e no coração – à espera de serem obedecidos. Tudo o que eles teriam de fazer seria voltar-se para o Senhor com fé, e Ele iria começar de novo com eles.

Embora Deuteronômio 30 tenha a ver com a Lei, Paulo usa esse princípio da graça trabalhando por aqueles que reconhecem seu fracasso e se voltam para o Senhor em fé, e adapta esse princípio ao evangelho. Seu ponto é que Deus abençoa no princípio de fé, independentemente de estar no contexto da aliança legal ou no evangelho que ele pregou. Paulo então toma a liberdade de interpretar a passagem em Deuteronômio, inserindo entre parênteses os dois grandes fatos do evangelho: a encarnação de Cristo e a ressurreição de Cristo. Ele diz que uma pessoa não precisa se preocupar com quem “subirá ao céu (isto é, a trazer do alto a Cristo)”, ou quem “descerá ao abismo (isto é, para fazer subir a Cristo dentre os mortos)?” (TB) porque isso já foi feito. Cristo já desceu e Se tornou o supremo sacrifício pelo pecado, e Ele ressuscitou dentre mortos e está assentado à destra de Deus.

V. 8 – Assim, o evangelho não nos pede para fazer algo humanamente impossível, mas simplesmente crer. Assim como a Lei estava “junto” do israelita (em seu coração e boca), Paulo diz que também está “a palavra da fé, que pregamos” no evangelho. A diferença é que o antigo mandamento era uma palavra que tinha a ver com o que o homem deveria fazer, mas agora a palavra no evangelho é sobre o que Cristo fez! O evangelho fala de uma obra que foi consumada (Jo 19:30; Hb 10:12). Como a palavra da verdade está “junto de ti, na tua boca e no teu coração” (os judeus ouviam a Palavra de Deus diariamente nas suas casas e nas suas sinagogas), a salvação estava ao alcance de todos eles. Nenhum judeu, portanto, poderia dizer: “Deus tornou a salvação muito difícil para mim”.

Vs. 9-10 – Paulo prossegue mostrando que, uma vez que tudo foi feito por nós na vinda de Cristo e em Sua morte e ressurreição, tudo o que uma pessoa precisa fazer é “confessar Jesus como Senhor” (JND) e “crer” em seu coração “que Deus O ressuscitou dos mortos”, e ele será “salvo”. Creres “em teu coração”, do qual Paulo fala aqui, significa crer sinceramente; não é uma mera coisa intelectual. Isso mostra que Deus quer veracidade (Sl 51:6). Existem dois “se” neste versículo que se combinam e dão ao crente a certeza da salvação: se “confessarmos” e se “crermos” em nossos corações, “seremos” salvos. É simples assim! Essa é a grande promessa de Deus no evangelho. Deus nunca decepcionou ninguém que tenha confiado em Cristo para a salvação.

Muitos Cristãos evangélicos acreditam que esses versículos estão dizendo que, para que uma pessoa seja verdadeiramente salva, ela deve fazer uma confissão pública de sua fé em Cristo. Consequentemente, os pregadores pressionam confissões públicas em suas reuniões e cultos de evangelho. Eles fazem um “chamado ao altar” para suas audiências, para que qualquer um que queira ser salvo se apresente e faça uma declaração pública de sua fé. Contudo, se tivermos de confessar perante os homens como condição necessária para a salvação eterna da alma, da pena de seus pecados, então a bênção do evangelho não é somente baseada no princípio de fé; torna-se fé e obras! Isso é contrário aos fundamentos do evangelho (cap. 3:26-31). Além disso, isso significaria que uma pessoa não poderia ser salva se estivesse sozinha em algum lugar – porque não teria ninguém a quem fazer sua confissão! E se ela morresse antes de ter a chance de falar a alguém sobre sua fé em Cristo? Certamente não podemos pensar que uma pessoa assim não seja realmente salva e que não esteja no céu.

“Confessar” nesse versículo significa “admitir” ou “expressar concordância”. A questão é: expressar concordância a quem? A. Roach disse que, à luz de Filipenses 2:11, que diz: “E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” e Romanos 14:11 que diz: “toda a língua confessará a Deus”, esta confissão deve ser feita a Deus, e não aos homens. O crente reconhece para Deus que “Jesus Cristo é o Senhor”. H. A. Ironside disse: “A confissão aqui não é, obviamente, a mesma coisa que o nosso Senhor diz: ‘Qualquer que Me confessar diante dos homens, Eu o confessarei diante de Meu Pai, que está nos céus’. Esta é antes, a confissão da alma ao próprio Deus, de que ele aceita Jesus como Senhor” (Lectures on Romans, pág. 130-131).

No versículo 9, Paulo menciona a “boca” antes do “coração”, que é a ordem encontrada em Deuteronômio 30, mas no versículo 10, ele inverte a ordem. O versículo 9 enfatiza os fatos, e o versículo 10 enfatiza a ordem em que ocorrem na alma do crente. A fé no coração produz a confissão da boca; é uma prova do que é verdadeiro no coração. Assim, a aceitação interior da palavra pela fé, precede a expressão externa da confissão. Estes não são dois passos separados para a salvação, mas dois lados da mesma coisa.

No curso normal do crescimento e desenvolvimento Cristãos, a confissão diante dos homens seguirá a fé de uma pessoa em Cristo. A pessoa que realmente crê no Senhor Jesus confessará sua crença a seus semelhantes. Isso deveria acontecer naturalmente, pois o evangelho é uma notícia boa demais para guardarmos para nós mesmos! (Veja 2 Rs 7:9.) As Escrituras nos encorajam a falar sobre isso: “Digam-no os remidos do Senhor” (Sl 107:2). A confissão diante dos homens é boa, mas não é uma condição pela qual uma pessoa é salva eternamente da pena de seus pecados. O novo crente pode hesitar em confessar a Cristo a princípio, mas seu bem-estar eterno não depende disso. Paulo já ensinou que a bênção da salvação está somente no “princípio de fé” (cap. 1:17, 3:30, 4:16, 5:1 todos da tradução JND); ele estaria se contradizendo aqui se colocasse a confissão diante dos homens como condição.

A Bênção do Evangelho é Oferecida a Todos 

Cap.10:11-13 – Paulo prossegue mostrando nas Escrituras que a bênção de Deus não se limita aos judeus. Ele cita Isaías: “Porque a Escritura diz: Todo aquele que n’Ele crer não será confundido” (Is 28:16). “Todo aquele que” é uma expressão bastante grande, abrangendo não apenas judeus, mas também gentios. O uso que Deus faz desta palavra em conexão com a salvação prova que Ele pretende que a bênção alcance os gentios. Assim, os gentios que creem na mensagem do evangelho também são abençoados com o mesmo princípio de fé que os judeus, porque, como Paulo diz, “não há diferença entre judeu e grego” quando se trata de ser salvo (At 15:11). Ele mostrou no capítulo 3 que “não há diferença” entre os judeus e os gentios quanto à sua ruína e necessidade de um Salvador. Agora, neste capítulo, ele mostra que “não há diferença” entre os judeus e os gentios na graça de Deus sendo-lhes mostrada. Ele cita o profeta Joel para mais uma prova disso: “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Jl 2:32).

Cap.10:14-15 – Paulo então pergunta como poderia ser possível para qualquer um entre os gentios invocar o nome do Senhor se eles nunca ouviram falar d’Ele. Ele mostra que há uma necessidade de proclamar Cristo entre os gentios para que eles possam invocá-Lo e serem salvos. Ele diz: “Como, pois, invocarão aqu’Ele em Quem não creram? e como crerão naqu’Ele de Quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?”. Ele cita Isaías 52:7 para apoiar o princípio de proclamar a verdade no evangelho: “Está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas!” Assim, as Escrituras judaicas na verdade encorajam a pregação do evangelho concernente a Cristo, o Messias. Isso foi exatamente o que Paulo estava fazendo entre os gentios! E ao afirmar isso, ele se justifica por ir aos gentios com as boas-novas.

O Evangelho Não Foi Crido por Todos 

Cap.10:16-21 – É triste dizer que, com exceção de um remanescente, os judeus falharam em sua responsabilidade de crer no evangelho. Não só se recusaram a recebê-lo, mas também resistiram à disseminação das boas-novas aos gentios. Paulo relatou aos tessalonicenses: “Os quais [os judeus] também mataram o Senhor Jesus e os Seus próprios profetas, e nos têm perseguido, e não agradam a Deus, e são contrários a todos os homens. E nos impedem de pregar aos gentios as palavras da salvação, a fim de encherem sempre a medida de seus pecados” (1 Ts 2:14-16). O livro de Atos também atesta esse fato.

Paulo cita Isaías novamente para mostrar que as Escrituras proféticas do Velho Testamento predisseram que a nação rejeitaria seu Messias. Ele diz: “Mas nem todos obedecem ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação?” Ao dizer “nossa pregação”, Isaías estava falando em nome de seus colegas profetas, os outros profetas do Velho Testamento que haviam profetizado sobre o Messias. Ele lamentou que a pregação sobre o Messias não tivesse sido crida pela nação de Israel, apesar de ela conter tudo o que eles precisavam saber sobre Ele. A pregação anunciou:

  • O tempo da Sua vinda (Dn 9:26 com Sl 102:24).
  • O local de Seu nascimento (Mq 5:2).
  • Seu nascimento virginal (Is 7:14).
  • Sua Filiação (Sl 2:6-7).
  • Sua Realeza como descendente direto de Davi (2 Sm 7:12-16; Jr 23:5).
  • Sua anunciação por um precursor (Is 40:3; Ml 3:1).
  • A maneira de Sua vida (Is 42:1-3).
  • Seu poder para trazer as bênçãos do reino (Is 33:24, 35:5-6, 61:1-3; Sl 65:6-7, 89:9, 132:15, 89:9, 132:15, 89, 146:7-8, etc.).
  • Sua apresentação à nação de Israel (Zc 9:9).
  • Sua traição (Sl 35:8, 14, 41:9, 55:12-14, 69:25, 109:6-8).
  • A rejeição d’Ele pelos judeus (Sl 35:11, 69:4, 109:4-5; Is 49:4, 50:5-6, 53:2-4; Dn 9:26; Mq 5:1-2).
  • Sua morte (Sl 16:10, 22:1-21a, 31:1-5a, 102:24; Dn 9:26a).
  • Sua ressurreição (Sl 16:11, 22:21b, 102:24b-28).
  • Seu lugar atual à destra de Deus (Sl 110:1).
  • A esperança de Israel de que Deus O enviaria para libertação deles (Sl 80:17).
  • Sua vinda novamente – a Aparição (Sl 72:6, 96:13, 98:9; Is 30:27-33; Ml 3:1, 4:2-3).
  • Seu reinado público em justiça como Rei sobre toda a Terra (Is 32:1, 61:11; Sl 47:7; Zc 14:9).
  • Ele ser buscado e adorado pelos gentios (Sl 47:9, 72:11, 86:9; Is 11:10; Zc 2:11).

Assim, a “pregação” dos profetas sobre a vida e os tempos do Messias havia sido preditas nas Sagradas Escrituras. Os judeus se orgulhavam de conhecer as Escrituras, mas eram “tardos de coração” para realmente “crer” naquelas coisas (Lc 24:25-26). Os profetas do Velho Testamento falavam do Messias – primeiro sofrendo e depois entrando na glória do Seu reino (1 Pe 1:11). Esse testemunho não foi dado apenas aos judeus, mas os gentios também o ouviam, pois, o evangelho foi pregado a ambos, judeu e gentio (cap. 1:16).

V. 17 – Paulo fala então de como a bênção do evangelho ocorre nas almas. Ele diz: “De sorte que a fé é pelo ouvir [uma pregação], e o ouvir [a pregação] pela palavra de Deus” (JND). Assim, “fé” em uma pessoa é um resultado de serem abertas suas faculdades espirituais de ouvir, e isso ocorre pelo poder da “Palavra de Deus” trabalhando em sua alma. O Espírito de Deus toma a Palavra de Deus e a aplica à alma, e assim comunica a vida espiritual à pessoa. Essa ação é chamada de novo nascimento ou vivificação (Jo 3:3-5; Ef 2:1, 5). Ao receber a vida divina, as faculdades espirituais da pessoa começam a operar, e ela é capaz de ouvir e receber comunicações divinas – isto é, a verdade do evangelho. É por isso que precisamos “pregar a Palavra” aos perdidos (2 Tm 4:2). “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz”, e dirigida pelo Espírito de Deus quando a pregamos, ela comunica a vida divina aos homens (Hb 4:12).

V. 18 – Paulo então cita o Salmo 19, que tem a ver com o testemunho da criação, para mostrar que Deus pretende que um testemunho alcance “toda a Terra”. Isto, com certeza, incluiria gentios, pois eles estão por toda a Terra. O testemunho da criação não anuncia o evangelho da graça de Deus. Paulo não o cita por essa razão, mas para mostrar que Deus quer que todos os homens recebam um testemunho de Si mesmo. Isto, então, alicerça o esforço para anunciar as boas-novas nas regiões d’além.

Vs. 19-21 – Paulo diz: “Israel não o soube?” Como eles não sabiam que Deus desejava que a bênção fosse oferecida aos gentios, quando suas próprias Escrituras deram testemunho desse fato? Ele cita o que Moisés escreveu em Deuteronômio 32:21 para provar isso: “Eu os meterei em ciúmes com aqueles que não são povo, com gente insensata vos provocarei à ira” (v. 19). A implicação aqui é que, porque tardavam em crer, Deus envergonharia Israel no fato de Sua bênção ir para os gentios. Paulo acrescenta outra declaração de Isaías 65:1 para este fim: “Fui buscado dos que não perguntavam por Mim; fui achado daqueles que Me não buscavam” (v. 20; Rm 3:11). Mas, relativamente a Israel, Isaías 65:2 disse: “Estendi as Minhas mãos todo o dia a um povo rebelde” (v. 21). Assim, a partir de suas próprias Escrituras, Paulo mostra que haveria essa admirável inversão da bênção. Quando Israel rejeitasse a bênção, por não receber seu Messias, Deus enviaria a bênção aos gentios! O Senhor também ensinou isso em muitas de Suas parábolas (Mt 21:42-44, 22:8-10; Lc 13:28-30, 14:16-24). O resultado foi que muitos gentios entraram na bênção pela fé em Cristo, e (com exceção de um remanescente) Israel a perdeu!

Assim, Paulo mostrou neste capítulo que há uma responsabilidade moral da parte do homem em crer no testemunho de Deus do evangelho. Deus fez ampla provisão para que Israel cresse, mas o princípio se aplica a toda à humanidade. E se Israel como nação foi posta de lado, não é por culpa de Deus; é claramente pela própria culpa deles. Eles não apenas quebraram a Lei, mas também rejeitaram o Messias e o evangelho da graça de Deus.

No decorrer deste décimo capítulo, Paulo mencionou três razões principais pelas quais os judeus perderam a bênção de Deus:

  • Zelo pela religião nacional (v. 2).
  • Ignorância da justiça de Deus (v. 3).
  • Incredulidade obstinada (v. 16).
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