Origem: Livro: Eleição, Livre Arbítrio e Segurança Eterna

Responsabilidade

Para muitos, a mensagem do evangelho parece estar em desacordo com o ensino da eleição. Se Deus já escolheu, por que pregar? Outros acham que é inútil pregar para alguém, exceto aos eleitos – embora não saibamos quem são eles. A instrução do Salvador ressuscitado é bastante clara: que “se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações (Lc 24:47). Paulo confirma que todos são responsáveis diante da mensagem do Evangelho: “Deus … ordena agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam” (At 17:30 – JND). Se aceitarmos a comissão de Cristo, como podemos conciliá-la com a doutrina da eleição e predestinação? Muito simplesmente, nenhuma conciliação é necessária. Um conflito foi criado desnecessariamente. Não podemos confundir a ação de Deus em Sua soberania, por um lado, com a responsabilidade do homem, por outro. Quem poderia negar um dos dois? Deus não é soberano? Ele não seria Deus se fosse menos do que isso. Não é o homem responsável? Ele não seria homem se não o fosse.

A soberania de Deus não elimina nem diminui a responsabilidade do homem. Um devedor não está isento de sua dívida simplesmente porque não pode pagá-la. Nem a depravação do homem diminui sua responsabilidade. É absurdo sugerir o contrário. Quanto mais malvado o criminoso, mais leve deve ser a sentença? Fico feliz em pensar que a maioria discordará disso. Nem pode o homem dizer que não sabia e que, portanto, não pode ser responsabilizado. É da natureza do homem culpar o Criador. Deus exauriu todos os seus recursos para alcançar o coração do homem. O Pai enviou o Filho; o que mais Ele poderia ter feito? A cruz foi o fim de tudo e mostrou que o homem é totalmente reprovável. Isso coloca o homem em uma posição de maior responsabilidade; não a diminui. “Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas, agora, não têm desculpa do seu pecado… Se eu, entre eles, não fizesse tais obras, quais nenhum outro têm feito, não teriam pecado; mas, agora, viram-nas e me aborreceram a mim e a meu Pai” (Jo 15:22, 24). Notavelmente, graça sobre graça, isso deixa Deus livre para agir de acordo com Sua própria soberania: “Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia” (Rm 11:32).

Deus escolheu a loucura da pregação para salvar almas (1 Co 1:21).[5] Não é por argumento astuto nem por hábil persuasão (1 Co 2:1); é somente na Palavra de Deus que encontramos vida. “Portanto, a fé é pela pregação, mas a pregação pela palavra de Deus” (Rm 10:17 – JND). A Palavra de Deus é a semente que é semeada (Lc 8:11). Não importa se a semente cai em terreno pedregoso, entre espinhos, ou se os pássaros a arrebatam, nada detém o semeador (Lc 8:5-8). Quem é que Deus justifica? “Mas, àquele que não pratica, porém crê n’Aquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça” (Rm 4:5). Deus justifica o ímpio.[6] Se é assim, então esse é a quem devemos pregar – não aos eleitos, a quem só Deus conhece. Nós lançamos a semente e Deus faz o resto. “Se um homem lançasse semente à terra, e dormisse, e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, não sabendo ele como(Mc 4:26-27). O segredo da germinação é um mistério que a ciência só recentemente começou a desvendar. Quando se trata da boa semente, os segredos de sua germinação permanecem ocultos. Devemos limitar nossa linguagem ao que nos é dado na Escritura. A Palavra de Deus, pelo poder do Espírito, traz nova vida. “Vendo que vós tendes purificado vossas almas na obediência à verdade pelo Espírito… tendo renascido, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e permanece” (1 Pe 1:22-23 – KJV). “Na verdade, na verdade, te digo que aquele que não nascer da água [7]e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3:5). O pregador do evangelho é responsável por plantar a semente. É Deus quem dá o crescimento (1 Co 3:7).
[5] Não os meios, mas a coisa pregada – Cristo crucificado.
[6] Não aqueles que o merecem.
[7] Uma metáfora para a Palavra de Deus.

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