Origem: Livro: Breves Meditações
Rico em Deus
É bom para nós nos familiarizarmos com os muitos, profundos e maravilhosos interesses que temos em Deus – como, por exemplo, em Suas afeições, Seus conselhos e Seus feitos. Essas coisas são ensinadas e ilustradas na Escritura.
Afeições divinas, conselhos divinos, feitos divinos, fazem de nós o Seu objeto. Que bênção dizer isso. A eternidade passada de Deus tomou conhecimento de nós, tendo sido então escolhidos, predestinados e escritos no livro da vida. O tempo, nas mãos de Deus, em todos os seus estágios ou sucessões, tem se ocupado conosco. A eternidade vindoura de Deus deve muito de sua alegria e glória à nossa história, àquilo que foi feito, em abundante graça, para a redenção de nós, pecadores.
Tendo nos escolhido antes que o mundo existisse, Ele nos tem treinado na sabedoria de Seus caminhos em todas as eras do mundo; e quando o mundo for enrolado como um pergaminho, ainda seremos um objeto. O céu se familiariza com nossa história – anjos dela extraem nova luz e alegria; e a moral ou resultado disso será a revelação e a plena manifestação da glória de Deus em todas as Suas múltiformes e infinitas perfeições para sempre. Que interesses em Deus são esses!
A Sua justiça é nossa – e o Seu amor é nosso. Somos feitos “justiça de Deus”, e com o amor com que Cristo é amado, nós somos amados.
As pessoas falam de seus amplos e variados interesses, de suas propriedades aqui e ali; e percorrem em pensamento esses lugares ricos, examinando-os bem e se deleitando com a clareza e a segurança de seus títulos sobre eles. Mas acaso nós, com igual deleite, examinamos nossas possessões em Deus, como dissemos – tais como: Suas afeições; Seus conselhos; Sua eternidade, passada ou futura; no tempo como agora, sob Sua mão e ordenança; em Sua justiça; em Suas obras por nós e Suas operações em nós por meio de Seu Filho e por Seu Espírito; nos sofrimentos que Ele consumou e nas glórias que conquistou. Que riquezas! Que verdade bendita é essa para a alma se apropriar!
As Epístolas aos Romanos e aos Efésios, entre outras, mostram-nos amplamente o nosso interesse nos conselhos divinos – a Epístola de João mostra-nos o nosso interesse nas afeições divinas. Todas as Escrituras nos dizem como Deus tem estado ministrando a nós em todos os Seus arranjos, nas sucessivas jornadas que o tempo percorreu, e o lugar que já temos, ou teremos, na Sua eternidade. E o Evangelho prega-nos o nosso interesse nos Seus sofrimentos, nas Suas glórias, na Sua justiça e nas operações do Seu Espírito.
Temos ilustrações, assim como ensinamentos diretos, sobre essas coisas. Gostaria de destacar algo disso, como vemos em Zacarias 3 e Lucas 15 – na parábola profética do sumo sacerdote Josué, e na parábola do Senhor sobre o filho pródigo. Há afinidade nessas parábolas, mas também diferenças características em cada uma.
Josué nos representa como tendo nossos interesses nos conselhos divinos; o pródigo, nas afeições divinas – embora ambos são vistos na presença de um amigo e de um acusador, também passando pelo processo que os transforma da degradação para a honra e a alegria.
Mas em Josué não vemos nenhum exercício pessoal. Não nos é mostrado nada de uma obra do poder de Deus nele. Nem nos é relatado qualquer manifestação do coração do Pai para com ele. Ele é simplesmente o objeto da eleição e da obra da graça de Deus por ele e em seu favor (e isso em um grau brilhante e maravilhoso), enquanto ele próprio precisa apenas ser passivo, deixando que o Senhor faça por ele e com ele o que Lhe aprouver.
No filho pródigo, vemos a obra do Espírito, a virtude oculta e eficaz da operação de Deus visitando e movendo sua alma, e o levando de volta para casa, onde uma recepção o aguarda sob todas as formas que a mais querida e profunda afeição poderia sugerir.
De fato, eu poderia notar a narrativa em João 8, em companhia destas parábolas – pois ali, a convicta está na presença tanto de um acusador quanto de um amigo, e é transportada de um lugar de vergonha e perigo para um de liberdade e segurança. Mas ela não é declarada como tendo sido objeto de conselhos, nem é mostrada como objeto de afeição; mas o caminho de Cristo no evangelho é ilustrado e forma bela. Quem é “cego” e “surdo” como o Senhor nesta ocasião? – tomando assim o Seu lugar no serviço da graça de Deus aos pecadores, não imputando aos homens os seus pecados (veja Isaías 42:19; 2 Coríntios 5:19). Estas são ilustrações de coisas que nos são ensinadas – nossos muitos e variados interesses em Deus. Conselhos divinos, afeições divinas, obras e operações divinas nos tornam o objeto deles. Somos “ricos para com Deus”. Cada um dos santos de Deus compartilha tudo isso; mas é, portanto, o modo da sabedoria divina ilustrar as diferentes partes desta nossa herança em Deus em diferentes porções de Sua Palavra.
Os santos em breve serão ricos em circunstâncias, mas agora são ricos no próprio Deus. O reino será estabelecido, “o mundo vindouro” brilhará em suas glórias, e os santos estarão lá. E os santos devem agora ser ricos para com Deus, assim como são ricos n’Ele, investindo suas energias e suas vantagens, seus talentos, sejam eles quais forem, em Seu serviço – como diz Lucas 12:21.
