Origem: Livro: Breves Meditações sobre os Salmos
Salmo 119
Este Salmo relata as várias virtudes da Palavra de Deus e o deleite e o proveito dos santos nela. Qualquer crente, de modo geral, pode usá-lo como os anseios de sua própria alma; mas em seu completo caráter profético, parece que será a linguagem do verdadeiro Israel em seu retorno a Deus e Seus oráculos há muito negligenciados.
Quando o Senhor veio, Ele encontrou os Judeus negligentes e ignorantes da Escritura. (Mt 15:6, 22:29; Jo 5:38, 47). Mas o Remanescente é direcionado a ela (Is 8:20; Ml 4:4). E este Salmo mostra a obediência deles nessa direção e o exercício de coração nos escritos divinos. Eles abandonaram suas próprias tradições e estão ouvindo “Moisés e os Profetas” (Lc 16:29-31).
Esdras, enquanto estava cativo na Babilônia, ocupou-se diligentemente com a Palavra de Deus, assim como o Remanescente fará (Ed 7:6). Os Judeus da Bereia apresentam uma amostra deles, da mesma forma, nesse caráter (At 17:11). E a história de Josias faz o mesmo. Ele reinou depois que o julgamento foi pronunciado contra Jerusalém. Seu arrependimento não poderia mudar isso. O juízo ainda estava por vir; mas Josias (como o Remanescente de Deus) será poupado. Pois ele havia proposto em seu coração servir ao Senhor quando tudo estava se apressando para a ruína. Mas temos na história mais um fato – que no meio de seus feitos e serviços, o Livro da Lei é encontrado, e que imediatamente opera para dar um novo tom a todos os seus caminhos. Ele começa consigo mesmo. Ele toma o lugar de alguém convencido e humilhado. Nesse espírito, ele se dispõe a trabalhar novamente, e faz dos oráculos de Deus a regra de todo o seu serviço (2 Rs 22-23; 2 Cr 34-35).
Josias, dessa forma, com zelo se voltou à Palavra de Deus que havia sido tão inteiramente perdida para a nação por causa de suas vaidades idólatras. E assim, o último dia, o Remanescente arrependido se voltará com um coração atento e obediente para a Palavra de Deus, tratando-a com especial honra e consideração,
conscientes como estarão de tê-la negligenciado por tanto tempo e de forma tão grave. Pois esse é o fruto que o arrependimento produziria de forma devida e natural. Será a restauração; restituindo, como Zaqueu, quatro vezes a mais aquilo que eles haviam defraudado.
Mas não podemos passar por este Salmo valioso e profundamente devocional sem uma pequena pausa adicional. Desde o início de Seus caminhos, vemos o valor de Deus para Sua Palavra escrita. Ele fez uma cerca em volta dela, para que nenhuma mão irreverente possa tocá-la sem ficar culpado, seja para acrescentar ou tirar algo dela. E Ele a atou ao redor do coração, diante dos olhos e nas mãos de Seu povo. Os portões do campo, as portas da casa, a manhã e a noite da família, a caminhada fora e o descanso dentro de casa, tudo era para testemunhar isso (Dt 6, 11). Isso deveria misturar-se com toda a vida pessoal e social de Seu povo e lançar sua luz em todos os caminhos de sua jornada diária, por mais comuns que fossem. Não é abençoado ver o Senhor assim estimando Sua própria revelação e recomendando-a assim à nossa estima? E agora isso deve ser apagado de nossos portões e portas e das palmas de nossas mãos? “A malícia de Satanás não se enfureceu menos contra o Livro do que contra a verdade nele contida”. A vida divina do santo atende a ela e não pode se privar dela. É o alimento da vida de fé e da esperança. Ela leva a alma a Deus e a mantém perto d’Ele e com Ele, por meio do Espírito. Quanto mais as virtudes e consolações da nova vida forem valorizadas, assim será a Palavra. E o crente invoca a Palavra ou a Escritura como a resposta a essa grande pergunta: “Onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar do entendimento?” (Jó 28:12 – ARA). Pois somente Ele, que conhece o caminho da sabedoria, fez da Escritura sua morada. E com Ele o santo fala, comparando-a com tudo o mais: “O que é a palha para o trigo?” (Jr 23:28 – JND)
Que possamos segurá-la firme, bem como usá-la habilmente à luz do Espírito Santo em nós! Pois se há o erro de tirar essa chave da ciência (Lc 11), também há o erro de usá-la com uma mão indouta e inconstante (2 Pe 3). Vamos usá-la com a mente reverente e adoradora do servo de Deus neste belo e mais precioso Salmo. Saibamos algo sobre os anseios de seu coração sobre os santos oráculos, dizendo: “Abri a boca e suspirei, pois ansiava por Teus mandamentos” (Sl 119:131 – JND).
