Origem: Livro: Breves Meditações sobre os Salmos

Salmo 71

Davi é distintamente ouvido neste Salmo. O Espírito de Cristo também, como em companhia do Remanescente, do qual Davi, em suas dores e arrependimento, é uma figura tão marcante. A aflição de Davi vinda da mão de Absalão foi a aflição de sua “velhice”, ou quando ele estava “de cabelos brancos”. Portanto, misticamente, a aflição do Remanescente será na velhice de Israel (Is 46:4).

O fato de ser tirado da sepultura, ou da cova, ou dos abismos (profundezas) da Terra (v. 20), expressa o perdão de pecados, assim como a ressurreição de Cristo foi a garantia dessa graça (Is 38:17).

Mas o caráter mais marcante neste Salmo é o desejo de Davi de ter Deus e Sua justiça magnificados nele. Ele já havia sido um prodígio, mas desejava ser ainda mais. Sua história tinha sido até então uma exibição de graça maravilhosa. Tirado dos apriscos para ser ungido rei; defendido da cruel inimizade de Saul; levado à honra, como antes havia sido fortalecido para a vitória; esses eram os caminhos brilhantes da graça para com ele. Mas agora, ao ser restaurado após o pecado e a apostasia, isso o tornaria uma maravilha ainda maior. Ele realmente mostraria que “a graça triunfante reina”.

É nisso que a alma de Davi se fixa aqui. Não na confissão do pecado, cujo fruto foi seu sofrimento causado por Absalão, mas na glória do pensamento de ilustrar a graça abundante. Ele aguarda apenas para ser preparado para o louvor de Deus “cada vez mais” – de falar da justiça de Deus, “e só dela”. E verdadeiramente abençoada é uma experiência tão rica como essa; quando um pobre pecador, na percepção da graça divina, não faz confissão, mas triunfa com o pensamento de ilustrar em sua própria pessoa a abundância da bondade de Deus. Vemos isso em Paulo. Davi pode confessar o pecado, e isso de coração, em ocasiões adequadas, e inclinar a cabeça sob o castigo de tal pecado (veja Salmo 51, e outros); mas aqui, não é seu pecado que ele confessa, mas é a graça de Deus abundando sobre ele que ele exaltaria para sempre, e para esse fim aguarda e antecipa a libertação dos problemas presentes e o aumento de sua grandeza. Assim, sua história mostraria de forma mais impressionante do que nunca a justiça e o louvor de Deus.

E acrescentaríamos (embora já tenha sido sugerido) que a história de Israel é notavelmente semelhante à de Davi: – Sua eleição, embora o menor na casa de seu pai – preservação quando foi perseguido – capacitação e poder – depois, pecado e confisco de tudo, com cativeiro além do Jordão – e, finalmente, restauração e descanso. Esses são os semelhantes caminhos de Deus com Israel e também com Davi; e assim ambos podem declarar as obras maravilhosas de Deus e falar somente de Sua justiça o dia todo. Portanto o Remanescente, em seus dias, pode muito bem se encorajar na história de seu amado Rei nos dias antigos. Pois, dessa forma, ele é colocado como modelo para eles (como Saulo de Tarso) de toda a longanimidade divina (veja 1 Timóteo 1:15-16).

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