Origem: Livro: Os Patriarcas
Satanás confundido
Satanás havia entendido Jó. Ele conhecia o funcionamento daquela natureza corrupta que sua própria mentira havia formado no jardim do Éden. Ele havia dito: “Porventura, teme Jó a Deus debalde? Porventura, não o cercaste Tu de bens a ele… toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema de Ti na Tua face!… Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida”. E que sério e terrível é o pensamento, amado, de que ele nos conhece tão profundamente e conhece as fontes do pensamento e da vontade dentro de nós. Mas embora ele entendesse bem Jó, ele não entendia Deus. Os conselhos da graça estão acima dele. E por isso, na história deste mundo, ele sempre esteve se derrotando a si mesmo, pensando que estava levando vantagem sobre nós; pois ele tem que se encontrar com Deus exatamente naquilo que faz e nos propósitos que planeja contra nós. Quando ele interferiu com Adão no jardim, ele encontrou Deus para sua confusão, e a promessa a Adão anunciou sua própria ruína. Quando ele provocou Davi a numerar o povo, a eira de Ornã foi revelada, e o local onde a misericórdia triunfou no juízo, tornou-se o local do templo. Quando ele peneirou os apóstolos como trigo, foi contestado pela oração de Jesus e, em vez de a fé falhar, os irmãos foram fortalecidos. E, acima de tudo, quando tocou em Jesus na cruz, a própria morte que ele infligiu foi a sua própria ruína perfeita e consumada. Assim, em cada problema que ele traz a qualquer um de nós, ele descobre, ou descobrirá, mais cedo ou mais tarde, que encontrou o Deus poderoso, e não o santo fraco. Ele entrou no ninho de Jó para estragá-lo e deixá-lo destruído e vazio. Ele entrou em outro jardim então. Mas Deus estava lá, assim como seu servo Jó, e no final Satanás é confundido.
O mesmo acontece com os santos e seus inimigos. Eles tomarão o reino, e no reino Satanás não terá lugar. Do meio das provações que ele levantou ao redor deles e contra eles, os santos saem para colocarem suas coroas e entoar seus cânticos. E, em vez de aparecer novamente “entre” “os filhos de Deus”, o anjo forte lançará mão dele e o lançará no abismo. (Alguém observou que Satanás é sempre derrotado. Este pensamento parece obter as confirmações mais impressionantes da Escritura, além dos casos mencionados acima).
Ele é o instrumento, o voluntarioso instrumento de destruição da carne; mas essa destruição termina na salvação do espírito (1 Co 5:5). Ele recebe, recebe de bom grado aquele que lhe é judicialmente entregue; mas tudo isso termina com tal pessoa aprendendo a não blasfemar (1 Tm 1:20). Ele envia seus mensageiros como espinhos na carne, deleitando-se em fazê-lo, como se estivesse determinado a fazer o mal, tendo sido “homicida desde o princípio”; mas isso ainda funciona bem, pois o servo de Cristo é assim protegido da indevida exaltação (2 Co 12:7).
São exibições ilustres do diabo sendo sempre derrotado. Porque elas mostram isso: que ele se presta diretamente à sua própria derrota. Sua própria arma está apontada contra si mesmo. Aquele a quem ele ataca recebe, pelo próprio ataque, força ou virtude contra ele.
Feliz garantia! Nosso grande adversário nunca é vitorioso! São contra os aguilhões que ele recalcitra[4].
[4] N. do T.: Recalcitrar significa escoicear, opor-se obstinadamente a qualquer tipo de controle ou autoridade; insurgir-se, rebelar-se, revoltar-se (Cf. Michaelis). ↑
