Origem: Livro: Os Patriarcas
O Senhor Se mostra
Mas o que deveria conferir a este livro seu principal poder de nos envolver é o seguinte: o próprio Senhor é visto nele de maneiras e caracteres adequados a esse estilo simples e original. Sendo a ação do livro muito doméstica, simples e sem adornos, Seu caminho é de acordo com isso. Quer Ele comunique Sua mente ou manifeste Sua presença, é segundo esse mesmo padrão. Ele não emprega profetas, mas pessoalmente torna conhecido o Seu prazer. Pode ser em sonho, ou por voz, bem como por manifestação Pessoal; mas ainda assim é Ele mesmo. E mesmo que os anjos sejam empregados, eles são mais Seus companheiros do que Seus mensageiros.
No frescor do dia, ou da tarde, Ele passeava pelo jardim. No campo, Ele argumentou com Caim, argumentou Pessoalmente com ele, acrescentando o peso e a autoridade de Sua própria presença a um momento de terrível e solene interesse. Ele desceu ao clamor de Babel e ao clamor do pecado de Sodoma, apenas para que pudesse ver, como nós faríamos, se as coisas eram realmente tão ruins quanto se dizia que eram. Em formas de intimidade, Ele apareceu repetidas vezes a Abraão, Isaque e Jacó; convidando à confiança, expressando descontentamento ou transmitindo Seu propósito, em maneiras de plena familiaridade pessoal. E embora, no decorrer do livro, esse estilo possa se tornar menos frequente, ainda assim ele é mantido em medida até o fim, mesmo onde menos o esperávamos. Pois aos reis, que não eram da linhagem de Abraão, o Senhor Deus apareceu em sonhos à noite e, sem espanto, avisou-os de seu dever ou contou-lhes sobre o perigo.
O ministério dos profetas, como observei, não é empregado. Isso teria sido demasiado distante, demasiado reservado para se adequar ao estilo geral. Nem o agrado divino é comunicado pelo Espírito Santo ou por inspiração. Essa também não é a maneira – não a maneira usual. Mas é, como vimos, a interferência Pessoal do próprio Senhor, vindo numa visão, ou por meio de um sonho ou de uma palavra; ou de uma forma ainda mais próxima de assumir as formas e atributos da humanidade; e isso também não em trajes místicos, como depois aconteceu com Isaías, Daniel ou João; mas como Alguém que Se encontrava com o homem em seu lugar e circunstâncias. Como um viajante necessitado de hospitalidade, Ele come um bezerro e um bolo à porta da tenda com um; com outro Ele contende e luta, como um homem com seu próximo, tendo uma luta ou disputa com ele.
Veja todo esse estilo de ação no caso de Noé. Com que interesse o Senhor Deus entra em todo o estado das coisas naquele dia! Assim como todos nós sentimos, Seus olhos afetam Seu coração. E então, assim como todos nós fazemos, Ele Se aconselha Consigo mesmo. Ele viu que a maldade do homem era grande; isso O entristeceu profundamente; e então Ele disse: “Destruirei, de sobre a face da Terra, o homem que criei”. E depois de tudo isso, assim como nós mesmos faríamos, tendo seguido Seu conselho, Ele o comunica a um amigo, passando-o ao ouvido, ao coração e às empatias de outro.
Foi assim que o Senhor tratou Noé. Ele tratou-o como um homem com seu amigo, assim como Deus com um pecador eleito. E nós mesmos praticamos essas maneiras. Amamos essas confidências de amizade. Amamos um segundo eu. “O fim de toda carne é vindo perante a Minha face”, diz o Senhor a Noé, contando-lhe o que se passava em Seu próprio seio. E depois, no dia das águas, da mesma forma de graciosa amizade, quando a arca estava prestes a flutuar no local do julgamento, “e o SENHOR o fechou dentro” (ACF). Com Suas próprias mãos Ele fez isso.
Aqui estava a intimidade. Aqui estava a proximidade viva e palpável do Senhor Deus com Sua criatura. E isso está de acordo com Suas ações e comunicações gerais neste livro. A glória ainda não estava ocupando o seu lugar numa dispensação, envolta numa carruagem entre as nuvens ou assentada entre querubins. Em tudo isso havia majestade e grandeza consciente, e a distância da santidade, conforme convinha a uma economia ordenada. Mas nos tempos de Gênesis não era assim. As coisas eram informais e a ação era variada; e o Senhor estava em Pessoa, conforme exigia a ocasião, de acordo com isso.
