Origem: Livro: As Três Manifestações de Cristo
Seu Advento
Este nos é aqui apresentado em conexão imediata com aquelas grandes verdades fundamentais com as quais já nos ocupamos, e que são, além do mais, aceitas e estimadas por todos os verdadeiros cristãos. É verdade que Cristo veio ao mundo para aniquilar o pecado pelo sacrifício de Si mesmo? Que veio carregar os pecados de muitos que, pela graça, depositaram sua fé n’Ele? É verdade que Ele subiu aos céus e está sentado no trono de Deus, para ali interceder por nós? Sim, louvado seja Deus, estas são verdades sublimes, vitais e fundamentais da fé cristã. Bem, então é igualmente verdade que Ele deve voltar outra vez, aparte a questão do pecado, para salvação. “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-Se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que O esperam para a salvação.” (Hb 9:27-28). Temos aqui o assunto mais do que nunca fundamentado. Tão verdadeiro quanto Cristo ter vindo a este mundo – tão verdadeiro quanto Ele ter estado deitado na manjedoura de Belém – ter sido batizado nas águas do rio Jordão – ter sido ungido com o Espírito Santo – ter sido tentado pelo diabo no deserto – ter andado fazendo o bem e curando a todos os que estavam oprimidos pelo demônio – ter gemido, pranteado e orado no Getsêmani – ter sido levantado na cruz maldita do Calvário e ter morrido, o Justo pelo injusto – ter sido colocado no túmulo escuro e silencioso – ter ressuscitado vitorioso ao terceiro dia – ter subido aos céus, para comparecer na presença de Deus pelo Seu povo – tão certo como tudo isso, Ele verdadeiramente deverá aparecer muito em breve entre as nuvens do céu para receber os que são Seus. Se recusamos uma coisa devemos recusar todas. Se questionamos uma, devemos questionar todas. Se não estamos certos acerca de uma delas, não podemos estar certos e todas, já que estão todas baseadas precisamente sobre o mesmo fundamento, as Sagradas Escrituras. Como sei que Jesus Se manifestou? Porque a Escritura o diz. Como eu sei que Ele comparece agora na presença de Deus? Porque a Escritura o diz. Como eu sei que Ele aparecerá, vindo outra vez? Porque a Escritura o diz. Em suma, portanto, a doutrina da expiação, a doutrina da mediação e a doutrina do advento apoiam-se, todas elas, sobre um mesmo e irrefutável fundamento, a saber, a simples declaração da Palavra de Deus, e se aceitamos uma devemos aceitar todas. Como é, então, que enquanto a Igreja de Deus em todas as épocas manteve e prezou pela doutrina da expiação e mediação, praticamente perdeu de vista a doutrina do advento? Como pode ter acontecido que, enquanto as duas primeiras foram conservadas como essenciais, a última tenha sido considerada dispensável? E vamos ainda mais longe e perguntar: Como é que um homem que não mantenha as duas primeiras é, justamente, tido como herege, enquanto que o homem que retém a última seja tido como pouco digno de confiança na fé ou como introdutor de uma doutrina estranha? Que resposta podemos dar a estas perguntas? Oh! A Igreja parou de aguardar pelo seu Senhor. Expiação e mediação são mantidas por se referirem a nós; mas o advento foi virtualmente deixado de lado, porque é algo tão profundamente concernente a Ele. Diz respeito Àquele que sofreu e morreu nesta Terra na qual deveria reinar; Aquele que usou uma coroa de espinhos quando deveria usar uma coroa de glória; Aquele que Se humilhou à morte mais desprezível, quando deveria ter sido exaltado; Aquele diante de Quem todo joelho deveria se dobrar. Com toda a certeza é por isso; e o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo olhará para isso e dará a sentença a Seu tempo. “Assenta-Te à Minha destra até que ponha a Teus inimigos por escabelo de Teus pés.” (Sl 110:1; Hb 1:13) Aproxima-se rapidamente o momento em que Aquele bendito, que encontra-Se agora oculto aos olhos dos homens, aparecerá em glória. Todo olho O verá. Tão certo quanto Ele foi pendurado na cruz e está agora sentado no trono, deverá aparecer em glória. Leitor, vendo as coisas como são, estará você entre aqueles que esperam por Ele? Esta é uma questão solene. Há aqueles que O buscam e há aqueles que não. É certo que será aos primeiros que Ele aparecerá para salvação. Ele virá e receberá os que Lhe pertencem, para que onde Ele estiver, eles estejam também (Jo 14). Estas são Suas próprias e amáveis palavras, faladas no momento de Sua partida, para o conforto e alívio de Seus entristecidos discípulos. Ele sabia que estavam atribulados com a ideia da Sua partida, e procurou confortá-los pela certeza de Sua volta. Ele não diz: Não deixem que seus corações fiquem atribulados, pois vocês logo Me seguirão. Não; o que Ele diz é: Eu voltarei. É esta a esperança apropriada do cristão. Cristo está voltando. Estamos prontos? Estamos esperando por Ele? Sentimos a Sua falta? Lamentamos a Sua ausência? É impossível estarmos na verdadeira atitude de esperar por Ele se não sentimos a Sua ausência. Ele está voltando. Ele poderá vir esta noite. Antes mesmo que o Sol se levante, a voz o arcanjo e o som das trombetas poderão ter sido ouvidos no ar. E então? Ora, então os santos que dormem – todos os que partiram na fé de Cristo – todos os redimidos do Senhor cujas cinzas repousam nos cemitérios e sepulcros ao nosso redor ou nas profundezas dos mares – todos esses irão ressuscitar. Os santos que estiverem vivos serão transformados em um momento, e todos subirão para encontrar o Senhor nos ares (1 Co 15:51-54; 1Ts 4:13-18; 5:1-11). Mas o que será do inconverso – do incrédulo – daquele que não se arrependeu – do que não estava preparado? O que será de todos esses? Ah! Esta é uma questão terrivelmente solene. Faz com que o coração estremeça ao refletir sobre aqueles que continuam em seus pecados – aqueles que se fizeram surdos a todas as súplicas e avisos que Deus, em Sua suprema misericórdia, lhes enviou semana após semana, ano após ano – aqueles que se sentaram ao som do evangelho desde a mais tenra idade, e que se tornaram, como costumamos dizer, acostumados ao evangelho. Que horrível será a condição de todos esses quando o Senhor vier buscar os que Lhe pertencem! Serão deixados para trás; deixados para sucumbir ao profundo e turvo engano que Deus irá, com toda a certeza, lançar sobre todos os que ouviram e rejeitaram o evangelho. E então? O que se seguirá a esse profundo e turvo engano? A mais profunda e negra maldição no lago que queima com fogo e enxofre. Oh! Será que não deveríamos tocar o alarme aos ouvidos de nossos próximos que ainda estão no pecado? Não deveríamos cuidadosa e solenemente avisá-los para que fujam da ira vindoura? Não deveríamos buscá-los pela palavra e pela ação – pelo duplo testemunho dos lábios e da vida – colocando diante deles o grave fato de que o Senhor está ao alcance da mão? Possamos nós sentir isto mais profundamente, e então exibir isto com maior fidelidade. Há um imenso poder moral na verdade da vinda do Senhor, se ela estiver realmente arraigada no coração e não apenas na cabeça. Se os cristãos tão somente vivessem na habitual expectativa do advento, isso iria testemunhar extraordinariamente aos inconversos ao redor. Que o Espírito Santo possa reviver no coração de todo o povo de Deus a bendita esperança do retorno do Senhor, para que possam ser como homens que esperam pelo seu Senhor, para que, quando vier e bater à porta, possam abri-la, para Ele, imediatamente.
