Origem: Livro: A EPÍSTOLA DE PAULO AOS ROMANOS

As Três Grandes Esferas da Raça Humana Estão Sob a Sentença do Julgamento Divino

O capítulo 1:18 figura como um título para essa subdivisão em relação à injustiça do homem. Ele menciona três aspectos da depravação do homem, que se correlacionam com as três esferas de toda a raça humana em que Paulo está prestes a dividir a humanidade. Ele mostra que a ira de Deus é contra:

  • “Toda a impiedade” – É uma referência aos pagãos moralmente degradados – isto é, o mundo pagão. Isso será retomado no capítulo 1:19-32.
  • “A injustiça dos homens” – Esta é uma referência ao grego civilizado – isto é, o mundo educado e culto. Isso será retomado no capítulo 2:1-16.
  • Aqueles “que detêm a verdade em injustiça” – Esta é uma referência ao judeu iluminado. Isso será retomado nos capítulos 2:17-3:8.

Assim, Paulo divide a raça humana em categorias principais que correspondem ao grau de luz que cada um recebeu de Deus. Ao fazê-lo, responde indiretamente à frequente pergunta: “E aqueles que nunca ouviram – eles perecerão em uma eternidade perdida?” A resposta é que não existe essa classe de pessoas no mundo que nunca ouviu falar. Todos tiveram alguma luz (testemunho) de Deus, independentemente de quando ou onde viveram na Terra. Portanto, todos os homens devem saber que existe um Deus e que são responsáveis para com Ele. Portanto, todos são “inescusáveis”. É verdade que nem todos tiveram o privilégio de ouvir “o evangelho da graça de Deus” que apresenta a Cristo, o Salvador e Sua obra expiatória na cruz (At 20:24), mas todos tiveram algum testemunho de Deus, e isso os tornam responsáveis perante Ele (cap. 14:12).

Como mencionado, as pessoas nestas três grandes esferas da raça humana têm graus variados de luz e, portanto, variados graus de responsabilidade. Ele mostra que:

  • Os “pagãos” têm o testemunho da criação (cap. 1:20).
  • O “grego” tem o testemunho da criação e o testemunho de uma consciência iluminada (cap. 2:15).
  • O “judeu” tem o testemunho da criação, o testemunho de consciência e o testemunho dos oráculos de Deus – as Escrituras do Velho Testamento (cap. 3:2).

(Não queremos dizer que os pagãos degradados estão sem consciência, mas porque vivem em tal escuridão moral e espiritual, suas consciências não funcionam em grau significativo. A função da consciência de um homem é semelhante à função de seus olhos – ambos precisam de luz. Uma pessoa pode ter visão 100%, mas se ela entrar em um lugar onde não há luz, seus olhos não funcionarão. Da mesma forma, uma vez que os pagãos degradados vivem em trevas morais e espirituais, suas consciências não funcionam corretamente.)

Nos capítulos seguintes, Paulo empilha prova sobre prova, evidência sobre evidência e Escritura sobre Escritura para demonstrar o fato solene de que tanto por natureza como por prática toda a raça humana está totalmente arruinada e depravada e, consequentemente, sob a sentença do justo juízo de Deus. Se os homens não responderem aos vários testemunhos que Deus deu de Si mesmo – seja na criação ou na plena luz do evangelho de Cristo – serão julgados de acordo com o grau de luz que tiveram. Mesmo dentro de cada uma dessas três grandes esferas, os homens tiveram diferentes graus de luz. Por exemplo, alguém que leu muito da Palavra de Deus (as Sagradas Escrituras), mas a rejeitou, é mais responsável do que alguém que leu apenas uma quantidade limitada da Palavra, mas também a rejeitou. Da mesma forma, alguém na profissão Cristã que ouviu o evangelho muitas vezes, mas o rejeitou, é certamente mais responsável do que alguém que o ouviu e rejeitou apenas algumas vezes (Lc 12:47-48). Este princípio é encontrado em toda a Escritura e mostra que Deus é justo.

OS GENTIOS NÃO CIVILIZADOS – Cap. 1:19-32 

Os Pagãos Estão Sob a Sentença do Julgamento Divino

Como Deus não julga injustamente, Paulo prossegue dando a razão pela qual os pagãos (o mundo pagão) estão sob a sentença do julgamento divino. Simplificando, eles ignoraram a revelação de Deus na criação.

Cap. 1:19-20 – O mundo pagão está sob juízo “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder, como a Sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis”. O contexto aqui mostra que Paulo está se referindo àqueles que não são alcançados pelo evangelho de Cristo e, portanto, nada sabem sobre a obra consumada de Cristo na cruz. Deus seria injusto em responsabilizar essas pessoas por não crerem no evangelho de Sua graça quando elas nunca o ouviram! Eles estão sob juízo por uma razão diferente – eles ignoraram a revelação que Deus lhes deu de Si mesmo na criação.

O uso de Paulo da palavra “mundo” no versículo 20 é “cosmos” no grego. Literalmente significa “ordem”. Isso indica que a criação tem um desenho ordenado (que vemos por toda parte) e, portanto, atesta a existência de um Desenhista ordenado. Como a criação prova a existência de um Criador, Deus revelou-Se claramente aos homens. O Salmo 19:1 declara: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos; Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria à outra noite”. Isto mostra que a criação tem uma voz; ela está nos falando da glória de Deus. Ao olhar para a criação (não apenas os céus, mas também a Terra), todo homem e mulher honestos saberão que Deus existe. É uma revelação limitada de Deus; no entanto, é o suficiente para fazer os homens responsáveis para com Ele “com Quem temos de tratar” (Hb 4:13). Há três coisas principais que a criação nos ensina sobre Deus:

  • Ele é todo-poderoso (Rm 1:20 – “Seu eterno poder, como a Sua divindade”). Olhando para o universo, toda pessoa sóbria concluirá que somente Alguém com enorme poder poderia trazer à existência algo tão vasto.
  • Ele é infinitamente sábio e inteligente (Sl 147:4-5 – “Seu entendimento é infinito”). Olhando para o universo, toda pessoa sóbria concluirá que apenas alguém com conhecimento surpreendente poderia projetar algo tão intrincado e fazê-lo funcionar tão perfeitamente.
  • Ele é bom (At 14:17 – “E, contudo, não Se deixou a Si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria os vossos corações”). Olhando para o cuidado que Deus tem para com Suas criaturas, podemos concluir corretamente que Ele é um bom Deus. (Ocasionalmente Ele permite que catástrofes naturais, fomes, doenças, etc., ocorram em lugares específicos por razões específicas, mas no quadro geral, tal não é a atividade normal de Deus para com Suas criaturas).

A criação, no entanto, não nos diz que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito” (Jo 3:16), o que somente é conhecido pelo evangelho da graça de Deus. Mas há na criação revelação de Deus o suficiente para fazer com que os homens O temam e se afastem das injustiças deles. Pedro afirma esse fato em Atos 10:35. Falando dos gentios não evangelizados, ele disse: “Mas que Lhe é agradável [aceito – TB] aquele que, em qualquer nação, o teme e obra o que é justo”. Assim, os homens podem e serão livrados do juízo eterno de seus pecados, se em fé eles simplesmente temerem a Deus e praticarem a justiça. Todos esses estarão seguros entre os redimidos no céu, mesmo que não tenham ouvido falar da obra consumada de Cristo na cruz. Isso não quer dizer que as pessoas possam chegar ao céu fazendo boas obras, mas que, se uma pessoa tiver verdadeira fé, sua fé se evidenciará em obras. Esses crentes não seriam parte da Igreja de Deus, que é uma companhia especial de pessoas abençoadas que creram no evangelho e foram seladas com o Espírito Santo e, portanto, fazem parte do corpo e da noiva de Cristo. Mas todos os que creem pelo simples testemunho da criação são parte da vasta “família” de Deus (Ef 3:15). Eles têm um lugar em sendo amigos do Noivo (Jo 3:29 – JND).

A Divindade refere-Se ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. A revelação limitada de Deus na criação não revela as três Pessoas na Divindade; tal requereria a vinda do Filho de Deus ao mundo para tornar conhecida esta verdade (Jo 1:18).

O argumento de Paulo aqui, no entanto, é que os pagãos não responderam em fé a essa revelação de Deus, e estão, portanto, sob a sentença de juízo. Eles são “inescusáveis” porque tiveram o testemunho da criação.

As Consequências de Ignorar-se a Revelação de Deus na Criação 

Paulo prossegue mostrando que há sérias consequências morais e espirituais que resultam quando os homens ignoram intencionalmente a revelação que Deus deu de Si mesmo na criação. Ele menciona três coisas devastadoras que surgem entre os homens que deram as costas a Deus. Essas coisas explicam como os pagãos ingressaram em sua condição depravada.

1) O HOMEM SE VOLTA À IDOLATRIA (cap. 1:21-23) 

Como o coração humano não pode existir em um estado de vácuo (ele deve ter um objeto), Paulo mostra que, historicamente, quando os homens deram as costas à revelação de Deus na criação, eles se voltaram para ídolos (falsos deuses) para preencher o vazio. Paulo diz: “Porquanto, tendo conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato [sem entendimento] se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis”.

O homem começou com certo grau de conhecimento de Deus e certo grau de proximidade com Deus, mas deu as costas a isso e uma decadência se iniciou afastando-o de Deus, moral e espiritualmente. “Conhecido” (v. 21) é traduzido de “ginosko” no grego; refere-se ao conhecimento exterior e objetivo.[4] (Não é “oida” – a outra palavra usada no Novo Testamento traduzida como “conhecer” – que é um conhecimento interior consciente adquirido por ter experiência pessoal com a coisa em questão). Portanto, o conhecimento que esses pagãos tinham de Deus era uma coisa apenas superficial. E, porque não foi misturado com fé, eles abriram mão do que conheciam de Deus, e a decadência em relação a Ele começou.
[4] N. do T: Nota de Rodapé “a” em 1 Coríntios 8:1da tradução de JND: “Duas palavras gregas são usadas para “conhecer” no Novo Testamento – ‘ginosko’ e ‘oida’. Ginosko significa conhecimento objetivo, aquilo que um homem aprendeu ou adquiriu. A expressão “estar familiarizado com” talvez transmita o significado. Oida transmite o pensamento daquilo que é interior, a consciência interior da mente, conhecimento intuitivo não diretamente derivado do que é externo.

Os homens gostam de pensar que a raça humana evoluiu de formas inferiores de vida, mas Paulo mostra aqui que o homem não evoluiu, mas, ao contrário, regrediu – pelo menos moral e espiritualmente. O homem não começou em um estado depravado; isto foi o resultado de um processo. Os pagãos entraram em sua condição atual, longe de Deus, porque suas vontades prevaleciam. Eles não queriam ver a verdade (sobre Deus) e, consequentemente, perderam a capacidade de enxergá-la. Isso nos ensina que não podemos virar as costas a Deus e à luz que Ele nos deu, sem sérias consequências – a mente fica obscurecida e começa a decadência em direção à ignorância que resulta em idolatria.

O apóstolo traça a progressão da decadência em que os pagãos ingressaram ao abandonarem Deus.

  • Eles se recusaram a honrar a Deus como Deus – “não O glorificaram como Deus” (v. 21).
  • Eles foram ingratos à bondade de Deus – “nem Lhe deram graças” (v. 21).
  • Eles começaram a especular sobre Deus – “antes em seus discursos se desvaneceram” (v. 21).
  • Eles perderam o pouco conhecimento que tinham de Deus – “seu coração insensato [sem entendimento] se obscureceu” (v. 21).
  • Eles se exaltaram em orgulho – “dizendo-se sábios” (v. 22).
  • Eles se tornaram insensíveis – “tornaram-se loucos” (v. 22).
  • Eles se voltaram para os ídolos – “mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem…” (v. 23).

Mesmo depois que o mundo pagão se voltou aos ídolos, o declínio continuou. Em seu estado confuso, seus pensamentos sobre Deus continuamente diminuíram. Primeiro, eles O adoraram como um “homem”, depois como “aves”, depois como “quadrúpedes” e, por fim, como “répteis”. O Salmo 115:4-8 diz que uma pessoa que adora ídolos mudos se torna tão sem sentido quanto seus ídolos; ela perde sua sensibilidade moral e espiritual. Isso é exatamente o que aconteceu com o mundo pagão. Assim, eles se tornaram “separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração” (Ef 4:18). A gravidade do pecado da idolatria é que, na realidade ele consiste em adorar aos demônios (Lv 17:7; Sl 106:37; 1 Co 10:20).

Não há registro na Escritura de idolatria sendo praticada antes do dilúvio. A primeira menção dela está registrada em Jó 31:26-27, onde ele diz que não adoraria o Sol nem a Lua, como outros homens estavam fazendo. Josué 24:2 refere-se aproximadamente a esse mesmo tempo. Menciona que Terá adorava outros deuses nos dias anteriores à chamada de Abraão. A primeira menção de ídolos reais nas Escrituras é quando Raquel roubou as imagens de seu pai (Gn 31:30-35).

2) O HOMEM SE VOLTA PARA A IMORALIDADE (cap. 1:24-27) 

Em um ato de julgamento governamental, como uma consequência direta de se afastar do conhecimento de Deus na criação, “também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre siPorque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza…”. Isso se refere ao pecado da homossexualidade. Deixar o homem ir a tal degradação foi a resposta de Deus ao abandono voluntário do homem do conhecimento de Deus. Ele deixou suas naturezas caídas pecaminosas terem controle sobre eles, e os mesmos se degradaram.

Isso mostra que se as pessoas tentarem transformar a verdade de Deus em mentira, e adorarem e servirem “mais a criatura do que o Criador” (isto é, a idolatria), toda a ordem da natureza é violada, e resulta em queda moral. Ensina-nos que, além do temor de Deus, não há nada que possa conter os maus desejos do coração humano. Em geral, quando os homens dão as costas à luz que receberam de Deus, sua moral degenera. Isto é o que aconteceu com o mundo pagão, e explica como entraram em seu estado desprezível.

Nestes versículos, Paulo menciona que Deus “os abandonou” de três maneiras:

  • Em seus “corpos” (v. 24, 27; 1 Co 6:18).
  • Em suas “paixões” – suas almas (v. 26).
  • Na sua “mente” (v. 28 – KJV).

Assim, o homem – um ser tripartido – foi entregue para corromper seu corpo, sua alma e seu espírito. Deus o deixou provar do fruto de seus pecados que trouxe sobre si mesmo – “recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro” (v. 27).

3) O HOMEM SE VOLTA À VIOLÊNCIA E À INJUSTIÇA SOCIAL (cap. 1:28-32) 

Uma terceira consequência dos homens dando as costas ao conhecimento de Deus na criação é que começaram a cometer todos os tipos de pecados antissociais contra seus semelhantes – violência e injustiça, etc. Paulo continua a dar uma lista definitiva de mais de 20 desses pecados. (“Fornicação” está nesta lista na KJV, mas não está no texto grego porque a série anterior de versículos já abordou isso. Estes versículos estão tratando de pecados antissociais – por exemplo, malícia, raiva, violência, engano, etc.). O comportamento em que o mundo pagão se degenerou mostra que a justiça prática não será encontrada entre os homens que não “se importaram de ter conhecimento de Deus”.

Os Pagãos Abandonaram Deus de Três Maneiras 

  • Em sua teologia (pecado contra Deus) – idolatria (vs. 21-23).
  • Em sua moralidade (pecado contra seus próprios corpos) – homossexualidade (vs. 24-27).
  • Em sua vida social (pecado contra seus semelhantes) – violência e corrupção (vs. 28-32).

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Assim, no capítulo 1, o apóstolo mostrou conclusivamente que os pagãos são culpados e precisam ser salvos da pena de seus pecados. A beleza da mensagem do evangelho – a qual veremos – é que, embora os pagãos tenham se colocado em uma condição aparentemente sem esperança, não estão além do alcance da graça de Deus. “Deus os entregou” para fazerem aquelas coisas vis, como um julgamento governamental (que tem a ver apenas com o tempo), mas Ele não desistiu deles no que diz respeito à eternidade – eles ainda podem ser salvos. Paulo passa a mostrar (nos capítulos 3:21 a 5:11) que Deus ama todos os pecadores e que Ele pode e salva pessoas dessa classe de homens. Alguns dos Coríntios foram uma vez desse caráter, e Deus em graça os salvou (1 Co 6:9-11). Mesmo que o evangelho não os tenha alcançado em suas vidas, os pagãos receberam um testemunho suficiente de Deus na criação para fazer com que qualquer um que tenha fé se desvie de seus pecados e tema “a Deus” e faça “o que é justo” – e assim Lhe seriam “agradáveis [aceitos – TB]e salvos do eterno juízo (At 10:34-35).

OS GENTIOS CULTOS – Cap. 2:1-16 

Os Gentios Civilizados Estão Sob a Sentença do Julgamento Divino

Tomando uma visão em corte transversal dos gentios, podemos ver que nem todos eles são incivilizados, como descritos no capítulo 1. Uma grande parte do mundo gentio é bastante civilizada, educada e de aparência moralmente correta. Para que nenhum destes pense que estão isentos de julgamento, porque aparentemente parecem melhores do que os do capítulo 1, Paulo convoca essa classe de homens para o tribunal de Deus. Agora é a vez de eles serem examinados sob os olhos de Deus que tudo vê.

Cap. 2:1-16 – Essa classe civilizada de pessoas olha com indignação e repúdio à obscenidade do ignorante mundo pagão e aparentemente se distancia dele. Entretanto, suas vidas privadas (e maneira de pensar) não são realmente mais santas ou mais limpas do que as de quem condenam. Paulo, portanto, repreende esses gentios por acharem que são melhores do que os gentios degradados do capítulo 1. Ele diz: “Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo” (v. 1). Essas pessoas estavam fazendo as mesmas coisas que as do capítulo 1, mas em um contexto de refinamento e respeitabilidade externa! Mostra-nos que educação e cultura não preservam a pessoa dos deleites da carne. Reconhecer o mal e julgá-lo nos outros não dá à pessoa o poder de superar o mal em sua própria vida.

O fato de essas pessoas serem capazes de julgar os pagãos no capítulo 1 mostra que sabem a diferença entre certo e errado. Isso significa que suas consciências (que dá à pessoa o conhecimento do bem e do mal – Gn 3:5) estão funcionando. Assim, Paulo mostra que esta classe de homens é realmente mais culpada do que os pagãos do capítulo 1, porque eles não apenas têm o testemunho da criação, mas também o testemunho de “sua consciência” (v. 15). Eles são mais responsáveis porque tiveram mais luz e, portanto, correm risco de maior juízo se não responderem em fé a esses testemunhos.

A grande consequência desses testemunhos de Deus (criação e consciência) serem ignorados é que o homem não apenas faz as coisas mencionadas no capítulo 1, mas também se torna crítico e hipócrita. Ele pode criticar os outros por fazerem coisas más, sem levar em consideração que ele mesmo tem feito “as mesmas coisas” (vs. 1 e 3).

É importante ver nesses capítulos que Paulo não está dividindo o mundo gentio de acordo com os tipos de pecados que os homens cometem, porque ambos os grupos de gentios cometem os mesmos pecados. De fato, alguns dos judeus (a próxima classe de homens que Paulo considera) também estavam fazendo essas coisas (1 Rs 14:24, 15:12, 22:46). Antes, Paulo está dividindo a humanidade de acordo com o grau de luz que os homens receberam. Os pecadores do capítulo 2 cometem os mesmos pecados que os pecadores no capítulo 1 – a única diferença é que eles os fazem de maneira aparentemente civilizada. Aqueles no capítulo 1, por outro lado, fazem essas coisas em franca vergonha e muitas vezes misturadas com as superstições ignorantes da idolatria. (Assim, não colocaríamos a comunidade homossexual da América no capítulo 1, mas no capítulo 2. Essas pessoas vivem no contexto de terem sido educadas e civilizadas, e são bem capazes de externamente se comportarem em sociedade de maneira aparentemente correta). É também importante entender que Paulo não está dizendo que cada pessoa nessas categorias comete todos os pecados que menciona; ele está falando do que caracteriza essas classes de pessoas em geral. Mesmo dentro dessas classes, algumas têm mais luz do que outras.

Sete Fatos Sobre o Julgamento de Deus 

Uma vez que esses gentios hipócritas (farisaicos) e civilizados têm ideias erradas sobre justiça e juízo, Paulo prossegue explicando alguns dos grandes princípios do julgamento de Deus.

V. 2a – Primeiramente, o juízo de Deus é “segundo a verdade”. Isto é, o padrão no qual Deus mede o mal e encontra o juízo correspondente é de acordo com a verdade do que Ele é em Seu santo Ser. Os homens medem o mal pelos padrões que estabelecem (que estão em constante declínio), mas Deus mede o mal pela santidade de Sua natureza.

V. 3 – Em segundo lugar, ninguém escapa ao julgamento de Deus. Paulo diz: “E tu, ó homem… cuidas que… escaparás ao juízo de Deus?” A não ser que uma pessoa se volte para Deus em arrependimento, não há como escapar do juízo. A justiça divina exige que todo o pecado seja tratado com “a justa retribuição” (Hb 2:2), porque “justiça e juízo” são a base de Seu trono (Sl 89:14).

V. 4 – Em terceiro lugar, o julgamento de Deus é retardado para dar tempo aos homens de se arrependerem. Deus age em “paciência e longanimidade” em conexão com o exercício do Seu julgamento, e isso prova que Ele ama os pecadores e deseja que Sua “benignidade” os leve ao “arrependimento”. O apóstolo Pedro confirma isso, declarando que Deus “não quer que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (2 Pe 3:9). O retardamento do julgamento não deve ser considerado como um sinal de que Deus é indiferente ao mal, mas sim como sinal de Sua longânime paciência.

O arrependimento literalmente significa repensar a respeito de uma conduta errada que estávamos tendo, e por ter feito nosso julgamento sobre isso. Assim, o arrependimento em um pecador é a mudança de mentalidade sobre o curso de pecado e exercício de julgamento pessoal sobre ele. A realidade do arrependimento de uma pessoa será vista em uma mudança de comportamento em sua vida. Isso é chamado de “frutos dignos de arrependimento” (Mt 3:8).

Cap. 2:5-10a – Em quarto lugar, o julgamento de Deus é entesourado (acumulado) para todo incrédulo não arrependido “segundo as suas obras”. Isso nos mostra que Deus não trata indiscriminadamente em julgamento; é de acordo com coisas específicas que cada pessoa fez. O ponto aqui é que o juízo será adequado ao crime. Os pecadores perdidos não sofrerão pena por coisas que não fizeram; o juízo será aplicado “segundo as suas obras” (Ap 20:12).

Nos versículos 7-10, Paulo coloca diante de nós dois estilos de vida e seus respectivos destinos entre as pessoas não evangelizadas do mundo. Um estilo de vida, que é vivido com a simples fé de Deus, leva à “vida eterna”; o outro estilo de vida, vivido sem fé, termina em “indignação e a ira, tribulação e angústia”. Visto que a fé se evidencia nas obras (Tg 2:17-18), Paulo mostra que os feitos de um homem evidenciarão se ele tem fé ou não. Mesmo que ele não tenha sido alcançado com o evangelho da graça de Deus, ele manifestará sua fé pela “perseverança em fazer bem”. Se os tais “buscam – TB (ou vivem para) “glória, e honra e incorrupção”, a eles será concedida “vida eterna”. O aspecto da vida eterna aqui é o que o crente terá quando alcançar o céu no estado glorificado. Como regra, o apóstolo Paulo fala da “vida eterna” como algo que o crente vai obter no final de sua senda (Rm 2:7, 5:21, 6:23; 1Tm 6:12, 19; Tt 1:2, 3:7). O apóstolo João, por outro lado, fala da “vida eterna”, que é a presente possessão de vida no Filho de Deus (1 Jo 5:11-13), a qual é manifestamente uma bênção Cristã. É um caráter especial da vida divina, que os Cristãos têm pela fé (Jo 3:15-16, 36) pela habitação do Espírito (Jo 4:14), pela qual desfrutam da comunhão com o Pai e o Filho (Jo 17:3).

Ao mencionar “perseverança”, Paulo está indicando que essas “boas obras” não é algo ocasional (o que até mesmo um incrédulo pode fazer), mas o caráter geral de suas vidas, como evidência de sua fé. Paulo não está ensinando que uma pessoa pode chegar ao céu fazendo boas obras; seria contrário a todo o teor de seus ensinamentos (ver Rm 4:4-5; Ef 2:8-9; Tt 3:5). Essas não são obras que um pecador pode tentar fazer para ser aceito por Deus, mas obras que uma pessoa que tem fé faz, porque nasceu de novo, e isso evidencia que tem fé. Nota: Paulo não diz que essas pessoas (que têm fé) esperam por uma vida junto com o Senhor Jesus Cristo no céu por terem crido que Ele morreu por eles na cruz, pois está considerando aqui aqueles que não são alcançados pelo evangelho da graça de Deus. Todos esses não conhecem as boas-novas a respeito de Cristo, mas o fim deles será a vida eterna (v. 7).

Ele diz que aqueles entre os gentios não evangelizados, que são “contenciosos” e “desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade” terão “indignação e ira, tribulação e angústia” executadas por Deus sobre eles em seu final. Isso, ele diz, será a porção de “toda a alma do homem que obra o mal” e não se arrepende. Novamente, a “verdade” a qual Paulo está se referindo aqui (que essas pessoas rejeitam) não é a verdade do evangelho da graça de Deus, mas a verdade sobre Deus como revelada na criação e nas consciências dos homens. Vemos disto que há evidências suficientes no testemunho da criação e no testemunho da consciência do homem para condenar justamente os homens a uma eternidade perdida, se rejeitarem essa verdade.

Cap. 2:10b-11 – Em quinto lugar, o julgamento de Deus é sem parcialidade. Paulo diz: “Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas” (v. 11). Quer a pessoa seja um “judeu” ou um “gentio [grego], o juízo recairá sobre todos os que fazem o mal. O judeu não vai escapar porque é uma pessoa privilegiada (Dt 7:6-7, 14:2), nem o gentio será capaz de alegar que é uma pessoa pobre e ignorante que não tinha conhecimento, e que, portanto, deveria ser desculpada. Essas coisas não influenciarão a Deus em Seu justo julgamento dos pecadores.

Cap. 2:12-15 – Em sexto lugar, o julgamento de Deus será de acordo com a medida de luz que uma pessoa recebeu. Paulo disse: “Porque todos os que sem pecaram sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram pela lei serão julgados”. Obviamente que aqueles que tiveram a Lei de Deus (as Escrituras do Velho Testamento) tiveram mais luz do que aqueles que nunca leram ou ouviram a Palavra de Deus. Essa diferença será levada em consideração no dia do julgamento, e aqueles que tiveram a Lei serão julgados por seu padrão mais elevado. O Senhor disse: “E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites. Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado” (Lc 12:47-48). Assim, na linguagem mais clara, o Senhor ensinou que o juízo dos pecadores será graduado de acordo com o grau de culpa de cada pessoa.

Então, em um parêntese nos versículos 13-15 (KJV e JND), Paulo explica que mesmo que os gentios não tenham tido a Lei, não significa que estão desculpados. Ele diz que quando os gentios “fazem naturalmente as coisas que são da Lei”, demonstram a obra da Lei escrita em seus corações. Esse testemunho interior, em certo sentido “para si mesmos são lei”. Não que a Lei de Moisés esteja escrita em seus corações, mas que “a obra da Lei” lá está, porque suas consciências lhes deram o conhecimento do bem e do mal. Uma pessoa, portanto, não precisa ter uma lei formal dizendo que é errado matar, roubar e cometer adultério, etc. para saber que essas coisas estão erradas. O Criador escreveu indelevelmente em seus corações como devem viver sendo seres responsáveis e morais, e suas consciências dão testemunho disso.

Assim, além de ter o testemunho da criação, todos esses gentios cultos também têm esse testemunho interior (suas consciências) trabalhando em seus “pensamentos”, capacitando-os a conhecer a retidão ou o erro de suas ações. Eles estavam “acusando e também defendendo um ao outro” (KJV), e isso provou que suas consciências lhes deram um padrão moral para julgar uns aos outros, como visto no versículo 1. Este fato provou que suas consciências estavam agindo, e os fez mais responsáveis que os pagãos do capítulo 1, cujas consciências não agiam no mesmo grau.

Cap. 2:16 – Em sétimo lugar, o Juiz não é outro senão o Senhor Jesus Cristo. Paulo disse: “Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo”. O próprio Senhor disse: “O Pai a ninguém julga, mas tem dado todo o julgamento ao Filho” (Jo 5:22). Paulo também afirma que há um “dia” (um tempo) vindouro, quando todos os pecadores perdidos serão julgados por seus pecados. O julgamento não será somente para pecados públicos; “os segredos dos homens” também serão julgados de acordo com a justiça divina. Isto acontecerá no Grande Trono Branco no final do tempo (Ap 20:11-15).

Um Resumo dos Fatos Relativos ao Julgamento de Deus 

  • É de acordo com a verdade (v. 2).
  • Ninguém escapa (v. 3).
  • É adiado a fim de dar aos pecadores a oportunidade de se arrependerem (v. 4).
  • É acumulado de acordo com os atos praticados pelos pecadores (vs. 5-10).
  • É sem parcialidade (v. 11).
  • Será aplicado de acordo com a medida de luz que uma pessoa teve (vs. 12-15).
  • O Juiz é o Senhor Jesus Cristo (v. 16).

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Assim, no capítulo 2:1-16, o apóstolo mostrou conclusivamente que os gentios cultos neste mundo (o grego) estão tão perdidos quanto os gentios incivilizados (os pagãos). Ambos estão precisando da salvação de Deus.

OS JUDEUS ILUMINADOS – Cap. 2:17–3:8 

O Homem Religioso Favorecido com a Palavra de Deus Está Sob a Sentença do Juízo Divino 

Paulo prossegue e diz: “Eis que tu que tens por sobrenome judeu. Ao se voltar para falar aos judeus, fica claro que ele passou para a terceira classe de homens na raça humana. Agora é a vez dos judeus iluminados serem intimados para comparecerem ao tribunal de Deus. Até agora, no indiciamento de Paulo, os judeus teriam concordado com tudo o que ele disse sobre os gentios que mereciam estar sob a sentença do juízo de Deus. Mas agora, nessa passagem, Paulo prossegue mostrando que os judeus não deveriam pensar que estavam isentos de alguma forma. Eles também são culpados e estão sob a sentença do juízo divino porque além de terem o testemunho da criação e o testemunho de suas consciências, também têm o testemunho “da Lei” de Deus – as Escrituras do Velho Testamento.

Por terem recebido privilégios especiais de Deus, os judeus têm uma falsa sensação de segurança em relação ao julgamento. Essa falsa segurança é baseada em um mal-entendido de três coisas:

  • Eles eram descendentes de Abraão (Jo 8:33).
  • Eles eram os guardiões da Lei (Rm 3:2).
  • Eles eram circuncidados (Gn 17:11).

Assim, os judeus confiavam em sua hereditariedade, em seu conhecimento e em uma ordenança. Eles achavam que essas coisas garantiam que não seriam condenados quando saíssem deste mundo. Nesta próxima série de versículos, Paulo retoma essas três coisas, uma de cada vez, e mostra que nem a “Lei”, nem a “circuncisão”, nem ser um “judeu” podem abrigar uma pessoa da pena de seus pecados. De fato, ele mostra que aqueles sinais exteriores do favor de Deus na verdade tornam os judeus mais responsáveis do que os gentios que foram menos privilegiados.

A Lei Não Pode Proteger um Judeu do Julgamento 

Cap. 2:17-24 – Os judeus “repousaram” no fato de que Deus lhes havia dado a Lei – as Escrituras do Velho Testamento. Eles viram isso como um sinal de que Deus os aprovou. Assim, criam que de todos os povos, eles estariam isentos do julgamento de Deus. Isto, no entanto, não é verdade; as próprias Escrituras sobre as quais eles descansaram ensinam que Deus julgará Seu povo (Sl 50:4, Sl 135:14; Am 3:2). Paulo prossegue mostrando que a luz que a Lei derrama sobre os homens não os protege do julgamento, mas sim expõe todos os que ficam aquém de seus padrões.

V. 18 – A responsabilidade dos judeus foi ampliada pelo fato de estarem familiarizados com as exigências declaradas na Palavra escrita de Deus. Conheciam a “vontade” de Deus e, portanto, eram capazes de “aprovar as coisas excelentes”. Eles podiam avaliar com precisão questões de diferenças sutis em relação à conduta moral porque eram “instruídos por Lei”. (“Sabes a Sua vontade” não poderia estar se referindo ao Mistério da Sua vontade em Efésios 1:9-10, porque isso não fora revelado no Velho Testamento (Rm 16:25; Ef 3:5, 9). É antes o conhecimento da Sua vontade em assuntos morais e práticos da vida).

Vs. 19-20 – Tendo e conhecendo a Lei, era a mente de Deus que os judeus fossem Seu instrumento para instruir os gentios nas coisas pertencentes ao reino de Deus. Paulo fala de quatro coisas nas quais os judeus se orgulhavam, como vaso especial de testemunho de Deus para o mundo. Eles eram:

  • Guia dos cegos”.
  • Luz dos que estão em trevas”.
  • Instruidor dos néscios”.
  • Mestre de crianças”.

Seu objetivo ao apresentar isso era mostrar que os judeus eram muito mais responsáveis que os gentios, pois aqueles que ensinam a Palavra de Deus devem praticar as coisas que ensinam.

Vs. 21-24 – Paulo então faz aos judeus uma série de perguntas retóricas[5] sobre se praticavam o que ensinavam. Ele responde suas próprias perguntas com o fato condenatório que não tinham praticado o que haviam professado ensinar, e assim provou que eram hipócritas. Ele diz: “Tu, que te glorias na Lei, desonras a Deus pela transgressão da Lei?”. Em vez de atrair pessoas para Deus, a hipocrisia deles tornara “o nome de Deus” “blasfemado entre os gentios”. Paulo cita Isaías 52:5 para apoiar esta acusação.
[5] N. do T.: Retórica é uma palavra com origem no termo grego rhetorike, que significa a arte de falar bem, de se comunicar de forma clara e conseguir transmitir ideias com convicção.

Paulo mostra que porque conheciam e ensinavam os requisitos de Deus na Lei, mas não os praticavam, eles eram muito mais culpados que as duas classes de gentios a quem já havia se dirigido. Tiago confirma isso; ele disse que todos os que assumem lugar de mestre estão em perigo do “mais duro juízo”, se falharem (Tg 3:1). Este foi definitivamente o caso com os judeus. Assim ter a Lei (v. 17), conhecer a Lei (v. 18) e ensinar a Lei (vs. 19-20) não salva o judeu – mas essas coisas o tornam extremamente responsável. Esse fato sustenta o que Paulo já estabeleceu no capítulo 2, referente ao julgamento de Deus – que o aumento da luz traz o aumento da responsabilidade.

A Circuncisão Não Vai Proteger um Judeu do Julgamento 

Cap. 2:25-29 – Paulo passa para a próxima circunstância que deu aos judeus uma falsa sensação de segurança – o rito da “circuncisão”. Os rabinos não ajudaram em nada a esse respeito; eles erroneamente ensinaram que nenhum homem circuncidado em Israel poderia estar eternamente perdido. Isto é simplesmente uma inverdade.

Deus instituiu a circuncisão como um sinal de Sua aliança com Abraão e seus descendentes (Gn 17:10-11). Os judeus entenderam que isso era uma garantia irrevogável da bênção de Deus para com eles (Gn 15:5, 17:10). Já que estavam em um relacionamento tão seguro com Deus, criam que era impossível que Deus os julgasse, porque Ele estaria voltando atrás na Sua Palavra se o fizesse. Como Deus poderia julgar aqueles a quem prometeu abençoar?

Nesses versículos, Paulo explica que a circuncisão não protegerá uma pessoa do julgamento, assim como confiar na Lei não o fará. Ele mostra que um judeu precisava ter mais do que o sinal exterior da circuncisão em seu corpo para ser um verdadeiro judeu a quem Deus aprovou. Ele diz: “Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra: cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus”. Os judeus tinham a circuncisão que era “exteriormente na carne”, mas eles também precisavam da circuncisão que é “do coração” o que envolvia ter fé, se era para o destino eterno deles estar seguro. A circuncisão é um sinal exterior prometendo bênção externa a Abraão e seus descendentes. Isto estava relacionado a bênçãos temporais, tais como: posse da Terra de Canaã, crescimento abundante de colheitas, boa saúde, proteção contra seus inimigos terrenos, etc. Essas coisas temporais têm a ver com a vida na Terra sob o favor de Deus; elas não têm nada a ver com o destino eterno de uma pessoa. Os judeus, no entanto, confiavam erroneamente no rito da circuncisão, que tem a ver com a bênção temporal, e imaginavam que ela lhes assegurava a bênção eterna.

Os judeus não estão sozinhos nesse mal-entendido. Muitos Cristãos professos igualmente confiam no batismo, na associação de membros da igreja, nos votos de confirmação, etc., mas essas coisas não asseguram sua bênção eterna.

Paulo se refere à circuncisão de três maneiras

  • Representa os judeus em nível nacional, em oposição aos gentios que são considerados como a incircuncisão (vs. 26-27; Gl 2:8-9).
  • Indica o verdadeiro rito em si – o literal procedimento cirúrgico realizado no corpo (v. 28; Gn 17:11).
  • Representa uma vida que é separada para Deus em fé da atividade da carne (v. 29; Fp 3:3).

O Ser um Descendente de Abraão Não Protegerá um Judeu do Julgamento 

Cap. 2:28-29 – Paulo se volta para a terceira circunstância na qual os judeus confiavam falsamente – que eram descendentes de Abraão. Levar o nome de “judeu” significa que a pessoa é um dos descendentes de Abraão, e todo descendente de Abraão estava por nascimento, exteriormente, em um relacionamento de aliança com Deus (Gn 17:7). Se tivessem fé ou não, não mudava esse fato.

Nestes dois últimos versículos do capítulo 2, Paulo mostra que ter a mesma linhagem sanguínea de Abraão não protegerá um judeu de julgamento. Crer que uma pessoa está isenta da pena de seus pecados porque ela é da semente de Abraão é, na verdade, uma falsa noção. Há abundante testemunho da falsidade disso nas Escrituras. Em Mateus 3:7-9, João Batista disse: “E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos [crianças[6]] a Abraão”. João usou a palavra “crianças” para assim distinguir aqueles descendentes de Abraão que verdadeiramente tinham fé, indicando que nem todos os seus descendentes eram crianças de Abraão. Seu argumento é que Deus faria com que Abraão tivesse crianças – alguns homens e mulheres da nação iriam crer.
[6] N. do T.: Há duas palavras distintas no grego,“uiós” e “teknon”, que são indistintamente traduzidas em nossas versões bíblicas para o português como “filhos”. Segundo o site wikidiff.com “Como substantivos, a diferença entre filho (uiós) e criança (teknon) é que o filho é um menino ou homem em relação aos seus pais; um descendente masculino, enquanto criança é um descendente, filho ou filha”.

O próprio Senhor ensinou a mesma coisa em João 8:37-39. Ele disse: “Bem sei que sois descendência [semente – KJV] de Abraão; contudo, procurais matar-Me, porque a Minha palavra não entra em vós. Eu falo do que vi junto de Meu Pai, e vós fazeis o que também vistes junto de vosso pai. Responderam, e disseram-Lhe: Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos [crianças – KJV] de Abraão, faríeis as obras de Abraão”. Aqui, o Senhor faz distinção entre “a semente de Abraão – KJV e “as crianças de Abraão – KJV. Sua “semente” eram seus descendentes naturais, e suas “crianças” eram seus descendentes espirituais, que não apenas têm seu sangue, mas também sua fé.

Paulo também ensina isso mais tarde nesta mesma epístola. Ele disse: “Porque nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem descendência [semente] de Abraão são todos filhos [crianças] (cap. 9:7-8).

Assim, ser um descendente natural de Abraão não significa que uma pessoa é automaticamente um filho espiritual de Abraão. Um verdadeiro judeu deve ser judeu tanto “interiormente” como “exteriormente”. Esse algo interior seria uma obra de fé “do coração”. De fato, Paulo mostra que o que é interior é infinitamente maior em importância do que o exterior, quando se trata dessas coisas vitais que têm a ver com o destino eterno de uma pessoa. Todas as vantagens dadas ao judeu não o protegerão do julgamento – esses privilégios só o tornam mais responsável. A séria conclusão de toda essa acusação contra a raça humana é que os judeus são, na verdade, os mais culpados dessas três classes de homens que Paulo examinou.

Cristãos Meramente Professos 

Com o evangelho propagado por quase 2.000 anos, há agora uma grande porção da população do mundo que é ainda mais responsável do que os judeus! Esses são meramente Cristãos professos. (Nós os distinguimos daqueles que são Cristãos professos sinceros – verdadeiros crentes.) Esses professam crer na Palavra de Deus, incluindo o Novo Testamento (não como os judeus que aceitam somente o Velho Testamento), e foram iluminados pela revelação superior da verdade Cristã, mas não têm veracidade interior. Se, ao final, provarem não ter fé, eles receberão o maior juízo de todos, porque tiveram um maior grau de luz, “E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá” (Lc 12:48).

Cristãos Não São Judeus Espirituais 

Esta passagem em Romanos 2 foi erroneamente tomada para dizer que os Cristãos são “judeus espirituais” porque teria havido uma obra interior de fé em suas almas. Essa ideia vem de se colocar esses versículos fora do contexto. É um exemplo clássico de não “dividir corretamente a Palavra da verdade” (2 Tm 2:15 – KJV). Entender a linha básica da epístola aos Romanos, com suas várias seções e subseções, corrigiria rapidamente esse equívoco. Isso mostraria que Paulo não está aqui falando dos Cristãos, mas dos judeus em seu ambiente natural como judeus na economia judaica. O evangelho e suas bênçãos, pelas quais uma pessoa se torna Cristã, nem sequer entra na discussão até que Paulo atinja o capítulo 3:21. Até esse ponto da epístola, ele está mostrando a necessidade de salvação do homem – tanto entre os gentios quanto entre os judeus.

As pessoas pensam que esta passagem está ensinando que todo Cristão é judeu, mas o que ela realmente está ensinando é que nem todo judeu é judeu! Como mencionado, um verdadeiro judeu na religião dos judeus deve ter uma obra interior de fé no coração. Romanos 2:28-29 não está falando de Cristãos.

Quatro Objeções Que os Judeus Naturalmente Fariam em Defesa Própria 

Chegamos agora àquela que talvez seja a passagem mais difícil de se entender de todos os escritos de Paulo – alguns dizem que é de toda a Bíblia!

Os judeus se opuseram veementemente ao ensino de Paulo de que eles estavam sob a sentença de juízo junto com o resto do mundo. Serem vistos como estando no mesmo nível que os gentios, lhes ofendia, no que diz respeito à necessidade de serem salvos. Em um esforço para provar que Paulo estava errado e desacreditar o evangelho que pregava, eles levantaram inúmeras objeções e críticas. Estando bem familiarizado com essas objeções, Paulo reitera quatro dos principais argumentos deles e as responde com sabedoria e lógica dadas pelo Espírito.

Cap. 3:1 – Depois de ler o que Paulo disse no capítulo anterior a respeito da falsa segurança dos judeus nas coisas religiosas, sua indagação natural seria: “Qual é logo a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão?” Em outras palavras, eles diriam: “Paulo, você está denegrindo os favores e privilégios que Deus nos concedeu, Seu povo escolhido. Certamente, se essas coisas foram dadas por Deus, elas devem ser certas e boas. E se elas são preciosas para Ele, não deveríamos tratá-las como se fossem inúteis”. Assim, eles acusavam Paulo de ensinar que os privilégios que Deus deu a Israel no judaísmo eram sem sentido. Ele foi acusado de desmerecer as coisas sagradas do judaísmo e para eles isso era semelhante à blasfêmia.

V. 2 – Paulo responde dizendo: “Muita, em toda a maneira, porque, primeiramente, as palavras de Deus lhe foram confiadas”. “Muita, em toda a maneira” significa que ele concordou que havia muitas vantagens em ser judeu – o mais importante, é que eles receberam “as palavras de Deus”. Esta é a voz profética de Deus nas Escrituras do Velho Testamento sobre a vinda de Cristo, o Messias. As palavras de Deus iluminaram os judeus em relação aos padrões morais de Deus, aos caminhos de Deus e às profecias referentes a Cristo. Mas essas coisas não seriam de vantagem para os judeus, a menos que fossem acompanhadas por uma obra interior de fé no coração. Esse era o problema deles; eles não haviam respondido em fé ao que as palavras de Deus haviam anunciado a respeito de Cristo. Assim, sua grande vantagem tornou-se naquilo que os condenou, porque, como nação, eles não receberam o Messias quando Ele veio.

V. 3 – Os judeus responderiam a isso com uma segunda objeção: “Pois quê? Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade aniquilará a fidelidade de Deus?” Eles sabiam que a nação não havia crido nas palavras de Deus em relação a Cristo e responderam dizendo: “Paulo, você está dizendo que a incredulidade dos judeus anula a fidelidade de Deus!”

V. 4 – Paulo responde dizendo: “De maneira nenhuma”. Essa é a primeira das dez ocorrências dessa frase na epístola[7]. Significa “certamente não”. Assim, Paulo concordou que a incredulidade dos judeus não poderia anular a fidelidade de Deus em relação as Suas promessas à nação. Ele então declara um princípio que todos devemos usar ao lidar com as Escrituras: “Sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso [falso – JND]. Isto é: sempre que nos depararmos com um enigma nos caminhos de Deus, e o caso se apresente quanto a se é o homem ou Deus que está errado, sigamos sempre o princípio de que Deus é verdadeiro (certo), e todo homem falso (errado). Tomar o caminho inverso seria encontrar falhas em Deus e acusá-Lo de injustiça – que é do que judeus estavam acusando Paulo.
[7] Rm 3:4, 6, 31, 6:2, 15, 7:7, 13, 9:14, 11:1, 11.

Paulo insistiu que Deus mantém a Sua Palavra e dá um exemplo em Davi. Ele o cita no Salmo 51:4: “Como está escrito: Para que sejas justificado em Tuas palavras, e venças quando fores julgado”. Davi desconsiderou as advertências na Palavra de Deus a respeito do juízo de Deus contra o pecado do adultério, e descobriu da maneira mais difícil que Deus mantém a Sua Palavra. Ele experimentou o julgamento (governamental) de Deus em relação ao seu pecado. Os pecados de Davi apenas confirmaram a veracidade da Palavra de Deus em conexão ao julgamento do pecado. Por isso, a incredulidade dos judeus não anulou as promessas de Deus – apenas desimpediu Deus de julgá-los por não terem crido.

V. 5 – Os judeus neste ponto distorceriam o que Paulo estava dizendo e o acusariam de minar a impecabilidade do caráter de Deus. Paulo sabia disso e declara sua terceira objeção: “E, se a nossa injustiça for causa da justiça de Deus, que diremos? Porventura será Deus injusto, trazendo ira sobre nós?” Em outras palavras, eles estavam dizendo: “Paulo, se você ensinar que Deus é glorificado pelos pecados dos judeus, então você está dizendo que o pecado glorifica a Deus! Dizer que Deus precisa dos nossos pecados para o louvor da Sua justiça é apresentar a Deus como tolerante ao pecado! Você está acusando Deus com injustiça!” Assim, os judeus o acusaram de desvirtuar o caráter de Deus. Para o caso de alguém ter pensado que Paulo realmente acreditava nessa ideia absurda, ele acrescenta em um parêntese: “Falo como homem”. Isto é, ele estava meramente apresentando o argumento pervertido deles.

V. 6 – Paulo responde a isso dizendo: “De maneira nenhuma: doutro modo, como julgará Deus o mundo?” Na verdade, ele estava dizendo: “Tal argumento é indigno de séria consideração, pois se fosse verdade, então Deus não teria base para julgar o mundo. Ele não poderia corretamente vingar o pecado e julgar os pecadores”. Isto não poderia ser verdade, porque as palavras de Deus claramente afirmam que Deus “julgará o mundo com justiça” por meio daqu’Ele a Quem a nação rejeitou (Sl 9:8, 96:13, 98:9, etc.).

V. 7 – Os judeus antagonistas continuariam forçando sua objeção anterior, acrescentando uma quarta objeção: “Mas, se pela minha mentira abundou mais a verdade de Deus para glória Sua, por que sou eu ainda julgado também como pecador?” Em outras palavras, eles disseram: “Se nossos pecados ajudam a glorificar a Deus, por que seríamos julgados por eles? Se o meu pecado vindica a verdade e glorifica a Deus, então como Deus pode encontrar falha em mim como pecador? Como Ele pode infligir juízo sobre nós por fazermos algo que resulta em Sua glória?”.

V. 8 – Paulo responde a essa objeção dizendo: “E por que não dizemos (como somos blasfemados, e como alguns dizem que dizemos): Façamos males, para que venham bens?” Ele diz: “Não, isso não poderia estar certo, porque se você levar esse argumento à sua conclusão lógica, ele conduz à falsa filosofia de que o fim justifica os meios”. Paulo interrompeu o fluxo do argumento para dizer, em outro parêntese, que é exatamente isso que as pessoas estavam dizendo que ele e seus cooperadores estavam pregando – mas era calúnia. Paulo conclui o argumento com uma resposta curta: “A condenação desses é justa”. Assim, ele conclui que qualquer um que defenda sua justificação nesta linha receberá seu justo juízo.

Assim, nos capítulos 2:17-3:8, Paulo mostrou que todos esses argumentos humanos são falsos e não isentam os judeus de suas responsabilidades diante de Deus, nem da sentença de juízo que está sobre eles. Seus argumentos não os livraram de suas responsabilidades. O judeu erudito, portanto, com todas as suas vantagens religiosas também está sob juízo, assim como os gentios, e todos eles precisam de um Salvador.

Um Resumo das Objeções dos Judeus 

  • Paulo atacou os privilégios de Deus no judaísmo.
  • Paulo menosprezou as promessas de Deus.
  • Paulo blasfemou o caráter de Deus.
  • Paulo contestou os caminhos de Deus.

Observando essas três esferas nas quais Paulo dividiu a raça humana, vemos que:

  • Ignorar o testemunho de Deus na criação torna os homens insensíveis (Eles vão adorar paus, pedras e répteis e se reduzir a coisas que são moralmente desprezíveis).
  • Ignorar o testemunho de Deus na consciência torna os homens críticos.
  • Ignorar o testemunho de Deus nas Escrituras, enquanto professa nelas crer, torna os homens hipócritas.

A CONCLUSÃO: Todo o Mundo é Culpado Diante de Deus 

Cap. 3:9-20 – Paulo agora chega a uma conclusão do acima exposto. Ele pergunta: “Pois quê? Somos nós(judeus) mais excelentes (que os gentios)?” Ele responde sua própria pergunta: “De maneira nenhuma” (v. 9a). Nesta declaração, ele reduz as três esferas da raça humana a um denominador comum – todos são pecadores. Deste ponto em diante em sua acusação, ele não vê mais a raça em três partes, mas a raça como um todo, e como tal a ela se dirige nos versículos 9-20.

A Acusação 

V. 9b – Paulo continua a usar as imagens de uma cena de tribunal e apresenta uma acusação formal contra toda a raça humana – “Todos estão debaixo do pecado”. Ele diz: “Nós antes já provamos…”, mas a palavra “provamos”(KJV) não é exatamente a tradução correta aqui. A palavra no grego significa “lançar acusação contra”, e deveria ser traduzida, “já temos antes acusado…”. “Antes” está se referindo à soma do que declarou nos primeiros dois capítulos da epístola. “Debaixo do pecado” não se refere apenas a estar sob a culpa do pecado, mas também sob o domínio do pecado e o justo juízo do pecado.

O Indiciamento 

Nos versículos 10-18, vemos o homem pecador no banco do Tribunal de Justiça divina sendo acusado por 14 denúncias.

  • “Não há um justo, nem um sequer” (v. 10). Isso mostra que o homem em seu estado natural não tem justiça própria.
  • “Não há ninguém que entenda” (v. 11a). Isso mostra que a mente do homem está danificada pelo pecado e agora é incapaz de apreender os assuntos divinos (1 Co 2:14).
  • “Não há ninguém que busque a Deus” (v. 11b). Isso mostra que a vontade do homem é má; ele não quer uma relação com Deus.
  • “Todos se extraviaram” (v. 12a). Isso mostra que o homem se desviou do caminho de Deus e está longe d’Ele.
  • “E juntamente se fizeram inúteis” (v. 12b). Isso mostra que os homens em seu estado decaído não podem ser usados para o propósito para o qual foram criados.
  • “Não há quem faça o bem, não há nem um só”(v. 12c). Isso está falando do curso geral da vida humana; não está falando de atos isolados de bondade que os homens possam fazer ocasionalmente.
  • “A sua garganta é um sepulcro aberto” (v. 13a). Esta declaração tem a ver com a má linguagem do homem; a corrupção e a contaminação saem da sua boca como o fedor que sai de uma sepultura aberta (sepulcro).
  • “Com as suas línguas tratam enganosamente” (v. 13b). Motivos corruptos estão por trás de muito do que dizem os homens.
  • “Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios” (v. 13c). As palavras do homem também podem ser vingativas.
  • “Cuja boca está cheia de maldição e amargura” (v. 14). As palavras do homem podem estar cheias de ódio.
  • “Os seus pés são ligeiros para derramar sangue” (v. 15). A tendência da vida humana tem sido em direção à violência – guerras e conflitos civis abundaram ao longo da história.
  • “Em seus caminhos há destruição e miséria” (v. 16). Muitos dos problemas e tristezas deste mundo vieram sobre os homens por causa de seus próprios maus caminhos.
  • “E não conheceram o caminho da paz” (v. 17). Como resultado do pecado do homem, o mundo nunca conheceu a paz real.
  • “Não há temor [respeito] de Deus diante de seus olhos” (v. 18). A raça humana como um todo vive sem referência a Deus e sem temor reverente a Ele.

Resumo Tríplice do Indiciamento 

  • Vs. 10-12 O que o homem é – depravado em caráter (seu caminho).
  • Vs. 13-14 O que o homem diz – depravado na conversação (suas palavras).
  • Vs. 15-18 O que o homem faz – depravado na conduta (suas obras).

Assim, Paulo não apenas colocou acusações diante de Deus contra toda a raça humana em relação à sua culpa, mas também provou – com 14 denúncias – que as acusações são verdadeiras! (Esses pontos sobre a depravação do homem são citações de sete escrituras do Velho Testamento – Sl 14:1-3, 5:9, 140:3, 50:19, 10:7; Is 59:7-8; Sl 36:1).

Cap. 3:19 – Paulo conclui dizendo: “Ora, nós sabemos que tudo o que a Lei diz aos que estão debaixo da Lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus”. Seu ponto aqui é que quando Deus deu a Lei a Israel, estava usando Israel como uma amostra de toda a raça humana. Quando a Lei provou que Israel estava em completo fracasso, Deus corretamente concluiu que todos (judeus e gentios) ficaram aquém de Seus santos padrões. Isso se baseia no uso de Paulo da expressão “para que”. As coisas que a Lei disse a Israel sobre o fracasso deles, implicaram o mundo inteiro como culpado. W. Macdonald ilustrou este ponto dizendo: “É o mesmo quando um inspetor de saúde pega um tubo de ensaio de água de um poço e testa a água e a encontra poluída; ele então declara o poço todo poluído”. Se a Lei provou que Israel ficou aquém, provou que toda a raça humana ficou aquém.

O Veredito 

Assim, seguindo as imagens do tribunal que Paulo tem usado, a oportunidade, por assim dizer, é dada para aqueles sob acusação, fazerem sua defesa. No entanto, a evidência é tão esmagadora contra toda a humanidade que “toda a boca” é “fechada” e todo o mundo permanece “condenável diante de Deus”.

Cap. 3:20 – Tendo sido provado como culpado, o acusado pode pensar que pode apelar da sentença com base em suas (supostas) boas obras por guardar a Lei. Mas Paulo contrapõe isso mostrando que não há chance de se apelar com base nisso, porque “nenhuma carne será justificada diante d’Ele pelas obras da Lei”. Jó também condena qualquer tentativa de justificação própria diante de Deus. Ele diz: “Se eu me justificar, a minha boca me condenará; se reto me disser, então me declarará perverso” (Jó 9:20).

Isso leva Paulo a fazer uma última observação sobre o propósito da Lei. Ele diz: “porque pela Lei vem o conhecimento do pecado”. Para esclarecer qualquer mal-entendido, ele afirma que a Lei não foi dada aos homens para que pudessem se justificar, mas para que tivessem “o conhecimento do pecado”. Quando a Lei é aplicada aos homens como o padrão santo de Deus, ela testemunha o fato de que todos os homens são pecadores totalmente arruinados. Da mesma forma, um carpinteiro usará um nível para estabelecer uma linha reta, a partir da qual irá construir um projeto. Ao estabelecer um plano nivelado, poderá determinar se os outros componentes com os quais está trabalhando são adequados, comparando-os com essa linha reta. Novamente, um espelho é útil para ver se nossos rostos estão sujos, mas não os pode lavar; não foi feito para esse propósito. Logo, a Lei foi dada para convencer os homens de seus pecados e ajudá-los a ver sua pecaminosidade mais claramente (cap. 5:20). Ela não pode e nunca pretendeu salvar homens do julgamento de seus pecados.

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