Origem: Livro: A Lei – O Relacionamento Apropriado do Cristão com a Lei
O Uso Correto e Adequado da Lei
Chegamos agora ao nosso segundo ponto: Estamos mortos para a lei. A lei em si não está morta – ela continua a expor e julgar o pecado.
Um versículo em Romanos sete, conforme dado na tradução King James, parece sugerir o contrário: “Mas agora estamos libertos da lei, estando mortos no que estávamos presos” (Rm 7:6 – KJV). Uma tradução muito mais clara é: “mas agora estamos desligados da lei, tendo sido mortos por aquilo em que fomos presos” (JND)[6]. A lei não está morta, nós estamos. A epístola aos Gálatas confirma isso: “Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus” (Gl 2:19). Visto que a lei não morreu, ela ainda fala.
[6]  N. do A.: Traduções modernas como RSV (Revised Standard Version, 1952) ou ESV concordam (Study Bible, 2008). ↑
Na primeira carta de Paulo a Timóteo, lemos: “a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente, sabendo isto: que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas, para os fornicadores, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros e para o que for contrário à sã doutrina, conforme o evangelho da glória do Deus Bem-Aventurado, que me foi confiado” (1 Tm 1:8-11). Este é o uso correto e apropriado da lei.
A lei é um padrão divino pelo qual o homem pode ser medido. A lei continua a julgar o comportamento e expõe, não apenas os pecados, mas o homem como pecador – ela sonda o coração do homem e manifesta sua própria natureza. “Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado não havendo lei” (Rm 5:13). Este mundo não pode alegar ignorância, assim como o antigo Israel não podia; Deus disse. “Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a fazeres” (Dt 30:14). Não é que o pecado não existisse antes da lei, pois certamente existia: “Assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5:12). Mas antes, “o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em mim a morte pelo bem[7], a fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse excessivamente maligno” (Rm 7:13). A lei expõe a verdadeira natureza do homem e revela que ele é totalmente pecador. Em sua segunda epístola aos Coríntios, Paulo se refere à lei como “ministério da morte” e “ministério da condenação” (2 Co 3:7, 9). A lei é um princípio de tratamento com o homem que, necessariamente, o destrói e condena.
[7]  N. do A.: “Pelo bem” é a lei; ela não é a culpada pelo pecado do homem. ↑
Por vezes, podemos ouvir dizer que a lei nos leva a Cristo. Isso parece estar apoiado no versículo: “De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos justificados” (Gl 3:24). A expressão “para nos conduzir” está em itálico, indicando que essas palavras foram adicionadas pelos tradutores; elas deveriam ter sido omitidas como muitas traduções o fazem. Para Israel, a lei foi seu aio até que Cristo viesse. A cruz é o fim da lei para o crente para que ele seja justificado pela fé. A lei pode ser o meio pelo qual alguém é convencido de sua pecaminosidade, mas a lei é totalmente impotente para trazer alguém a Cristo.
Antes de prosseguirmos para nosso último ponto, gostaria de considerar duas passagens que falam da abolição ou anulação da lei. A primeira está em Efésios: “Na Sua carne, desfez [aboliu – KJV] a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em Si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz” (Ef 2:15). A palavra grega para “aboliu” é a mesma encontrada no terceiro capítulo de Romanos para “anulamos” (Rm 3:31). Neste caso, se os tradutores tivessem usado “anulou” teria sido mais preciso. O apóstolo está falando da divisão que existia entre judeus e gentios. Os gentios eram “separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2:12). Foi a lei que estabeleceu esta divisão entre judeu e gentio. Na cruz, porém, isso foi inteiramente deixado de lado em Cristo. Deus criou um corpo sem distinção entre judeu e gentio – a Igreja. A Igreja não foi enxertada em Israel nem a substituiu – para que isso fosse verdade, necessariamente deveria ter sido no terreno da lei. A Igreja, entretanto, é um corpo distinto de Israel e totalmente à parte da lei; todos os que são salvos são nela introduzidos – tanto judeu como gentio. É no contexto dessa relação que o apóstolo fala da anulação da lei dos mandamentos. “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3:28).
No terceiro capítulo da segunda epístola aos Coríntios (JND), a palavra anular[8] aparece quatro vezes. O capítulo fala da Velha Aliança em contraste com a Nova. A lei foi introduzida com a Velha Aliança. Em todos os aspectos, a Nova Aliança é estabelecida em uma base infinitamente superior em comparação à Velha. Como Cristãos, desfrutamos das bênçãos da Nova Aliança, embora não sob sua letra (2 Co 3:6). É uma aliança que será feita com Israel e Judá[9] baseada na obra de Cristo no calvário (Hb 8:8; Lc 22:20). Tendo sido lançado o fundamento para a Nova Aliança, o escritor da epístola aos Hebreus declara: “Dizendo novo concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tornado velho e se envelhece perto está de acabar” (Hb 8:13). Embora Cristo não tenha anulado nem diminuído a lei em nenhum aspecto ao nos justificar, no que diz respeito ao Cristão, a lei foi anulada na cruz. O que uma lei (qualquer lei) tem a dizer a uma pessoa morta? Nada! Não estamos sob sua maldição: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-Se maldição por nós” (Gl 3:13); e quanto à justiça: “Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10:4). Esses versículos não contradizem Romanos 3:31, nem requerem que revisemos nosso entendimento. Tudo se encaixa em perfeita harmonia.
[8]  N. do A.: Nota do Tradutor: Nas versões da Bíblia em português em vez de anular, encontramos as palavras desvanecer, transitório (vs. 7, 11, 13), abolido, tirado, removido (v. 14). ↑
[9]  N. do A.: Isto é, os reinos literalmente unidos em um (Ez 37:16). ↑
