Origem: Revista O Cristão – A Ressurreição
A Esfera da Bênção Cristã
Os santos são as testemunhas da ressurreição do Senhor, mas nossa alma não se ocupa o suficiente com a estupenda importância do ato que introduziu uma total mudança na posição e no caráter do povo de Deus. É verdade que o homem sempre precisou do perdão dos pecados e, como pecadores, sempre foi necessário que eles nascessem de novo para entrar no reino de Deus. Contudo, antes da ressurreição, o perdão dos pecados não era entendido como uma bênção presente e garantida. A Terra e as bênçãos sobre ela, a duração dos dias e a abundância de riquezas, com o favor de Deus, eram o que delimitava a visão dos santos. Um Abraão poderia, na verdade, não obter tanto da herança prometida como apenas colocar seus pés nela, e um Davi poderia sofrer perseguição sob o governo de Deus, embora ele fosse o rei escolhido por Deus, mas a revelação dada a eles, respectivamente, da semente, em quem todas as nações seriam abençoadas e por quem a terra seria possuída, e do julgamento final dos ímpios e da libertação dos justos satisfazia a mente deles, de modo a continuarem contentes com Deus e com o que tinham. Assim também aconteceu com outros que abraçaram as promessas como as tendo visto de longe, mas que morreram em fé, não as tendo recebido. O Espírito de Deus em Hebreus 11 dá Seu próprio valor à fé que simplesmente esperava em Deus e, assim, a conecta com bênçãos invisíveis e celestiais. Mas não devemos supor que esses santos tivessem definitivamente uma porção no céu diante de suas mentes, pois isso não lhes foi revelado. Eles foram ensinados a procurar o tempo em que não haveria obstáculo para as bênçãos de Deus ao Seu povo aqui na Terra e quando os traços de pecado seriam removidos dela.
A mudança completa
Há uma mudança decidida e completa a esse respeito, quando a ressurreição é realizada. Não apenas o céu é apresentado como a esfera apropriada das bênçãos dos santos agora, mas a Terra é definitivamente recusada e o mundo é afastado, como impróprio para eles em seu verdadeiro caráter. Mais do que isso, o caráter e a extensão das bênçãos reveladas são agora encontrados naquilo que o Senhor Jesus desfruta como Filho do Homem ressuscitado e que subiu ao céu. Talvez possamos considerar os versículos 42-43 de Lucas 23 como ilustração disso. O que o ladrão realmente recebeu do Senhor foi uma figura da bênção dos santos agora, em contraste com o que ele propôs no versículo 42, que será a dos Judeus no dia futuro. “Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu Reino” (v. 42), era tudo o que as Escrituras levariam alguém a esperar, e assim esse homem, que estava sujeito aos ensinamentos do Espírito, foi guiado à mente revelada de Deus. Porém, “hoje estarás Comigo no Paraíso” (v. 43) é algo completamente novo. Literalmente, se refere ao estado de sua alma, sua condição de existência, imediatamente após a morte, mas em figura mostra o tipo de bênção que a Igreja tem em contraste com a outra. A ressurreição é tudo para a mulher no sepulcro, e Lucas 24 traz isso à tona.
Os anjos a anunciam (Lucas 24:4-8), quase censurando os discípulos por serem tão infiéis à sua bênção peculiar ao ainda se apegarem às esperanças terrenais, pois dizem: “Por que buscais o Vivente entre os mortos?” Ele não pode ser encontrado por nós de forma alguma neste mundo, e esperar encontrá-Lo aqui, ou procurar conectá-Lo com esperanças terrenais, é buscar o Vivo entre os mortos. “Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou”. Ele procurou, em Seu amor e cuidado, preparar o coração deles por meio de Suas palavras. O coração deles, como sempre, demorou a acreditar, mas eles “lembraram-se das Suas palavras”.
A dificuldade dos discípulos
Vemos a grande dificuldade que eles tiveram de apreender isso a princípio nos versículos 10-11, e parece, pelos versículos 13-25, que os dois a caminho de Emaús até voltaram às suas preocupações terrenais em um espírito que desistiu e negou a verdade de que toda a bênção deles estava conectada a Ele em Seu novo caráter e posição. Mas eles são imediatamente corrigidos, e o coração deles é relembrado, quando Ele é conhecido por eles como o Senhor em ressurreição, e eles imediatamente retornam ao seu caminho adequado, conectado com Esse (vs. 31-34) de Quem devem testemunhar. Deve-se observar que, embora o Senhor graciosamente tenha Se aproximado e dado a eles comunicações de Sua mente a partir da Escritura, de modo a causar exercício de coração neles, ainda assim, o fato de que o seu coração “ardia” dentro deles não deve ser confundido com comunhão com Ele, pois Sua presença naquela época era desconhecida para eles. Eles não estavam desfrutando inteligentemente de Sua companhia, e a verdadeira comunhão não poderia existir sem esse desfrute. Ao retornarem, eles descobrem que o mesmo Senhor pensou em outros de Seu povo que duvidavam, mas aqueles que não estavam tão prontos para agir em vontade própria entendem a verdade mais cedo e sem suas experiências. Os onze e os que estão com eles são encontrados reunidos, dizendo: “Ressuscitou, verdadeiramente, o Senhor”. Ele aparece entre eles para fortalecer e confirmar essa fé (vs. 35-43), e mostra como Ele próprio, conhecido como ressuscitado, é a chave de toda a Escritura (vs. 44-45), tornando-os testemunhas da verdade (v. 48) assim trazida à tona e conectando-os pelo dom do Espírito (v. 49) Consigo mesmo como Ascendido à glória (vs. 50-51), e verdadeiramente um objeto de adoração, bem como um tema de júbilo e louvor (vs. 52-53).
Assim, a bênção que é própria da Igreja é imensa. Ela não espera até que o reino manifeste a verdade a respeito de Cristo, mas mesmo agora entra nos pensamentos de Deus sobre Ele em virtude de conhecê-Lo tão de perto. Não apenas isso, mas também, a medida da glória na qual Cristo em ressurreição é conhecido estando muito acima da do reino, a extensão em que a sabedoria divina na Palavra é aberta é imensamente maior agora do que será naquela época.
F. J. R.